São Vicente de Paulo e as crianças desamparadas
A realidade sobre a qual falaremos agora retrata a França, mais precisamente, a Cidade de Paris, nos idos de 1638. Nossa pesquisa foi bas...
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A realidade sobre a qual falaremos agora retrata a França, mais precisamente, a Cidade de Paris, nos idos de 1638. Nossa pesquisa foi baseada no livro citado abaixo (1). Nesse texto falaremos do trabalho de São Vicente de Paulo, junto às crianças desamparadas. Em sua imagem nós nos acostumamos a vê-lo com duas crianças: Uma nos braços e outra puxada pela mão. Essa foi uma representação muito feliz para aquele que doou boa parte de sua vida para defender os indefesos.
Talvez, um dos trabalhos de maior destaque na vida de São Vicente foi empenho que teve em salvar maior número de crianças, abandonadas aos montes, em seu tempo, um tempo foi cruel para os pequenos. Cerca de trezentas a quatrocentas crianças eram abandonadas por ano, em Paris e nos subúrbios. Entregues à própria sorte, grande parte delas morria de fome ou vitimadas pelos maus tratos. A vida das crianças pobres era pior que a vida dos animais! Algumas delas eram, simplesmente, compradas por mendigos ( por oito soles!), nas “casas das fraudas” e em seguida mutiladas para que pudessem atrair a piedade alheia. Nesse caso, tinham os bracinhos ou pernas quebradas e assim, pediam esmolas para os mendigos. Depois eram, simplesmente, abandonadas para morrer nas ruas de Paris.
O trabalho de São Vicente, junto às crianças começou em 1638, com Luísa de Marillac, uma espécie de “braço direito” que ele teve. Em carta dirigida à Luisa São Vicente dizia:
“Chegou-se à conclusão, na última assembleia (das Damas de caridade), de que a senhora seria convidada a fazer uma experiência com as crianças abandonadas, para ver se haverá meios de alimentá-las com leite de vaca e de assumir a responsabilidade por duas ou três com essa finalidade” (2).
Logo em seguida São Vicente, em outra carta pede que Luisa de Marillac compre outra cabra, porque a experiência será mais ampla. Logo em seguida aluga uma casa na Rue des Boulangers, para receber doze crianças. Várias Filhas da Caridade se instalaram ao lado dessa casa para cuidar das crianças. Mas, o número não parava de crescer. Quanto mais crianças recebiam mais apertadas financeiramente ficavam. Decepcionado com os ricos, São Vicente dizia:
“ Nada é certo, quando se depende dos grandes”.
Em janeiro de 1640, São Vicente após ouvir a assembleia com as “Damas da Caridade” resolveu acolher todas as crianças que necessitassem de abrigo e proteção. Através de carta comunicou tudo à Luisa, afirmando: “para esse trabalho, a senhorita não foi esquecida...”
O trabalho junto à infância abandonada mobilizou todas as criações de São Vicente: As Damas da Caridade, As Filhas da Caridade e os Padres de São Lázaro ( Congregação da Missão). Em 1645, Vicente resolveria o problema do alojamento, invariavelmente insuficiente em virtude das entradas, mandando construir ao lado da casa-mãe das Filhas da Caridade, na Rue Du Fauborg- Saint-Denis, treze casinhas contíguas para as crianças, graças a uma doação de Luís XIII ao morrer (3).
A caridade de São Vicente não estava centrada apenas nas criancinhas abandonadas. Mas, também naqueles adolescentes que cresciam junto dele sem ninguém que os adotasse. Isso obrigou as Damas da Caridade solicitar à rainha, em 1645, a doação de um castelo abandonado há anos, para abrigar os mais crescidinhos. Alguns não queriam aceitar o castelo tendo em vista que no passado ali acontecia grande prostituição. Mas, São Vicente era um homem prático e equilibrado para dar ouvidos às bobagens. Tratou-logo de ocupar o castelo para fazer nele o bem que fosse possível. A vocação médica de São Vicente fez com que ele se preocupasse muito com a higiene do local onde moravam as crianças. Também não deixou de ser educador procurando ensinar algum ofício para as meninas e meninos.
A atuação de São Vicente, e seus colaboradores junto às crianças foram imensos! Entre 1638 e 1643, aproximadamente 1,2 mil crianças já haviam sido assistidas pelas Filhas da Caridade segundo lembrou Vicente numa de suas conferências (4). Em uma carta a São Vicente, escrita por Luísa de Marillac, podemos perceber o seu grau de aflição por não ter o que oferecer às crianças:
“Meu honradíssimo padre, sei que sou inoportuna, mas, realmente estamos num ponto em que precisamos de ajuda sem demora, para não largar tudo. Ontem foi necessário lançar mão de todo o dinheiro da despesa daqui, mais ou menos 15 ou 20 libras, para comprar trigo para as crianças de Bicêtre, e ainda tomar emprestado para conseguir até 4 cesteiros; e nada receberemos antes de um mês. Por favor, é necessário que a assembleia das Damas de amanhã se faça alguma coisa”(5).
Diante dessa angústia para manter as crianças São Vicente reuniu-se com as Damas da Caridade, sabendo que muitas delas queriam largar tudo e fez um discurso histórico que reproduzo abaixo:
“Ora, pois, senhoras, a compaixão e a caridade levaram-nas a adotar essas pequenas criaturas como seus filhos; tornaram-se suas mães pela graça desde que as mães pela natureza as abandonaram; vejam então agora se também querem abandoná-las. Deixem de ser suas mães para se tornar agora suas juízas; sua vida e sua morte estão em suas mãos; vou recolher os votos e sufrágios; está na hora de baixar a sentença e saber se não querem mais ter misericórdia por elas. Elas continuarão vivas se as senhoras continuarem a cuidar delas caritativamente; e, pelo contrário, morrerão infalivelmente se as abandonarem; a experiência não permite a respeito qualquer dúvida” (6)
Esse discurso sofrido de São Vicente fez com que muitas permanecessem ajudando a obra. Pelo menos, momentaneamente as finanças foram equilibradas. Mas, o desafio sempre foi muito grande porque numa época de guerras e conflitos como aquela quem mais sofria era crianças e idosos.
O que diria São Vicente de Paulo, em nossos dias quando vemos tantas crianças ainda desprezadas, usadas para transportes de drogas ou simplesmente ignoradas pelos pais? O seu exemplo de amor às crianças deveria ainda mexer com o nosso coração. Ainda temos um grande número de crianças que pagam o pato pela separação dos pais, ou desamparo familiar. Que São Vicente nos ajude e proteja. Que seu exemplo de amor aos mais desamparados nunca seja esquecido por todos nós!
1- Guillame, Maie- Joelle. São Vicente de Paulo: uma biografia. 1ª edição. RJ: Record, 2017 – PP 305.
2- Obras Completas São Vicente de Paulo: Correspondência, colóquios, documentos, tomo I – Org. por Pierre Coste. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2012 - Carta a Luisa de Marillac – 1º de janeiro
de 1638 – PP 468.
3- Ver Op. Cit PP 310.
4- Ver Op. Cit PP 314.
5- Ver Op. Cit PP 316
6- Ver Op. Cit PP 317
Talvez, um dos trabalhos de maior destaque na vida de São Vicente foi empenho que teve em salvar maior número de crianças, abandonadas aos montes, em seu tempo, um tempo foi cruel para os pequenos. Cerca de trezentas a quatrocentas crianças eram abandonadas por ano, em Paris e nos subúrbios. Entregues à própria sorte, grande parte delas morria de fome ou vitimadas pelos maus tratos. A vida das crianças pobres era pior que a vida dos animais! Algumas delas eram, simplesmente, compradas por mendigos ( por oito soles!), nas “casas das fraudas” e em seguida mutiladas para que pudessem atrair a piedade alheia. Nesse caso, tinham os bracinhos ou pernas quebradas e assim, pediam esmolas para os mendigos. Depois eram, simplesmente, abandonadas para morrer nas ruas de Paris.
O trabalho de São Vicente, junto às crianças começou em 1638, com Luísa de Marillac, uma espécie de “braço direito” que ele teve. Em carta dirigida à Luisa São Vicente dizia:
“Chegou-se à conclusão, na última assembleia (das Damas de caridade), de que a senhora seria convidada a fazer uma experiência com as crianças abandonadas, para ver se haverá meios de alimentá-las com leite de vaca e de assumir a responsabilidade por duas ou três com essa finalidade” (2).
Logo em seguida São Vicente, em outra carta pede que Luisa de Marillac compre outra cabra, porque a experiência será mais ampla. Logo em seguida aluga uma casa na Rue des Boulangers, para receber doze crianças. Várias Filhas da Caridade se instalaram ao lado dessa casa para cuidar das crianças. Mas, o número não parava de crescer. Quanto mais crianças recebiam mais apertadas financeiramente ficavam. Decepcionado com os ricos, São Vicente dizia:
“ Nada é certo, quando se depende dos grandes”.
Em janeiro de 1640, São Vicente após ouvir a assembleia com as “Damas da Caridade” resolveu acolher todas as crianças que necessitassem de abrigo e proteção. Através de carta comunicou tudo à Luisa, afirmando: “para esse trabalho, a senhorita não foi esquecida...”
O trabalho junto à infância abandonada mobilizou todas as criações de São Vicente: As Damas da Caridade, As Filhas da Caridade e os Padres de São Lázaro ( Congregação da Missão). Em 1645, Vicente resolveria o problema do alojamento, invariavelmente insuficiente em virtude das entradas, mandando construir ao lado da casa-mãe das Filhas da Caridade, na Rue Du Fauborg- Saint-Denis, treze casinhas contíguas para as crianças, graças a uma doação de Luís XIII ao morrer (3).
A caridade de São Vicente não estava centrada apenas nas criancinhas abandonadas. Mas, também naqueles adolescentes que cresciam junto dele sem ninguém que os adotasse. Isso obrigou as Damas da Caridade solicitar à rainha, em 1645, a doação de um castelo abandonado há anos, para abrigar os mais crescidinhos. Alguns não queriam aceitar o castelo tendo em vista que no passado ali acontecia grande prostituição. Mas, São Vicente era um homem prático e equilibrado para dar ouvidos às bobagens. Tratou-logo de ocupar o castelo para fazer nele o bem que fosse possível. A vocação médica de São Vicente fez com que ele se preocupasse muito com a higiene do local onde moravam as crianças. Também não deixou de ser educador procurando ensinar algum ofício para as meninas e meninos.
A atuação de São Vicente, e seus colaboradores junto às crianças foram imensos! Entre 1638 e 1643, aproximadamente 1,2 mil crianças já haviam sido assistidas pelas Filhas da Caridade segundo lembrou Vicente numa de suas conferências (4). Em uma carta a São Vicente, escrita por Luísa de Marillac, podemos perceber o seu grau de aflição por não ter o que oferecer às crianças:
“Meu honradíssimo padre, sei que sou inoportuna, mas, realmente estamos num ponto em que precisamos de ajuda sem demora, para não largar tudo. Ontem foi necessário lançar mão de todo o dinheiro da despesa daqui, mais ou menos 15 ou 20 libras, para comprar trigo para as crianças de Bicêtre, e ainda tomar emprestado para conseguir até 4 cesteiros; e nada receberemos antes de um mês. Por favor, é necessário que a assembleia das Damas de amanhã se faça alguma coisa”(5).
Diante dessa angústia para manter as crianças São Vicente reuniu-se com as Damas da Caridade, sabendo que muitas delas queriam largar tudo e fez um discurso histórico que reproduzo abaixo:
“Ora, pois, senhoras, a compaixão e a caridade levaram-nas a adotar essas pequenas criaturas como seus filhos; tornaram-se suas mães pela graça desde que as mães pela natureza as abandonaram; vejam então agora se também querem abandoná-las. Deixem de ser suas mães para se tornar agora suas juízas; sua vida e sua morte estão em suas mãos; vou recolher os votos e sufrágios; está na hora de baixar a sentença e saber se não querem mais ter misericórdia por elas. Elas continuarão vivas se as senhoras continuarem a cuidar delas caritativamente; e, pelo contrário, morrerão infalivelmente se as abandonarem; a experiência não permite a respeito qualquer dúvida” (6)
Esse discurso sofrido de São Vicente fez com que muitas permanecessem ajudando a obra. Pelo menos, momentaneamente as finanças foram equilibradas. Mas, o desafio sempre foi muito grande porque numa época de guerras e conflitos como aquela quem mais sofria era crianças e idosos.
O que diria São Vicente de Paulo, em nossos dias quando vemos tantas crianças ainda desprezadas, usadas para transportes de drogas ou simplesmente ignoradas pelos pais? O seu exemplo de amor às crianças deveria ainda mexer com o nosso coração. Ainda temos um grande número de crianças que pagam o pato pela separação dos pais, ou desamparo familiar. Que São Vicente nos ajude e proteja. Que seu exemplo de amor aos mais desamparados nunca seja esquecido por todos nós!
1- Guillame, Maie- Joelle. São Vicente de Paulo: uma biografia. 1ª edição. RJ: Record, 2017 – PP 305.
2- Obras Completas São Vicente de Paulo: Correspondência, colóquios, documentos, tomo I – Org. por Pierre Coste. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2012 - Carta a Luisa de Marillac – 1º de janeiro
de 1638 – PP 468.
3- Ver Op. Cit PP 310.
4- Ver Op. Cit PP 314.
5- Ver Op. Cit PP 316
6- Ver Op. Cit PP 317
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, Boa tarde Padre, excelentíssimo trabalho, a tempos, procuro informações sobre São Vicente, para passar as crianças de catequese e nossa conferência, parabéns e obrigado.
ResponderExcluirO relato acima nos põe em uma condição de como somos miseráveis e egoísta, para com todos e conosco mesmo. Vivemos numa sociedade hipócrita em que: quando nascemos não trouxemos nada, quando morremos, não levaremos nada. E, no meio, brigamos por aquilo, que não trouxemos e nem levaremos. Concluo: se não fizermos algo ao próximo, por mais insignificante que seja, o que valeu nossa estadia por aqui?
ResponderExcluir..."O que diria São Vicente de Paulo, em nossos dias quando vemos tantas crianças ainda desprezadas, usadas para transportes de drogas ou simplesmente ignoradas pelos pais? O seu exemplo de amor às crianças deveria ainda mexer com o nosso coração. Ainda temos um grande número de crianças que pagam o pato pela separação dos pais, ou desamparo familiar. Que São Vicente nos ajude e proteja. Que seu exemplo de amor aos mais desamparados nunca seja esquecido por todos nós!"..
ResponderExcluirSão Vicente de Paulo foi um grande acolhedor dos pobres e principalmente das crianças necessitadas.
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