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sábado, 17 de novembro de 2018

Apocalipse


Num filme antigo que vi, certa vez, sobre Dom Bosco, uma cena ficou em minha memória. Dom Bosco, ainda criança andava sobre uma corda ligada entre dois muros. A criançada lá embaixo se organizava na torcida. Uns achavam que ele não daria conta de atravessar, outros apostavam que sim. Depois da façanha, bem sucedida, alguém lhe perguntou sobre o segredo dessa travessia. Ele disse que o importante era olhar para frente. Olhar para baixo poderia levá-la a queda.

Em minha infância eu ouvia que a cobra tinha um magnetismo capaz de atrair os passarinhos. Seria uma espécie de enfeitiçamento do qual os pobres bichinhos não tinham como se defenderem. Nunca soube se há verdade nessa fala. O que havia de certo é que os pássaros pulavam prá cá e prá lá diante da cobra talvez, querendo espantá-la para longe dos ninhos, onde estavam os filhotes. Nessa dança da morte muitos caiam, realmente, na boca da cobra que armava seu bote num momento de distração da vítima.

O que os dois fatos acima tem a ver com meu texto de hoje? – a resposta pretendo  dar agora, numa tentativa de explicar um pouco a literatura apocalíptica. Tal literatura sempre surgiu em momentos de grandes dificuldades na história do povo de Israel.  O objetivo dela era despertar a esperança. Ainda que tudo parecesse perdido, Deus não iria perder o jogo para os inimigos do seu povo. Na última hora  iria reagir e colocar a história nos eixos. Então, era importante, que as pessoas não olhassem para o próprio abismo e sim para o final. Na ponta da história Deus nos espera e nos dará a recompensa. Não devemos olhar para as cobras que nos atraem, mas colocar os olhos no céu onde Deus mora com seus anjos e santos.

O livro do Profeta Daniel, por exemplo, surge numa época de profundas dificuldades para o povo de Israel que estava ameaçado de perder a própria identidade diante da dominação grega que através de Antíoco Epifânio IV, um general militar, queria impor ao povo valores estranhos à sua cultura. Aproximadamente 170a C, um escritor muito inteligente criou a história de Daniel e projetou-a no passado, na época do exílio da babilônia, para falar do seu tempo atual. O texto visava despertar a esperança no povo que estava cansado de apanhar dos grandes. Deus com seu exército chefiado pelo Arcanjo Miguel, iria se manifestar em defesa desse povo. Mas, para isso era muito importante que o mesmo não perdesse a fé. É claro que isso continua valendo ainda hoje.

Sabemos que a história humana sempre foi marcada por contradições, luzes e sombras. Em alguns momentos, as nuvens parecem querer tampar o sol. E quando isso acontece muita gente fica perturbada. Salvando as devidas proporções acho que estamos vivendo um tempo assim. Nossos dias estão marcados pela violência, intolerância, fanatismo e mais uma porção de outras coisas desanimadoras. Diante desse quadro, muita gente parece perder a esperança. Alguns, chegam a perder a fé e a questionarem a validade dela  e da religião. Então, mais uma vez, precisamos buscar no apocalipse o revigoramento da esperança. O apocalipse não é um livro para falar do fim do mundo, mas do fim de um mundo injusto e cruel. Ele aponta também o nascimento de uma nova realidade marcada pelo amor, pela fé e pela solidariedade. Em outras palavras ele anuncia o que parece uma utopia. Utopia para mim não é algo que não existe. É algo assim como o horizonte que existe e eu posso chegar até lá. Mas, ele sempre se afastará mais um pouco. É algo parecido com o céu. Eu já posso tê-lo, mas, por enquanto, apenas, em parte. Em sua plenitude, eu espero tê-lo um dia. Mas, nesse dia eu e você também estaremos vendo Deus face a face.

6 comentários:

  1. Excelente texto. Vou usá-lo para minha reflexão. Obrigado por mais esta brilhante pérola!

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  2. Sua explicação foi ótima gostei muito do que o senhor disse isso mim ajudou bastante muito obrigado Deus te abençoe valeu padre

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  3. Boa reflexão. Vai ajudar bastante. Muito obrigado

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  4. Gostei demais! Realmente jamais devemos perder a fé e a solidariedade. Deus sempre vem em nosso auxílio nas tempestades da vida. Continue assim padre:Alegre, esperançoso e levando as maravilhas de Deus pra nós.

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