Jesus sobe no barco do fracassado

Ser amigo dos amigos somente nas horas alegres não vale. Nas horas de provação é que mais precisamos de amigos. Isso vale para diversos tipos de relação. Certa vez, uma mulher me confidenciou, com o coração cheio de tristeza: - Bastou que o médico me desse o diagnóstico da doença que meu marido foi se esfriando comigo e acabou arranjando uma namorada...Talvez, você pense que eu inventei essa história apenas para compor o texto. Quem dera, fosse por isso! Infelizmente, já me deparei com diversas situações parecidas. Existe um provérbio que diz algo assim: Quando o navio está afundando os ratos são os primeiros a pularem da embarcação... Pois é. Com o diagnóstico fatídico da esposa, o marido em vez de ajudar, resolveu pular fora...

No Evangelho de São Lucas (5,1-11) existe uma passagem onde mostra que Jesus faz o contrário do que narramos acima. Ele tem coragem de entrar no barco de quem está enfrentando as maiores dificuldades. O fato se deu assim: Jesus estava falando à multidão que o comprimia na beira do Lago de Genesaré. Nisso viu duas barcas e pediu para entrar em uma delas, a de Simão Pedro. O fato deve ter acontecido na parte da manhã, pois os pescadores costumavam pescar durante a noite, e o texto diz que eles estavam consertando as redes. Pelo visto, além de nada pescar as redes rasgaram-se durante a pesca. Pedro e seus companheiros não pescavam por lazer. Pescavam por necessidade. Precisavam do peixe para pagar as contas.  Fico imaginando o estado psicológico de quem trabalhou a noite toda esperançoso de arranjar algo para sustentar a família e nada conseguiu. Na testa deles estava escrito: - “frustração”! E olhe, que Pedro era pescador profissional!

Jesus sobe no barco de Pedro e esse gesto fez toda a diferença na vida daquele pobre pescador frustrado pelo insucesso do trabalho.  Essa situação, em menor ou maior escala, acaba sendo vivida por cada um de nós. O rompimento da barragem de minérios que aconteceu recentemente, em Brumadinho, deixou muita gente sem chão. Jesus precisa subir ao barco daquela gente para que eles possam tocar suas vidas sem naufragar num mar de tristezas!

Pedro estava de olho nos peixes, mas, Jesus estava de olho em Pedro. Depois de certo tempo, pediu a Pedro que avançasse com o barco para águas mais profundas. Isso me lembra da expressão “Igreja em saída”, do Papa Francisco. Avançar para águas profundas é sair da “zona de conforto” e buscar um novo jeito de evangelizar. Como se não bastasse essa orientação, pediu a Pedro que lançasse as redes sobre as águas novamente. No lugar de Pedro, eu não sei se seria capaz de obedecer ao Mestre. Vejam bem: - O pescador ali era Pedro. Era ele  quem conhecia o mar palmo a palmo. Naquela altura o estômago, certamente, reclamava por comida e o corpo por uma boa cama. Afinal, eles haviam trabalhado a noite toda!

Pedro é uma pessoa dócil. Por isso, afirmou: Mestre, nós pescamos a noite toda e nada pegamos. Mas, em atenção à sua palavra vou lançar as redes novamente... Aí é que está a grandeza de Pedro: Em atenção à sua palavra... Vale a pena pensar um pouco mais sobre isso. Será que damos a devida atenção à Palavra de Deus?

Após lançar as redes Pedro teve um grande susto. Nunca vira tantos peixes em sua vida! Naquela hora percebeu a grandeza de quem estava em seu barco. Mediu  seu próprio tamanho e preferiu dizer: - Senhor afasta-te de mim, pois eu sou um pecador!

Como Pedro estava enganado! Foi, justamente, pelos pecadores que o “Verbo de Deus se fez carne”. O primeiro interesse de Jesus é salvar os pecadores, pois não são os sãos, que precisam de médico e sim os doentes. Por isso, Jesus subiu naquele barco. Quando Pedro sentiu o fracasso profissional e teve medo do barco de sua vida afundar, Jesus veio ao seu encontro e, não apenas restaurou-lhe as esperanças, como o fez mudar de profissão. Desde aquele dia passaria a ser pescador de homens. Nesse caso, o seu fracasso foi bendito. Graças a ele recebeu em seu barco Aquele que mudaria completamente sua vida. Deus sabe o que faz e se tem uma coisa que Ele faz bem é cuidar de seus filhos, sobretudo, daqueles que mais sofrem.