Papagaio triste
Às vezes, me pergunto por que, de vez em quando, não estou feliz? – é como se eu tivesse o dever de sê-lo ou me sentido culpado quando...
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Às vezes, me pergunto por que, de vez em quando, não estou
feliz? – é como se eu tivesse o dever de sê-lo ou me sentido culpado quando
isso não acontece. Já me disseram que mineiro tem alma fadista e, por isso, se
entristece pelo menos três vezes ao dia. Nunca me falaram, no entanto, sobre os
fundamentos dessa tristeza. Numa breve conversa com uma criança acho que
descobri a causa de nossas reincidentes melancolias.
Bem de frente à minha casa, existem dois lotes vagos. Esse
espaço constitui um verdadeiro paraíso para as crianças que, numa cidade mal planejada,
nunca têm lugar para brincar. Com o
tempo aprendi que dois chinelos aparelhados em plena rua é sinal de campeonato.
O par de chinelos forma um gol e assinala aos motoristas que, naquele
quarteirão está acontecendo um amistoso...
Em dias de vento as crianças de minha vizinhança buscam os
tais lotes vagos para empinar papagaios (pipas). O frenesi aumenta à medida que o sol vai se
esfriando. O que se vê ao cair da tarde é de encher os olhos! Papagaios de
todas as cores e formas enfeitam o céu do Santos Dumont (Bairro onde moro, em
Pará de Minas).
Certo dia me aproximei de um menino, bem pequeno, que parecia
muito acabrunhado, com a pipa sob o braço e apagado que dava dó. Isso não era normal numa tarde
linda como aquela... Quis saber qual era a razão de tamanha desventura. Sem
saber expressar a causa de sua dor ele me disse: meu papagaio está triste. Por
isso não sobiu... (sobio com “o” mesmo). Depois de ajeitar meus pensamentos no
nível da criança quis ajudá-lo. Mas, ele saiu em disparada para mais uma
tentativa frustrada...
Voltei para casa e me preparei para o próximo compromisso.
Mas, a fala do menino ficou martelando em minha cabeça. Comparei-me com o
papagaio triste. A tristeza daquele objeto sem sentimento, de acordo com o seu
dono, era porque ele não conseguia atingir as alturas para a qual havia sido
pensado. Percebi que é, exatamente, por isso que não consigo manter-me num
estado de permanente alegria. Quando ensaio uma subida caio de lado; se tento
de novo caio de bico... Ô meu Deus!
Lembro-me de São Paulo que dizia: Deixo de fazer o bem que quero e acabo
fazendo o mal que não quero... Então fico mais consolado. Acho que até São
Paulo andou aterrissando algumas vezes, em vez de decolar... E assim, vamos
levando a vida. Ora subindo, ora descendo. Espero subir, definitivamente, um
dia. Aí então, nos braços de Deus, deixarei de ser um papagaio triste!