Um mal entendido
Isso me ocorreu faz tempo, quando eu era jovem e, supostamente, poderia oferecer algum risco à quem não me conhecia. Fui premiado pela vid...
Isso me ocorreu faz tempo, quando eu era jovem e,
supostamente, poderia oferecer algum risco à quem não me conhecia. Fui premiado
pela vida que me concedeu o infortúnio de fabricar muitos cálculos renais, as
famosas pedras nos rins que, por um bom tempo, foram minhas inseparáveis
companheiras. Quem já teve cólica renal compreenderá, perfeitamente, as agruras
que passei. Hoje, graças a Deus, esse túnel ficou para trás e espero que, pela frente,
só encontre viadutos...
Naquela época, morava só, como ainda hoje, coisa que não me
causa nenhum sofrimento. Sem a mínima demagogia, gosto de minha própria
companhia. Na verdade, eu morava só com meus dois rins que, de vez em quando,
reclamavam por mais inconveniente que fosse o horário. Hoje, mesmo após muitos
anos, ainda me pego fazendo declarações de amor aos meu rins. É difícil se
acostumar com uma situação assim, pois mesmo quando você está em clima de festa
e, nem de longe, espera um contratempo sente algo como se fosse uma punhalada
pelas costas. Cólica renal é uma espécie de desmancha prazeres.
Na época desse meu tormento, eu morava em Igarapé e, para
satisfação dos mais curiosos, Getúlio Vargas já havia sido sepultado após o
tiro que ele mesmo se deu com o único objetivo de “sair da vida e entrar para a
história”. Mas, como eu não queria
nenhuma coisa nem outra deveria lutar para fazer as pazes com meus rins. Certa
noite, quando menos esperava eles reclamaram. Era alta madrugada e não havia
Buscopan Composto ou sem compostura, que os acalmasse. Após um longo suplicio,
pequei o carro e rumei para Betim, para o hospital mais próximo. Mal consegui
chegar e adentrei ao recinto sem pose, classe ou compostura. O pessoal da
recepção compreendeu logo minha situação mas, como não havia vaga no hospital
fui colocado na ala feminina algo compatível com quem estava prestes a dar à
luz!
Uma vez medicado a dor deu um alivio momentâneo para voltar logo
em seguida. Como a campainha, próxima a meu leito estava queimada tive que
apelar às vizinhas para chamar a enfermeira. De onde estava, dava para ver uma
senhora de meia idade, com cara de
poucos amigos que, pelo jeito, tinha útero mas, não tinha rins e muito menos
coração! Pela falta de escolha foi a ela que recorri: Minha senhora, falei com todo respeito e toda a dor do universo, a sua
campainha está funcionado? Ao ouvir minha “abordagem” ela fechou a cara e
puxou o cobertor sobre si. Acho que pensou que seria uma descaração. A gente
pode perder a classe, a pose e a compostura, mas, jamais o senso de humor,
pensei. Por isso, acrescentei logo, correndo um enorme risco de apanhar: Minha senhora, a campainha que me refiro é
essa sobre o seu leito, pois a outra eu imagino que já não funciona mesmo...
E tenho dito! Agora seria só esperar a surra... Mas, surra que nada! O riso foi
geral e acabou despertando a enfermeira que cochilava para me acudir. Agora que
tudo passou fico pensando: Será que alguém teria disposição para “aquilo” com uma
baita cólica de rins?
Imagem de Julien Tromeur por Pixabay
Oh Senhor! Kkkk
ResponderExcluirKkkkkkkkkk adoro esse senso de humor em meio ao caos. Isso torna tudo mais leve. E respondendo a pergunta, acredito que não,l. Por dor bem menor, se nega... Pronto. Falei também. Kkkkkkk
ResponderExcluirNossa Senhora Padre Gabriel! Que história!!!
ResponderExcluirEstou imaginando, o Senhor internado pedindo ajuda aquela Senhora e ela puxando o cobertor e fechando a cara feia dela kkkkkk
E o Padre conseguiu arrancar sorrisos daquelas pessoas em meio a sofrimentos, isso que é senso de humor!
Parabéns!
Obrigada pelas dicas do Doutor. Eu também já tive cólicas de rins 😢
Entre uma crise de rins e uma companhia estragada, prefiro um bom copo de suco de frutas tropicais! 😀
ResponderExcluirSó mesmo o senhor, Padre! Kkkk
ResponderExcluirSua narração é tão perfeita que me senti dentro da ala feminina, assistindo a tudo...
Amei!
Eu já levei minha cunhada, irmã e esposa, uma de cada vez, às pressas para o hospital, com essas dores nos rins. Meu Deus do céu! Elas faltaram subir nas paredes de tamanha dor. Graças a Deus, ainda não senti na pele esse terrível sofrimento. Por isso, tomo muita água, no mínimo uns 4 litros por dia.
ResponderExcluirJá passei por isso é verdadeiramente insuportável,Deus nos livre.
ResponderExcluirTinha que ser Padre Gabriel, este senso de humor é o que eu mais admiro, até a dor fica mais branda, eu fico imaginando a expressão da mulher e as suas gargalhadas. Consegue tornar a vida mais divertida mesmo na dor.
ResponderExcluir..." O riso foi geral e acabou despertando a enfermeira que cochilava para me acudir." Ótima idéia, servirá em outras situações também! Kkkkk parabéns padre Gabriel . Excelente
ResponderExcluirO Sr estava o bendito é o fruto entre as mulheres né padre.
ResponderExcluirKkkk
Ai professor e também escritor, e dos bão. Isso põe leveza na vida da gente.
ResponderExcluir👏👏👏👏👏
ResponderExcluirTem uma linha de pensamento de filosofia de vida que defende o sofrimento como remissão purificação. Eu apresentei esta proposta mas não acredito nela.
ResponderExcluirPenso que nossa vida é enfrentar sempre desafios, e a dor também se apresenta como fazendo parte do pacote das dificuldades, testamos nossa resiliência nossa fé. Sem jogar confete, o Senhor não precisava destes testes, mas como mortal que é, e a vida em andamento, quero dizer com o o passar do tempo, as pelejas da saúde não alivia ninguém.
São tantas pedras q,é insuportavelue já estou fazendo uma calçada. Como que uma pedrinha tão minúscula nos faz sentir tão impotente, insignificante diante de tamanha dor. Eu ainda estou me recuperando, e confesso que não sei nem contar direito como é a dor.
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