Fé e risco

Nenhum de nós se sentiria confortável dentro de uma barca ameaçada de ir ao fundo, bem ao meio da madrugada. Pois é. Foi isso, o que aconteceu com os apóstolos naquela noite de penúria. Confira a passagem no Evangelho de São Mateus 14, 22-36. Jesus estava rezando sozinho no alto da montanha. Os apóstolos remavam com medo sobre as ondas furiosas. Estavam longe da terra e longe de Jesus. Pelo menos, era isso, que pensavam… À noite tudo ficava mais difícil. Na barca não tinham a segurança da terra firme. A sensação devia ser horrível. Ninguém sabia o que poderia acontecer no momento seguinte. O barco não devia oferecer grande segurança, afinal, eles eram pobres e sem recursos.

No “olho do furacão” os apóstolos não conseguiam  perceber, na penumbra da noite, um vulto que parecia caminhar sobre as águas. O medo da turma aumentou. Como se não bastassem as dificuldades naturais da missão, teriam que enfrentar assombração!  Isso mesmo. Alguns pensavam se tratar de um fantasma. Estavam atemorizados demais para perceber naquele momento de provação a presença real de Jesus. Isso pode acontecer também conosco. Nas horas de dificuldades, não é fácil perceber a presença de Deus. Facilmente pensamos que Ele nos abandonou.

Do meio da escuridão surge-lhes uma voz familiar. É Jesus que os anima. Coragem, não tenham medo, sou eu! Diante disso, Pedro cria alma nova e pede a Jesus que permita seu encontro com ele, também caminhando sobre as águas. Se já estava em risco, dentro do barco, fora dele o risco seria maior ainda. Mas, isso não importava mais ao apóstolo. O que ele não queria era permanecer longe de Jesus. Corajosamente saltou do barco e começou sua caminhada de alto risco. O vento, no entanto, aumentou e, nesse momento, ele desviou o olhar de Cristo. Bastou isso, para que começasse a afundar. Cristo repreendeu sua falta de fé, mas não lhe negou a mão na hora decisiva.

A fé em Deus comporta sempre uma dose de risco. Ela nos dá uma certeza, antecipada, de vitória em todas as situações. A fé é um modo de já possuir – possuir de forma antecipada – o que ainda se espera (Hebreus 11,1). Nas horas de escuridão quando o barco de nossa existência ameaça ir ao fundo é preciso olhar para Jesus com confiança. As dificuldades nos fragilizam, mas, não podemos nos prender nelas. Com o olhar fixo em Jesus poderemos saltar as ondas e vencer as trevas. Nas horas mais difíceis Ele estará sempre disposto a nos estender a mão.

A experiência dos apóstolos, em alguma medida é comum a todos nós. Como é difícil continuar a vida após certas perdas. Tudo parece escurecer diante de nós. Nessas horas, no entanto, precisamos confiar e suplicar por Jesus. Sozinhos, dificilmente conseguiremos vencer as tormentas.  São Paulo, dizia: Eu tudo posso naquele que me fortalece – Filipenses 4,13. Pense, nisso. Sozinhos nada podemos, mas ao lado de Cristo teremos forças para enfrentar as tempestades mais desafiadoras.