Os filhos da lua
A Luzia da Filó, heim? quem diria! – Coitada! Sofria dos nervos. Pelo menos, essa era uma voz corrente no antigo Arraial do Maquiné. Qua...

A Luzia da Filó, heim? quem diria! – Coitada! Sofria dos
nervos. Pelo menos, essa era uma voz corrente no antigo Arraial do Maquiné. Quando jovem, nunca dera sinais de
enfermidade e nem das esquisitices que se manifestaram na maturidade. É verdade
que, quando solteira, tivera um ataque de lua cheia, mas, naquele tempo, ninguém
se deu pela situação. Pensavam que fosse por causa de sua natureza forte, assim
afirmava seu pai o Sô Levi da Ponte Alta.
O tempo passou e com ele o quadro de Luzia foi se agravando.
Alguns pensavam que tudo lhe seria resolvido com um bom casamento. O povo,
naquelas paragens, pensava que o casamento resolvia quase tudo. Dona Filó,
compartilhava dessa ideia. Quanto ao pai, melhor nem dizer nada. Ele era do tipo
que deixava correr frouxo. O casamento, se fosse o caso, um dia iria acontecer,
afinal, o casamento era o fim de todos, assim ele pensava. Pois, não é que esse
dia chegou? Quando menos se esperava Luzia casou-se. Casou-se com Zé Augusto,
também conhecido como Zé da Vargem, isso porque ele tinha umas terrinhas pelas
bandas do Lambari. Zé da Vargem era calmo e trabalhador, o pai da paciência,
que gastaria duas horas para morrer de repente. Então, pelo visto, a coisa funcionou.
Ele era o freio da relação e ela o acelerador. Luzia tinha a natureza quente e
Zé da Vargem a natureza morta. Os conflitos só não apareceram porque ele não ligava
para nada. Para ele tanto fazia se as águas do Lambari corressem para cima ou
para baixo. Nem percebeu a presença do negro Coló, um baiano que passou a morar
na região para desmatar o terreno vizinho.
Zé da Vargem era homem diurno. Deitava-se bem cedo e só
acordava no outro dia. Enquanto isso Luzia, coitada, virava e se revirava na
cama a noite toda. Enquanto ela se virava para um lado e outro ele roncava
feito um justo. Não foram poucas as vezes em que ela se levantava e tirava a
própria roupa ou se banhava na água fria para acalmar a natureza.
Como costuma acontecer, naquela região, à medida em que o
tempo foi passando os filhos foram chegando. Uns se pareciam com a mãe e outros
se assemelhavam ao pai ou coisa parecida. Dois nasceram quase negros mas essa genética foi
atribuída aos tataravós de Luzia, que, felizmente, ninguém mais conhecia. Ela
mesma afirmava que seus ancestrais tinham vindo da África para povoar o antigo Maquiné.
Curiosamente, os filhos do casal foram todos concebidos em noite de lua cheia.
A força da lua é uma coisa de doido, afirmava Zé da Vargem.
No Maquiné também havia pessoas maledicentes e viam com
desconfiança as atitudes de Luzia. Alguns afirmavam tê-la visto nua saindo da
casa do negro Coló. Maldade pura! Com o passar do tempo Coló tornou-se íntimo
do casal e até apadrinhou os dois mais novos. Por tanta aproximação os meninos
tornaram-se parecidos com ele. Intimidade é isso. Até a aparência física se
copia!
Depois de muitos anos a doença de Luzia amainou-se. Só
atacava, de vez em quando, com a força da lua. A lua mesma, parecia nada saber
e continuava sorridente no céu escuro do Maquiné. Sem abrir a boca parecia
dizer lá do alto: - Ô vida boa, gente!
Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay
Essa Luzia não era nada fácil.
ResponderExcluirCoitada... Sofria dos nervos!!!
ResponderExcluirQue nervo? Coitado do Zé da Vargem!
ResponderExcluirPobre lua, levou a culpa...
ResponderExcluirEita, que mulher Luzia vem de longe! E Zé da Vargem também! E vice-versa.Rss
ResponderExcluirEta trama maledicênce! Mas gostosa de se ler, e com certeza tem muito de verdade até hoje, já que a natureza de algumas mulheres não bem entendida, pode levar logo ao comentário machista, "está precisando é de um casamento".
ResponderExcluirO caso da Sofia teve um ingrediente questionável de conduta, mas não trouxe infelicidade, então quem sou eu para julgar.
Já ouvi também e achei interessante, é que as bodas de uma solteira a ser comemorada é : bodas de sabedoria, bodas de livramento, bodas de paz.
Kkkkk
Retificando é Luzia e não Sofia
ResponderExcluirNossa! A história deste casal e muito difícil de entender, antes de aprofundar na vida deles,uma análise nesta Luíza,pode mostrar uma pessoa com Trastorno de Bipolaridade.Por exemplo;existem, pessoas bipolares que na face de manias,sofrer intensamente e faz sofrer quem convive com ela.Por tanto ela demonstra que tem o sono perturbado,ao contrário do marido Zé da Vargem. Por isto devemos ter Compaixão e rezar pelas pessoas que sofrem de doença incurável como,Transtorno Bipolar, Esquizofrenia,ou Outra...
ResponderExcluirUltimamente tenho feito um grande esforço pra só ler a linha... Nada de entrelinhas... Kkkk sei de nada!
ResponderExcluir*Luzia
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