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domingo, 27 de janeiro de 2019

Eva, Sita e Pandora


Quando Deus criou o mundo Ele fez tudo de forma perfeita. Cada coisa foi criada da melhor maneira possível. Na hora de criar o homem Ele caprichou e o fez à sua imagem e semelhança, com exceção da inteligência. Botou o homem num jardim onde tinha jabuticaba, gabiroba, caqui, laranja madura e mais uma porção de coisas gostosas.  

O homem, no entanto, é meio reclamão desde a origem. Não demorou muito e ele já queria “um algo mais”.  Na verdade, nem sabia direito o que seria. Mas para Deus um pingo é letra. Ele entendeu e fez logo uma mulher. Mas não deixou o homem ver essa parte da criação. Tirou uma de suas costelas enquanto ele roncava e, morto de sono, Adão só sentiu uma cosquinha. Ao acordar viu uma belíssima loira com as costas de fora penteando os cabelos. Arregalou bem os olhos e disse em alto e bom som: - Agora sim! É osso! Eva só não saiu correndo porque tinha visto ele primeiro.  A mulher também é assim desde o início. Vê tudo primeiro. Ela já tinha avistado que na camisa do Adão faltava um botão. O homem quando enxerga bem só consegue ver vinte por cento da realidade.

Adão e Eva podiam fazer qualquer coisa do tipo,  comer doces variados e maçã de peito com mandioca.  Naquele tempo ninguém falava de diabete e colesterol alto. Podiam subir nas árvores, tomar banhos de cachoeira e fazer selfies à vontade. Só não podiam comer os frutos de uma única árvore no meio do paraíso. Bastou Deus desse essa ordem que Eva ficou morta de curiosidade! Não deu outra. Quando Adão saiu para caçar após o almoço, Eva correu para debaixo da árvore proibida. Lá encontrou uma serpente faladeira e o resto você já sabe... 

Pulando de cultura vamos encontrar outra mulher infratora que marcou a história da humanidade, a partir da Índia. Trata-se de Sita, mulher de Rama. Essa não foi criada por Deus. Ela sim era um avatar de Lakshmi, a deusa da fortuna, enquanto seu marido Rama era um avatar de Vishnu (Narayana).

Por intrigas palacianas Rama e Sita tiveram que buscar exílio na floresta durante um bom tempo. Naquela floresta, pelo que me consta, não tinha jabuticabas, pequi ou gabirobas... Só havia frutos exóticos que, apesar da esquisitice também eram muito saborosos. No quesito “curiosidade” Sita e Eva se empatam. Foi por causa da curiosidade que ela envolveu o mundo numa grande confusão.

Rama, certa vez, cortou a ponta do nariz de uma demônia atrevida que queria casar-se com ele à força, pois estava matando cachorro à gritos... Ela se chamava Surpanakha e era irmã de um  diabo feioso chamado Ravana. E põe feioso nisso! Ele tinha dez cabeças e dez pares de braços. Portanto, tinha vinte mãos. É só você fazer as contas para ver quantos dedos ele tinha e quantos chifres deveriam existir nesse emaranhado de cabeças. Ele mesmo não sabia por qual das bocas ria primeiro...

Ravana, para vingar-se de Rama, pela  maldade feita à sua irmã resolveu sequestrar Sita, esposa de Rama,  na floresta. É aí que entra a tal da curiosidade feminina.  Ravana transformou um de seus capachos num veado de ouro e o fez passear perto da casa de Sita. Ao ver o veadinho todo gracioso com um colar de pérolas no pescoço, Sita o desejou logo. Acordou seu marido Rama e pediu que ele capturasse aquele animal encantador. Seu cunhado Lakshmana , os alertou do perigo. Disse que aquilo poderia ser um disfarce diabólico. Mas, não adiantou. Sita insistiu tanto que Rama correu atrás do bicho com uma espingarda cartucheira. Ao ver que não conseguia capturá-lo vivo, deu um tiro certeiro. Naquela hora o bicho mostrou quem de fato era. Um enviado de Ravana. Mas, antes de morrer ele imitou a voz de Rama pedindo socorro. A voz foi ouvida por Sita. Então, ela pediu ajuda ao cunhado sem saber que tudo aquilo era uma armação para que ela ficasse sozinha no rancho.

Lakshmana, antes de sair atrás do irmão, rezou e traçou um círculo no chão. Disse que por nada desse mundo Sita deveria cruzar aquela linha. Mas, pouco adiantou. Assim que ele partiu apareceu no local um velho andarilho pedindo esmola pelo amor de Deus. Era Ravana disfarçado. Sita não desconfiou de nada. Para ajudar o velho pisou fora da faixa. Foi terrível! Naquela mesma hora foi sequestrada por Ravana e levada para o Reino de Lanka. E aí começa toda uma maratona percorrida por Rama para tê-la de volta. Mais uma tragédia por causa da transgressão.

Pulando para outra cultura, vamos aterrissar na Grécia antiga. Lá encontraremos mais um casal que viveu situação parecida. Trata-se de Prometeu e Pandora. Prometeu e Epimeteu eram dois Titãs que se encarregaram da criação. Epimeteu criava e Prometeu conferia para ver se estava tudo certo.  Para cada animal, Epimeteu deu uma qualidade: Unhas afiadas para a onça, força para o leão, velocidade ao leopardo... Na hora de criar o homem a caixinha onde se guardavam as qualidades estava vazia. Prometeu então cometeu um erro. Com ajuda de Minerva subiu ao céu e roubou o fogo do Sol (deus hélio). Deu o fogo ao homem, como prêmio de consolação. Com o fogo o homem que não tinha as mesmas unhas da onça podia produzir uma faca. Não tinha a mesma velocidade do leopardo, mas agora podia produzir uma flecha...

Ao tomar conhecimento do ilícito (usei essa palavra porque está na moda), Júpiter (Zeus), resolveu punir o homem. Fez uma mulher e o deu de presente! Sei que a história é bem machista. Mas, naquele tempo o feminismo não existia. O nome da mulher era Pandora. Ela era muito linda e topava umas paradas (essa palavra também está na moda) legais. Acontece, que Prometeu havia guardado em sua casa uma caixinha cheia de coisas ruins tipo dengue, gripe suína, rubéola...

Certo dia, ao ajeitar os móveis, Pandora encontrou a tal caixinha. Ficou morrendo de curiosidade para saber o que continha, pois estava bem trancada. Mas, o que uma mulher curiosa não consegue? Via de regra consegue mais informações que o FBI. Mas, ao abrir a caixinha espalhou todas as coisas ruins pelo mundo. Por isso, estamos sofrendo até hoje. Essa é uma resposta fácil para os problemas atuais.
O leitor pode pensar que estou fazendo mal juízo da mulher. Mas, isso não procede. Deus escreve certo por linhas tortas. Por causa de Eva, vencida pela serpente, ganhamos Jesus que nos veio de Maria e venceu a serpente. Por trás do sequestro de Sita o que percebemos é a realização do Dharma. Por causa do roubo do fogo, hoje temos um grande  parque tecnológico.

Aquilo que não entendemos, ou que nos pareça algo mal à primeira vista, nem sempre é mal. Existem razões acima das nossas. Graças à mulher a vida floresceu no mundo. É bom lembrar que a terra também é vista como elemento feminino (Pacha Mama). Ela é a grande mãe, às vezes, tão maltratada por seus filhos! Mas, apesar disso, é sempre generosa ao menor sinal de delicadeza para com ela.

2 comentários:

  1. Brilhante a escrita padre Gabriel!

    Suscitou que agora quero aprender um pouco mais das estórias da criação de outras culturas em detrimento da percepção diferenciada das realidades a que nos nos remetem!

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  2. ...."Aquilo que não entendemos, ou que nos pareça algo mal à primeira vista, nem sempre é mal."...

    Deus no controle de tudo!

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