Donde me conheces?

Um dos Salmos mais bonitos da Bíblia canta o seguinte:

Tu me conheces quando estou sentado, Tu me conheces quando estou de pé. Vês claramente quando estou andando, quando repouso,  Tu também me vês. Se pelas costas sinto que me abranges também de frente sei que me percebes. Para ficar longe do teu Espírito, o que farei? Aonde irei? Não sei…(Sl 138).

Somente essa certeza já bastaria para nos consolar muito. Deus nos conhece. Mais do que isso, podemos dizer que Deus nos ama. Ele nos vê não como se fosse um fiscal disposto a cobrar pelas nossas faltas. Vê, através de seu divino filho Jesus, com olhar cheio de admiração e misericórdia. Entre o Pai criador e o homem que peca temos Jesus que salva. Ele pagou na Cruz o preço de nosso resgate. Por isso, em Cristo, somos novas criaturas.

É bom saber que Deus nos conhece, ama e quer nos salvar. Como se isso não bastasse Ele nos convida para participar de seus caminhos, do seu projeto de salvação. Jesus deixou isso bem claro quando chamou os discípulos para acompanhá-lo. O chamado de Deus, nem sempre é direto. Às vezes, Ele nos fala e convida através de terceiros. Foi assim, que aconteceu com Natanael (Jo 1, 43-51). O Evangelho deixa claro que Filipe aproximou-se dele cheio de alegria e falou do messias. “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José”. Entre Filipe e Natanael havia muita coisa em comum, como por exemplo, a fé que nutria a esperança de um messias. Mas, a notícia vinda assim, de repente, assustou Natanael. Como a maioria dos judeus de seu tempo, ele esperava que o messias viesse com demonstrações de poder e grandeza. Assim, poderia recuperar o prestígio de seu povo dominado sucessivamente por nações pagãs. Filipe, certamente, deveria estar enganado. Como poderia sair, logo de Nazaré, um lugar,  praticamente, desconhecido o salvador de sua gente?  Não é de assustar sua pergunta: “Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré”? Filipe não discute com ele. Não quer uma conversão forçada. Apenas o convida para ver com os próprios olhos. Talvez, em razão da amizade ele foi. Afinal, não custava nada, ver de perto, o tal personagem. Aproximando-se de Jesus, ouviu dele, um grande elogio à sua pessoa: “Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade”. Natanael perguntou: “Donde me conheces”? E Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, eu ti vi quando estavas debaixo da figueira”. Natanael tomou um susto tão grande que exclamou: “Mestre, tu és o Filho de Deus, Tu és o rei de Israel…”

O que chama a atenção nesse relato bíblico é o chamado. Na verdade, quem chamou foi Jesus. Mas, preferiu chamar pela boca de Filipe. Filipe foi o intermediário. Foi ele quem conduziu Natanael até Jesus. Isso, me faz pensar nos Filipes de hoje. Existem pessoas, cujo exemplo de vida e testemunhos cristãos, acabam levando outros a Deus. Talvez, todos nós, batizados, deveríamos imitar Filipe. Olhando  para nós, as pessoas deveriam ver Deus. Deus nos vê através de seu Filho Jesus. As pessoas deveriam ver Deus através de nós.

Poderia refletir também sobre a hora de Deus em nossas vidas. Natanael foi tocado por Deus quando estava sob a figueira, Zaqueu quando estava trepado na árvore, a Samaritana na beira do poço, Pedro quando estava na praia. E você? Qual foi a última vez que você se sentiu tocado por Deus? O que você estava fazendo? Por qual situação estava passando? Os caminhos de Deus são infinitos. Algumas pessoas são tocadas por Deus nos momentos mais difíceis. Na hora do acidente, na mesa de cirurgia, nas perdas… Deus sempre nos dá um sinal de sua presença. Talvez, faça tempo que Ele não lhe dá um sinal. Será? Quem sabe, você não esteja percebendo os muitos sinais que Ele envia continuamente para você?