Ver a mesma realidade com novo olhar

 

Gosto de fazer minhas caminhadas pela manhã ou à tardinha. Esses horários são mágicos a quem gosta de fotografia. A luz do sol ajuda a compor a imagem. Diante de nossos olhos acontece um verdadeiro desfile de beleza, coisa que nem sempre a gente percebe. Aliás, corremos o risco de não perceber muitas coisas, pois andamos com a cabeça quente com os problemas da vida e nem prestamos atenção ao que nos cerca. A realidade em si é mágica e desconhecida. Só conhecemos, na verdade, uma parte da mesma, aquela que ela se permite mostrar-nos. E mesmo assim tudo depende de nossa disposição interior. A beleza pode desnudar-se diante de nós e perder o seu tempo ao não ser percebida.

“Vemos sempre, apenas, recortes da realidade. E saber quais são esses recortes depende da lente que estamos usando no momento. Uma paisagem sempre aparecerá com novo aspecto conforme a luz em que estiver mergulhada. No brilho do sol, ela parece diferente do que sob chuva ou à noite. E, no entanto, é sempre a mesma paisagem.

Todavia, a luz em que vemos a paisagem não é apenas a luz externa do sol, mas sempre também nossa própria luz, nossa disposição interna. Se estivermos bem, a paisagem nos parece mais bela. Se não estivermos bem, não a vemos direito, nada nela pode mais nos impressionar. Conheço pessoas que podem passear numa região magnífica e, absolutamente, não perceber a beleza ao seu redor. Estão tão fixadas em seus problemas que ficam cegas para a paisagem que as cerca. Então, a paisagem não está ali, realmente, para elas...” (1)

Jesus disse, certa vez: O teu olho é a lâmpada de teu corpo - Mt 6, 22. Por isso rezo para que meus olhos não sejam lâmpadas queimadas. Peço saúde para meus olhos do rosto e para os olhos da fé. Talvez, ainda não lhe tenha ocorrido que a fé também tenha olhos. Com eles podemos interpretar a mesma realidade sob um foco diferente. Para enxergar bem precisamos três coisas: Iluminação exterior, iluminação interior e iluminação que vem da fé. “Quando o sol brilha, isso também ilumina nossa disposição interna. E quando estamos de bom-humor o mundo nos parece mais iluminado. E o modo de ver da fé influencia nossa disposição interna, como também a impressão que temos da realidade”. Podemos ver a beleza escancarada diante de nós, mas só a fé nos permite conectar tal beleza à criação de Deus.

Hoje, peço a Deus que me dê sempre essa disposição interna para ver a beleza que me rodeia já que me deu a graça da visão. Peço ainda que não me deixe perder a fé, pois é com ela que estabeleço a conexão entre as criaturas com o Divino Criador.

 

1-     Grun, Anselm. A fé como reinterpretação. São Paulo, Loyola 2009. PP 18

Foto: Mina de Padre Libério, em S. José da Varginha. Arquivo pessoal