Mitologia Africana: Xangô
Xangô era filho de Yamase e Oranian, Rei de Oyó, que por sua vez era casado com a filha do Rei Elempê, do Território de Tapá. É o irmão...
https://ggpadre.blogspot.com/2019/06/xango-era-filho-de-yamase-eoranian-rei.html?m=0
Xangô era filho de Yamase e
Oranian, Rei de Oyó, que por sua vez era casado com a filha do Rei Elempê, do
Território de Tapá. É o irmão mais jovem de Dadá-Ajaká e de Obaluaê.
Durante sua infância em Tapá,
Xangô só pensava em encrencas. Era colérico, mandão e briguento. Depois de
crescido passou a andar armado com um machado de duas laminas (01). Num saco de
couro carregava a pedras de raios que usava para assustar ou destruir os
adversários. Carregava também os elementos do seu poder, que ele engolia para cuspir
fogo na hora conveniente. Usando essas ferramentas ele conquistou o Reino de
Kossô. Mas, depois de se tornar rei foi reconhecido como um bom rei pelos seus
súditos. É considerado também o terceiro rei de Oyó, atual Nigéria.
Xangô era muito vaidoso. Trançava
os cabelos assim como as mulheres, usava brincos de argolas nas orelhas,
braceletes e colares. Sua presença encantava as mulheres. Por isso tinha três:
Iansã foi sua primeira esposa. Ele a tomou de Ogum, seu irmão; Oxum foi a
segunda e Obá, a terceira. Certa ocasião, querendo experimentar uma nova
fórmula para lançar raios, subiu a um monte acompanhado apenas de Iansâ. Na hora
de lançar os raios (2) esses foram tão poderosos que queimaram o seu palácio
com tudo o que havia. Em seu palácio
havia cem colunas de bronze e um exército de cem mil cavaleiros! Magoado com aquele desastre faraônico
provocado por ele mesmo bateu forte com os pés no chão e afundou-se pela terra
à dentro. Transformou-se em Orixá. Iansâ, sua esposa, não aguentando a solidão
teve o mesmo fim. Obá e Oxum transformaram-se em rios que ainda hoje percorre
chorando os solos africanos.
Os sacrifícios para Xangô,
normalmente, eram celebrados colocando pedras de raio sobre um pilão (odó) e
derramando sangue de carneiro sobre elas para que Xangô nunca perdesse suas
forças. O carneiro, pela velocidade de sua chifrada, era o animal preferido para
o sacrifício a Xangô, pois ele mesmo tinha a velocidade do raio. Os filhos de
Xangô, chegando ao local do culto curvavam-se, diante das pedras de raio
(representantes do Orixá). As festas de Xangô eram solenes e demoradas.
O culto a esse Orixá é muito
popular no Brasil e nas Antilhas. Em Recife, seu nome serve para designar o
conjunto de cultos africanos praticados em todo o Estado de Pernambuco. Na
Bahia, diz-se que existem doze Xangôs. Seus
devotos usam colares de contas vermelhas e bancas como na África. Seu dia de
culto é quarta feira. No sincretismo brasileiro, foi confundido com São Jerônimo
e em Cuba com Santa Bárbara. O arquétipo de Xangô é o das pessoas voluntariosas
e enérgicas; das pessoas que possuem elevado sentido de sua dignidade.
Sabemos que o Brasil é um dos
países com alta incidência de raios por causa de suas condições atmosféricas. Daí
se pode concluir que o culto a Xangô, foi bem aceito. Quando o céu está raivoso
é melhor não comprar briga com as divindades. Lembro-me, que, em minha infância,
mamãe não se cansava de invocar São Jerônimo e Santa Bárbara durante as chuvas com
raios e trovoadas. A gente morria de medo de ter a casa atingida por um
daqueles raios. Na verdade, a gente tinha mais medo dos trovões. Parecia que
Deus estava com raiva da gente...
Os negros que vieram da África
tinham os mesmos medos e receios. Mas, como tivessem religiões diferentes da
religião cristã, acabavam invocando os seus Orixás. No fundo todos se entendiam
e, por causa do medo, acabaram aproximando-se, os dois sistemas de crenças.
O itã (narrativa oral) abaixo, narra como Xangô foi reconhecido como
Orixá da justiça, algo que ainda precisamos bastante em nossos dias:
Xangô e seus homens lutavam contra inimigos terríveis. Seus guerreiros
capturados pelo inimigo eram torturados e perdiam as vidas. As atrocidades do
exército inimigo não tinham limites.
Desesperado com o fracasso de seus soldados Xangô subiu ao alto de uma
pedreira para pedir ajuda a Orunmilá. Irado começou a bater o machado na
pedreira. Os raios que saíram dali mataram boa parte dos soldados inimigos. A outra
parte dos sobreviventes foi perdoada por Xangô. O seu senso de justiça falou
mais alto que o senso de vingança do inimigo. A partir daí ele é invocado como
o modelo de justiça. Ao longo dos séculos os homens recorrem à sua proteção
para resolver todas as pendências judiciais.
Muitas e diversas narrativas
sobre Xangô, ainda poderiam ser contadas. Mas, isso ficará para outra ocasião.
1-
Oxé = machado de duas laminas. Na verdade um objeto
de pedra (èdun àrá = machado neolítico). Uma casa atingida pelo raio de Xangô
era considerada infame. Por isso, o dono deveria pagar alto valor aos
sacerdotes de Xangô para que eles procurassem a “pedra de raio” ou pedra de
Xangô, profundamente enterrada no local. Naquele tempo algumas pedras, pelo
alto teor de ferro talvez atraísse mesmo os raios. Hoje temos muitos mais
objetos metálicos dentro de nossas casas do que simples pedras na natureza.
2-
Zeus, deus da mitologia grega, também era
representado com raios nas mãos. Pégasus, o seu cavalo alado, carregava os seus
raios. Com uma águia Zeus recuperava os raios depois de serem lançados.
Obras consultadas para esse artigo:
Prandi, Reginaldo. Mitologia dos
Orixás. SP. Cia das Letras, 2001
Verger, Pierre-Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª
edição. Salvador, BA, Corrupio, 1997. Pp. 14.
__________________ . Orixás, deuses Iorubás, na África e no
Novo Mundo. 5ª Edição, Salvador, Corrupio. 1997. PP 86.