A cura da sogra de Pedro – Lc 4, 38-44

 

Depois de curar uma porção de gente na sinagoga de Cafarnaum, Jesus se deslocou para a casa de Pedro que estava situada naquelas imediações. Chegando lá, também não teve descanso pois, o povo foi atrás dele. Depois que o sol se pôs uma grande multidão o procurou ansiosa por curas e milagres. Jesus atendeu a todos, afinal, Deus não tira folga! À noite, quando cessam as atividades humanas, Deus entra em ação para socorrer aqueles que mais precisam dele, à semelhança das mães que não conseguem dormir sabendo que um dos filhos está doente. Nosso Deus que não dorme e nem cochila (Sl 121,4) age onde não conseguimos agir. Sendo a própria luz, a escuridão para ele não existe.

Para os antigos gregos a noite era uma deusa que punha medo e assombrava as pessoas. A deusa Nix representava tudo o que havia de mais sombrio e doloroso na convivência humana. Somente algumas vezes, foi chamada de “Eufronte” e “Eubulia”, isto é, “mãe do bom conselho”, haja vista a possibilidade de reflexão que a noite nos proporciona. Alguns, ainda hoje, dizem que o travesseiro é um bom conselheiro. Mas, na maioria das vezes, Nix representava, através de seus filhos, o desequilíbrio, demência ou sedação...(1)

Para muitas pessoas, sobretudo, para aquelas que padecem de enfermidade a noite costuma ser um terror. O tempo marcado pelo tic-tac do relógio demora uma eternidade para passar e só resta ao enfermo ouvir a sinfonia dos galos e silêncio. Aquela noite, na casa de Pedro aconteceu algo bem diferente. Muitos dos que foram lá, voltaram para suas casas curados. O encontro com Jesus foi algo, verdadeiramente, transformador.

A Igreja deveria ser como a casa de Pedro, um espaço acolhedor onde as pessoas, após se encontrarem com Deus, voltassem revigoradas para suas rotinas.  Naquela noite, Jesus preferiu a casa à sinagoga, para realizar suas curas e milagres.  No local havia uma mulher enferma, cujo nome não aparece no texto. Era a sogra de Pedro que sofria de uma doença que a incapacitava ao serviço. A doença nos amordaça e tira de nós o ânimo para as tarefas do dia a dia. Alguns ali, pediram a cura para a enferma. Ela mesma não pediu nada, talvez, não quisesse incomodar Jesus ou tirar a vez de outros mais necessitados de cura do que ela. Mas, Jesus foi ao seu encontro, tomou-a pela mão e a curou. O texto diz que, “imediatamente,” ela  pôs-se a servi-lo. Aqui constatamos um grande exemplo de gratidão. Quantas vezes Deus nos curou e nós, simplesmente, viramos-lhe as costas? Cheia de gratidão pela cura obtida, a sogra de Pedro procurou um jeito de retribuir a graça alcançada.  Agindo assim, nos ensinou que não  devemos buscar milagres só para o nosso bel prazer. Eles nos libertam das amarras, seja doenças ou outros problemas, para melhor servirmos a Deus.

Jesus não fazia milagres para ganhar publicidade e nem precisava disso. Às vezes, até recomendava segredo após realizar suas curas. Fazia milagres para que as pessoas pudessem servir a Deus com alegria e liberdade. Os seus milagres serviam para manifestar o poder salvador de Deus. Em contrapartida exigia um pouco de fé, ainda que incipiente, das pessoas beneficiadas. A fé levava, e ainda leva, aos milagres. Os milagres, necessariamente, não levam à fé. Para quem quer acreditar nenhum milagre é necessário, mas para quem não está com essa disposição nenhum milagre basta, por maior que ele seja.

As doenças, de alguma forma, nos escravizam e nos impedem de agir livremente. Só quem está preso a uma cadeira de rodas ou numa cama entenderá isso. Para tais pessoas o direito de ir e vir não é algo tão simples. Por isso, Jesus dedicava um carinho todo especial aos enfermos. Mesmo cansado, após um dia de trabalho árduo, tirava tempo para acolher, abençoar e curar.

Diante de tantos milagres grandiosos relatados nos evangelhos (Os sinóticos enumeram 30 e João 05!), a cura da sogra de Pedro nem chama muito nossa atenção. Esse milagre parece pequeno e não realiza algo extraordinário. Devemos compreendê-lo, no entanto, em vista do resultado. Após curada, ela pôs-se, a servi-los. O milagre, nesse caso, desencadeou uma missão, ou seja, a missão de servir a Deus. Por isso, valeu a pena. Oxalá tivéssemos a mesma atitude da sogra de Pedro! Infelizmente costumamos agir de forma contrária: Deus faz grandes milagres em nossas vidas e nossos corações continuam tão duros quanto antes. Que pena!

 

 1-      http://ggpadre.blogspot.com/2020/10/os-filhos-de-nix.html

Imagem de lagrafika por Pixabay