Insensibilidade
Aquela história, verdadeiramente, me impressionou. E olhe, que ao longo de minha vida já ouvi muitas histórias de amor e desamor. El...
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Aquela história, verdadeiramente, me impressionou. E olhe, que ao longo de minha vida já ouvi muitas histórias de amor e desamor. Ele chegou meio ressabiado e, sem saber muito por onde começar a conversa, ajeitava-se nervosamente, na cadeira. E começou: - Olhe padre, só tenho mãe e, às vezes, brigo muito com ela. Sinto que não me entende e quando brigo com minha irmã ela nunca sai em minha defesa. Meu pai já morreu.
Permaneci em silêncio ouvindo sua história. A história de cada um é muito bonita. É bonito poder ouvir as experiências alheias. Pensei que seu pai havia morrido há muitos anos, pois ele me falou do pai friamente como quem toca uma ferida já cicatrizada. Enquanto permanecia em atitude de escuta ele continuou: - faz dois meses que meu pai morreu. Ele veio socorrer-me no asfalto de madrugada, pois eu estava com problemas no carro. Acordei-o pelo telefone e, rapidamente, ele já estava perto de mim para me socorrer. Foi uma tragédia! Assim que ele virou-se para apanhar uma chave no próprio carro veio um segundo veículo e o atingiu em cheio. Morreu ali mesmo.
Nesse instante interrompi sua conversa com uma pergunta: - como você analisa esse fato? Tive medo que ele chorasse, afinal estávamos falando de seu pai. Mas, ele permaneceu friamente e disse-me: - acho que ele morreu em meu lugar. Achei a história linda mas, a reação fria do jovem me estarreceu. Fiquei com aquilo na cabeça o dia todo. Como pode alguém dar vida duplamente, no nascimento e na morte e não conseguir tocar o coração do próprio filho? Ele falou do acidente do pai como quem conta a história de um gato anônimo atropelado...
Hoje tirei algumas conclusões dessa experiência e gostaria de compartilhar com você. Muitas vezes, nos parecemos com esse jovem. Deus é nosso Pai e nos deu tudo, inclusive a vida. Enviou-nos seu Filho Jesus que morreu por nós. Ainda assim, não tocou no coração de muita gente... É impossível tirar leite em pedras! Às vezes temos um coração de pedra. Olhamos para a cruz de Cristo como se olha para um objeto qualquer. Esquecemos que aquele que está dependurado é nosso Deus e Salvador. A cruz nos desconcerta. Talvez seja mais fácil acreditar num Deus majestoso poderoso e infinito. Mas, a Cruz nos lembra um Deus que se esvaziou de todos esses atributos de poder.
Pensando bem, não somos muito diferentes daquele jovem que no alto de sua insensibilidade me assustou tanto. Também somos insensíveis para as coisas de Deus. Cristo derramou sua última gota de sangue para salvar-nos e, nem sempre reconhecemos isso. Conhecemos a expressão: “Amor com amor se paga...”. Mas, essa regra não vale para Deus. Caso contrário, estaríamos irremediavelmente perdidos. Deus nos ama independentemente de nossa retribuição. Isso, de fato, é assustador. Nunca se viu um amor assim. Seu amor por nós é incondicional. Nada exige de nossa parte, é de graça. Você se lembra do episódio do bom ladrão? Faltava menos de um minuto para morrer. Felizmente, lembrou-se de virar o rosto para Jesus e pedir clemência. Isso só foi o bastante para que ele recebesse o perdão de todos seus pecados... O amor de Deus, às vezes, me assusta. Quero corresponder ainda que seja um pouquinho a esse amor. Mas, sou pequeno e tão insensível quanto o personagem da história citada. Que Deus tenha pena de mim e de você!
Imagem de Ulrike Leone por Pixabay
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