Num filme antigo que vi, certa
vez, sobre Dom Bosco, uma cena ficou em minha memória. Dom Bosco, ainda criança
andava sobre uma corda ligada entre dois muros. A criançada lá embaixo se
organizava na torcida. Uns achavam que ele não daria conta de atravessar,
outros apostavam que sim. Depois da façanha, bem sucedida, alguém lhe perguntou
sobre o segredo dessa travessia. Ele disse que o importante era olhar para
frente. Olhar para baixo poderia levá-la a queda.
Em minha infância eu ouvia que a
cobra tinha um magnetismo capaz de atrair os passarinhos. Seria uma espécie de enfeitiçamento
do qual os pobres bichinhos não tinham como se defenderem. Nunca soube se há
verdade nessa fala. O que havia de certo é que os pássaros pulavam prá cá e prá
lá diante da cobra talvez, querendo espantá-la para longe dos ninhos, onde
estavam os filhotes. Nessa dança da morte muitos caiam, realmente, na boca da
cobra que armava seu bote num momento de distração da vítima.
O que os dois fatos acima tem a
ver com meu texto de hoje? – a resposta pretendo dar agora, numa tentativa de explicar um pouco
a literatura apocalíptica. Tal literatura sempre surgiu em momentos de grandes
dificuldades na história do povo de Israel.
O objetivo dela era despertar a esperança. Ainda que tudo parecesse
perdido, Deus não iria perder o jogo para os inimigos do seu povo. Na última
hora iria reagir e colocar a história
nos eixos. Então, era importante, que as pessoas não olhassem para o próprio
abismo e sim para o final. Na ponta da história Deus nos espera e nos dará a
recompensa. Não devemos olhar para as cobras que nos atraem, mas colocar os
olhos no céu onde Deus mora com seus anjos e santos.
O livro do Profeta Daniel, por
exemplo, surge numa época de profundas dificuldades para o povo de Israel que
estava ameaçado de perder a própria identidade diante da dominação grega que através
de Antíoco Epifânio IV, um general militar, queria impor ao povo valores estranhos
à sua cultura. Aproximadamente 170a C, um escritor muito inteligente criou a
história de Daniel e projetou-a no passado, na época do exílio da babilônia,
para falar do seu tempo atual. O texto visava despertar a esperança no povo que
estava cansado de apanhar dos grandes. Deus com seu exército chefiado pelo
Arcanjo Miguel, iria se manifestar em defesa desse povo. Mas, para isso era
muito importante que o mesmo não perdesse a fé. É claro que isso continua
valendo ainda hoje.
Sabemos que a história humana
sempre foi marcada por contradições, luzes e sombras. Em alguns momentos, as
nuvens parecem querer tampar o sol. E quando isso acontece muita gente fica
perturbada. Salvando as devidas proporções acho que estamos vivendo um tempo
assim. Nossos dias estão marcados pela violência, intolerância, fanatismo e
mais uma porção de outras coisas desanimadoras. Diante desse quadro, muita
gente parece perder a esperança. Alguns, chegam a perder a fé e a questionarem
a validade dela e da religião. Então,
mais uma vez, precisamos buscar no apocalipse o revigoramento da esperança. O
apocalipse não é um livro para falar do fim do mundo, mas do fim de um mundo
injusto e cruel. Ele aponta também o nascimento de uma nova realidade marcada
pelo amor, pela fé e pela solidariedade. Em outras palavras ele anuncia o que
parece uma utopia. Utopia para mim não é algo que não existe. É algo assim como
o horizonte que existe e eu posso chegar até lá. Mas, ele sempre se afastará
mais um pouco. É algo parecido com o céu. Eu já posso tê-lo, mas, por enquanto,
apenas, em parte. Em sua plenitude, eu espero tê-lo um dia. Mas, nesse dia eu e
você também estaremos vendo Deus face a face.
Texto lindo Padre!
ResponderExcluirTexto lindo Padre!
ResponderExcluirExcelente texto. Vou usá-lo para minha reflexão. Obrigado por mais esta brilhante pérola!
ResponderExcluirSua explicação foi ótima gostei muito do que o senhor disse isso mim ajudou bastante muito obrigado Deus te abençoe valeu padre
ResponderExcluirBoa reflexão. Vai ajudar bastante. Muito obrigado
ResponderExcluirGostei demais! Realmente jamais devemos perder a fé e a solidariedade. Deus sempre vem em nosso auxílio nas tempestades da vida. Continue assim padre:Alegre, esperançoso e levando as maravilhas de Deus pra nós.
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