Contemplação
Às vezes sinto que estou suspenso do chão e tomado por uma força, incrivelmente maravilhosa, que me faz escapar do peso do tempo, da id...
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Às vezes sinto que estou suspenso do chão e tomado por uma força, incrivelmente maravilhosa, que me faz escapar do peso do tempo, da idade, da fome e do frio. Nesse estado, posso me perder, ou melhor, me encontrar. Sei que tenho um peso, e que isso vai acabar um dia; sei que tenho carnes e músculos e que isso também vai passar. Mas, sei que há algo de imaterial em mim e, seguramente, essa é a parte mais nobre que tenho. Esse “algo mais” me faz voar como os pássaros mesmo sem sair do chão; flutuar feito pluma, apesar do chumbo que sou.
Sinto arrepios e posso ver o mundo como se estivesse vendo-o pela primeira vez e, assim, ver o encanto onde ele inexiste. Sinto uma imensa vontade de permanecer para sempre nesse monte Tabor. Como não colocar Deus em tudo isso? Um Deus que se revela a mim sem rótulos ou informações prévias. Deus é muito envolvente e sem dizer nada me põe a falar como bobo.
Sei que vou ter fome, muitas vezes, ainda. Terei fomes, cansaços, aborrecimentos e medos. Mas, tenho certeza, que outras vezes haverei de experimentar, esse sentimento que me completa e que um dia vai me levar para sempre... Quisera eu, que isso fosse um êxtase místico. Mas, sei que estou longe disso. Talvez, experimento isso, por causa fome que tenho de completude. Mas, seguramente, quero ser mais do que matéria: Um corpo que anda, fala, finge e se angustia. Um dia, sentirei o prazer de pular levemente pelas copas das árvores sem ver o sangue a me escorrer pelo corpo; Saltarei sobre as nuvens e brincarei com as estrelas; Verei o mundo de cima sem ter medo de cair; Sentirei o frescor da cachoeira sem me molhar ou ter resfriados; Entenderei os bichos e os homens e me comunicarei igualmente com os dois. Sei que um dia vou deitar-me de novo no colo de minha mãe...
Não quero jamais reviver os calvários e sim contemplar os presépios...
Chega de fumaça, fuligem, bala perdida, seqüestros e dores. Quero o amor como ele é: simples e sem ostentação; Quero entender como se forma a gota dágua dependurada num ramo seco, enquanto a madrugada agoniza; Quero viajar num raio de sol e contemplar o seu brilho dourado cobrindo as montanhas em maio; Quero pão assado por mãos amigas e sentir o calor da presença de muitos. Não quero ir sozinho para o céu. Isso deve ser muito sem graça. Quero a eternidade toda para mim... e para um milhão de amigos!