Pensaram que Paulo fosse deus

Não é sem razão que o Apóstolo Paulo foi chamado de Apóstolo das Nações. Ninguém melhor do que ele soube semear, em terras distantes, as sementes do Evangelho. Percorreu, com muitas dificuldades, uma vasta região do mundo antigo levando a todos a palavra de Jesus. Em sua primeira viagem missionária, juntamente, com Barnabé, visitou inúmeras cidades. Em Listra (na atual Turquia),  aconteceu um fato curioso. Após a cura de um homem aleijado, que nunca havia andado, criou se um grande alvoroço. Paulo foi confundido com Hermes e Barnabé com Zeus, dois importantes deuses da mitologia grega. 

Sobre isso, assim nos diz o texto bíblico:

Vendo o que Paulo tinha feito, as multidões levantaram a voz, em língua licaônica: “Os deuses desceram até nós em figura de homens”! E chamavam Barnabé de Zeus e Paulo de Hermes, porque era Paulo que tinha a palavra. O sacerdote de Zeus, cujo templo, ficava na entrada da cidade, levou até a porta touros ornados de grinaldas, e de acordo com as multidões queria oferecer um sacrifício. Quando os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isso, rasgaram os mantos e foram para o meio da multidão, gritando e repetindo: Homens, o que vocês estão fazendo? Nós também somos homens e sofremos como vocês. Anunciamos para vocês a Boa-Nova, para que deixem esses ídolos vazios e se convertam ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe (At 14,11-15).

Não dá para ler essa passagem sem imaginar o cenário. Imaginem o alvoroço causado numa pequena cidade com a seguinte manchete: “Deuses visitam a cidade e são recebidos com grande comitiva”. Os tabloides, se é que havia tabloides, naquele tempo,  se esgotaram, rapidamente, nas bancas. Afinal, quem não quer se aproximar de uma divindade. Fosse hoje, muita gente estaria ali, para uma cobertura ao vivo...

Mas, quem foram esses dois deuses com os quais os apóstolos foram confundidos?

Zeus é o mais importante deus do panteão helênico. É o deus da luz e da claridade. Ele preside as manifestações celestes e comandam as chuvas e raios. Mantém a ordem e a justiça no mundo. É o distribuidor dos bens e dos males. Zeus pertence à segunda geração divina. É filho do titã Crono e Reia. Crono foi advertido por um oráculo que um dos seus filhos o destronaria. Para evitar que isso acontecesse devorava seus filhos assim, que  nasciam. Ao nascer o sexto filho (Zeus), Reia resolveu escondê-lo do pai. Zeus nasceu durante a noite. Na manhã seguinte Reia embrulhou uma pedra em panos e entregou a Crono. Esse, com paladar duvidoso,  devorou a pedra pensando que fosse o recém nascido.

Escondido do pai Zeus foi criado na região de Creta, alimentando-se com o leite de uma cabra (a Ninfa Almatéia) e com mel. Na idade adulta quis conquistar para si  o poder do pai. Aconselhou-se com Métis (prudência), e essa deu-lhe uma droga para que fosse oferecida a Crono. Assim, que Crono bebeu a droga, acabou vomitando todos os filhos que havia comido anteriormente. Junto com os irmãos Zeus lutou contra o pai e acabou vencendo a luta ao final de dez anos! Para obter essa vitória contra o pai, Zeus seguiu os conselhos de Geia e libertou do Tártaro os Ciclópes e os Hecatónquiros que Crono aí os aprisionara. Os Ciclópes deram para Zeus o trovão e o raio, que tinham forjado; deram a Hades o capacete mágico, que o tornava invisível e para Posidon o tridente cujo agito podia estremecer a terra e o mar. Após o combate, os deuses partilharam o poder ficando assim: Zeus obteve o céu, Posídon, o mar e Hades o mundo subterrâneo. Zeus teve diversas mulheres e, além disso, obteve a preeminência sobre o universo. Vê-se a partir daí que ele não era pouca coisa não. Sua imagem era representada de forma altiva e com autoridade.

Ao contrário de Zeus, Hermes era representado de forma jovial. Sua história não é menos interessante. Era o porta voz dos deuses e, por isso, falante por natureza. Daí a ser confundido com o Apóstolo Paulo, foi um pulinho. Hermes era filho de Zeus e Maia. Desde criança possuía temperamento agitado. Conseguiu sair do berço e fazer uma travessura desviando parte do rebando de Admeto, que seu irmão Apolo pastoreava na Tessália. Para esconder os rastros das vacas ele amarrou uma vassoura à cauda de cada uma. Dos animais roubados tirou dois e sacrificou-os aos deuses, dando um bom pedaço de carne para cada um dos doze deuses principais. Acho que Hermes foi professor de muita gente em Brasília...

Depois dessa proeza antes de se esconder matou uma tartaruga que estava de bobeira na entrada de sua gruta. Com as tripas dos bois sacrificados construiu cordas e usou o casco da tartaruga para fazer uma lira. Usando de suas artes de adivinhação, Apolo acabou descobrindo o esconderijo do gado roubado. Mas, ao ouvir o som da lira ficou tão encantado com o instrumento que acabou trocando o gado naquela nova invenção.

O tempo passou e Hermes acabou inventando outro instrumento: A flauta Pã. Apolo, encantado pelo instrumento adquiriu-o do irmão. Dessa vez, além do gado ofereceu o bastão de ouro (caduceu) e também o dom da adivinhação que possuía. Ao ver as habilidades de Hermes Zeus o empregou como porta voz da presidência do Céu. À semelhança do Arcanjo Gabriel, Hermes tornou-se o responsável para comunicar aos homens todas as decisões dos deuses.  

Não sei onde os habitantes de Listra encontraram as semelhanças entre os dois deuses acima e os Apóstolos Barnabé e Paulo. Talvez, tenha sido por causa da grande autoridade que emanava dos Apóstolos. Além disso, eles viram a realização de um milagre. Isso não é coisa que acontecia todo dia. Naquele tempo não tinha transmissão de culto neo pentecostal pela TV. Hoje, ninguém mais se assusta com “milagres” até porque a questão foi banalizada. Recentemente, vi um "grande" testemunho de “milagre” na Tv. A dita cuja dizia que, após muitos dias sem usar o banheiro, conseguiu se desencalhar “milagrosamente” após ver o culto x na TV.  Segundo a depoente, isso aconteceu, naturalmente, sem auxilio de nenhum laxante conhecido. Ela apenas sintonizou no canal X e o “milagre” aconteceu. Foi automático. Naquela hora, automaticamente  desliguei a TV. 

Valha-me Deus!