Serão uma só carne

Um casamento bem feito é como a chama de duas velas que se encontram e se misturam apenas com maior brilho.  A imagem parece boa. De fato, o amor é fogo que aquece e gera vida. Soaria estranho um amor que fosse portador de aniquilamento. O matrimônio arrasta consigo a ideia de comunhão. Não se trata de dissolução das individualidades, mas  união harmoniosa  capaz de transformar dois em um. E serão uma só carne…

Meus pais viveram juntos cerca de quarenta anos até que ele ficasse viúvo.  Não era um casal perfeito. Papai, no entanto, continuou chamando o nome de minha mãe, sem perceber, após dez anos de viuvez. Ficou sem rumo nem prumo. Acho que nunca mais se acertou na vida e jamais se acostumou sem a outra parte de si mesmo.

A imagem do casamento, da aliança, foi usada muitas vezes na bíblia, para falar do amor que Deus tem por nós. Certa vez, questionado pelos fariseus, sobre o jejum (Lc 5, 33-39), Jesus lhes respondeu o questionamento com nova pergunta: – Pode os convidados jejuar quando o noivo está presente?  O noivo da história é o próprio Cristo que, presente diante da noiva, a humanidade toda, a convida para a festa. O jejum que, entre outros objetivos, visava a preparação para a vinda do messias, de fato, não fazia sentido naquele momento quando o messias estava presente. Na cena Jesus se apresentou como noivo.

Não foi à toa que S. João, no início de seu evangelho mostrou Jesus numa festa de casamento em Canã da Galiléia. Ao que parece, ele não quis apenas descrever um casamento de seu tempo ou mostrar como livrou o noivo de um vexame, ao transformar a água em vinho.  O objetivo era mostrar a aliança entre Deus e seu povo. Tal aliança deve ser celebrada com alegria e não com tristezas.  Por isso substitui um líquido incolor e sem sabor, a antiga lei, num vinho novo de qualidade, a lei do amor. Ele ainda quer que os homens, verdadeiramente, se embriaguem com  esse vinho novo que é  sua mensagem.

Deus não é somente pai ou mãe. É também noivo. Um noivo apaixonado por nós que, na liberdade, se oferece para uma aliança de vida conosco. Ao longo da história bíblica Deus sempre fez e refez a aliança com seu povo. Ele é fiel. Nós, nem sempre…

Jesus, em um dos momentos mais solenes de sua vida quis celebrar uma nova aliança conosco. Foi na última ceia, quando disse: – Este é o cálice do meu sangue. O sangue da nova e eterna aliança, que será entregue por vós, e por todos, para o perdão dos pecados! A Igreja, esposa do cordeiro, guardou bem essas palavras e as repete em cada Eucaristia. Enquanto vivemos, esperamos a vinda do Cristo Salvador.  Vem, Senhor Jesus!