Teologia afetiva
Uma “teologia afetiva” é o que penso, sobre o pensamento de São Francisco de Sales. Francisco de Sales nasceu em Sabóia (atual França...
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Uma “teologia afetiva” é o que penso, sobre o pensamento de São Francisco de Sales.
Francisco de Sales nasceu em Sabóia (atual França) em 1567. Viveu numa época muito difícil e desafiadora. A região onde trabalhou estava dominada pelos calvinistas e por guerras religiosas após o Concílio de Trento. Ele, no entanto, não perdeu a ternura ao falar de Deus e escrever sua teologia. Fala de Deus com mansidão e afeto. Isso se pode perceber em diversos escritos seus.
No capítulo IX – Livro I, do Tratado do Amor de Deus, aborda a relação entre Deus e alma humana, à luz do Cântico dos Cânticos. Como se sabe, o Cântico dos Cânticos é um livro bíblico que emprega uma perene representação dos amores de um casto pastor com uma pudica pastora, pois “que o amor tende à união”.
No livro dos Cânticos – Fazendo falar em primeiro a esposa, como a maneira de certa surpresa de amor, fá-la exprimir primeiro este anelo: Beije-me ele com um beijo de sua boca! (Cânt 1,1). Vedes Teótimo, como a alma, na pessoa dessa pastora, pelo primeiro anelo que exprime não pretende, senão uma casta união com seu esposo, como que protestando ser esse o único fim a que aspira e pelo qual respira; porquanto, pergunto-vos, que outra coisa quer dizer esse primeiro suspiro: Beije-me ele com um beijo da sua boca?
Em todos os tempos, como por instinto natural, o beijo foi empregado para representar o amor perfeito, isto é, a união dos corações, e não sem causa. Nos olhos, nas sobrancelhas, na fronte e em todo o resto do rosto nós fazemos sair e aparecer as nossas paixões e os movimentos que nossas almas têm comuns com os animais. Conhece-se o homem pelo rosto (Eclo 19,26) (...) a gente aplica uma boca à outra quando se beija, para testemunhar que quereria verter as almas uma dentro da outra reciprocamente, para uni-las de uma união perfeita; e por isso que, em todo o tempo e entre os mais santos homens do mundo, o beijo tem sido sinal do amor e dileção, por isso foi ele também empregado universalmente entre todos os primeiros cristãos, como o grande São Paulo testemunha quando diz aos Romanos e aos Coríntios: Saudai-vos mutuamente uns aos outros pelo santo ósculo (...)
Assim, como uma esposa, apaixonada pelo marido e desejosa de seus beijos, é a alma humana, que anseia pela união com Deus – Oh! Então, nunca alcançarei o prêmio pelo qual me esforço que é estar unida coração a coração, espírito a espírito, com meu Deus, meu esposo e minha vida? Quando será que derramarei minha alma no seu coração, e que ele verterá seu coração dentro de minha alma, e que, assim, ditosamente unida, viveremos inseparáveis?
Deus tem “necessidade” de amar e o homem de ser amado. Por isso, há uma conveniência entre o Criador e a criatura. O homem precisa da graça divina para ser aperfeiçoado e a divina bondade não pode exercer tão bem a sua perfeição fora de si como para com a nossa humanidade. Um tem grande necessidade e grande capacidade de receber o bem; e o outro grande abundância e grande inclinação para dá-lo. É difícil dizer quem teria mais contentamento nessa relação, se o bem abundante em se derramar e comunicar, se o bem faltante em receber e tirar. As mães que amamentam têm os peitos tão fecundos e abundantes que não podem passar muito tempo sem amamentar os filhos. Mamando, as crianças são premidas pela necessidade; amamentando-as as mães são premidas pela fecundidade... Assim, nessa relação de amor com Deus e somente nela a alma humana encontra sua plenitude.