Espada de Dâmocles

O Evangelho de São Mateus (MT 13,54-58) mostra a desconfiança dos conterrâneos de Jesus com relação à sua pessoa e ensinamentos. Lido friamente, corremos o risco de não perceber a carga dramática da situação.  Conviver com a desconfiança alheia parecia fazer parte do cotidiano de Jesus. Dele desconfiavam os mestres da lei e os fariseus. Chegaram a acusá-lo de chefe dos diabos!  Mas, até aí tudo bem. O pior, talvez, tenha sido a desconfiança dos conterrâneos e parentes.  Melhor do que ninguém, eles deveriam conhecer a grandeza daquele a quem viram crescer. Mas, infelizmente, ficaram presos às aparências e aos rótulos...

A desconfiança destrói qualquer relacionamento. Nem o homem mais poderoso do mundo pode ser totalmente feliz, tendo que conviver com a desconfiança. Isso é o que nos mostra o relato de Dâmocles:

Dizem que Dâmocles era conselheiro na corte de Dionísio o Velho, em Siracusa, na Sicília. O rei Dionísio vivia cercado de luxo e conforto. Nada lhe faltava. Isso era motivo de constantes comentários de seus súditos. Pensavam que ele era o homem mais feliz da face da terra! Cansado de tanta bajulação e cobiça o rei propôs trocar sua posição com um de seus servos durante certo tempo. Dâmocles foi o escolhido. Na primeira noite teve de tudo e pode gozar de todos os prazeres: Mulheres bonitas, vinhos de qualidade, boa música, etc. No outro dia desfrutou-se de farto almoço e almofadas macias para repousar a sesta. Ao olhar para o alto, no entanto, viu suspensa por um fio muito fino uma enorme espada. Ela apontava, exatamente, em cima de sua cabeça. Ao ver aquilo ficou apavorado e quis sair correndo. Mas, teve medo que a linha se rompesse diante do menor movimento. Por isso teve que permanecer ali, até mesmo, sem respirar... Dionísio explicou-lhe, finalmente, que convivia constantemente com aquela situação. A espada era a desconfiança. Com ela tinha que conviver o tempo todo. Um de seus criados poderia rebelar-se contra ele; um inimigo externo poderia invadir o seu reino ou até sua esposa poderia traí-lo... 

Ainda bem que, no caso de Jesus, nem todos desconfiam dele. Alguns são capazes de dar a vida por ele e pelo Evangelho. Mas, em diversos momentos de sua vida ele também passou pela experiência de Dâmocles. Até mesmo seus conterrâneos chegaram a desconfiar dele. Que pena! Eles poderiam ter sido os primeiros anunciadores da boa nova.  A desconfiança, no entanto, os impediu de ultrapassarem o nível das aparências...