Ilê Wopo Olojukan
O “Ilê Wopo Olojukan” é um Terreiro de Candomblé, localizado Bairro Aarão Reis, em Belo Horizonte. Após pesquisa histórica, sociocultu...
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O “Ilê Wopo Olojukan” é um Terreiro de Candomblé, localizado Bairro Aarão Reis, em Belo Horizonte. Após pesquisa histórica, sociocultural e registro fotográfico, ele foi considerado como a mais antiga “Comunidade-terreiro” da Capital Mineira. Seu tombamento, pelo Município, como Patrimônio Cultural do povo negro de Belo Horizonte, ocorreu no dia 20 de novembro de 1995, por ocasião do Tricentenário de Zumbi de Palmares. Hoje, a casa está sob a Coordenação do Babalorixá Sidney de Oxossi. Recentemente, visitamos o local para uma entrevista onde fomos muito bem recebidos. O que motivou nossa visita ao Terreiro foi perceber o aumento da intolerância religiosa, sobretudo, com relação às religiões de matrizes africanas. Parte dessa intolerância acontece por ignorância e preconceito. Então, faz-se necessário, conhecer melhor e desmitificar idéias pré-concebidas.
O Candomblé chegou ao Brasil junto com os escravos que vieram de diversas regiões da África para nossa terra trazendo suas crenças. Um aspecto dessa religião é a crença nos Orixás. Orixás são entidades espirituais que ajudam os filhos transmitindo a eles a força (Axé) no espaço do culto. Diferente da África onde cada Orixá é o “padroeiro” de uma aldeia, no Brasil tais entidades acabaram se agrupando num mesmo espaço, como se fosse uma mini África. Esse espaço é o que chamamos de “Terreiro”.
Os Terreiros de Candomblé tem estruturas complexas. Neles estão as “casinhas” dos orixás, o espaço das folhas (usadas para os banhos rituais), o barracão, onde acontecem as principais cerimônias, a camarinha, uma espécie de “útero” onde são formados os seguidores da crença após passar certo tempo em reclusão. De maneira geral, a manutenção do Terreiro é garantida é feita pelos seguidores da religião. No caso do Ilê Wopo Olojukan, a manutenção é garantida pelo próprio Babalorixá que trabalha de motorista e conta com a renda de alguns aluguéis.
O Candomblé é uma religião monoteísta. Cultua-se, na verdade, um único Deus chamado respeitosamente, por Olorum, ou Zambi, conforme a tradição. Dois troncos lingüísticos de origens geográficas diferentes acabaram prevalecendo por aqui: O Banto ou Bantu e o Yorubá ou Yoruba. O povo, genericamente, chamado de Yorubá (ou Nagô) veio da região do atual Benin e Nigéria. O Povo Bantu veio da região de Angola e Congo. O vocabulário Banto entrou muito no léxico do português brasileiro. Palavras como catinga, embondo, fubá, mutreta, vieram desse tronco lingüístico. As palavras do povo Yorubá, ficaram mais restritas ao ambiente religioso. Ilustra esse grupo de palavras o título desse artigo: Ilê Wopo Olojukan: Casa onde o trono é de Odè Olojukan (aquele que vê com os olhos do coração).
No Brasil, de maneira geral cultuam-se cerca de 18 Orixás (Oxossi, Nanã, Yemanjá...). Exu é um orixá mensageiro. Não pode ser confundido com a figura do demônio. Aliás, essa figura não existe no Candomblé. Exu é o mensageiro que leva para o Orum (céu, esfera espiritual) os pedidos dos homens. O Candomblé não faz rituais para causar mal a ninguém. Nem os Orixás podem mudar os destinos dos homens, afirma o Babalorixá, Sidney. Ao nascer, de acordo com a cultura Yorubá, cada homem escolheu um destino e dele não pode livrar-se. As orações e oferendas são para amenizar os sofrimentos e ajudar a pessoa a reconciliar-se consigo mesma e com seu próprio destino. O que foge disso, não cabe no Candomblé. Mas, como em qualquer outra religião, existem pessoas desequilibradas que enganam os mais desavisados para extorquir algum favor ou benefício. O Candomblé “não traz o seu amor de volta em três dias”... Ele pode ajudar você a ter mais harmonia e paz interior. Nesse caso, o grande amor pode aparecer... Mas, não como conseqüência de algum ritual.
Sobre a vida após a morte, Sidney explicou-nos o seguinte: Em cada pessoa há uma parte de Deus. Ao morrer essa parte de Deus volta para junto dEle. A parte material fica na terra. Por isso, prestamos nossas homenagens a essas energias das quais também faremos parte um dia. Mas, nossa comunicação é com os Orixás. São eles quem nos ensinam e orientam-nos no sentido de termos uma vida santa e harmoniosa. Sidney não entende como possa existir atos de intolerância contra qualquer forma de expressão religiosa. Aliás, procura evitar até mesmo a palavra “intolerância”. Acredita que a palavra respeito é que deve ser buscada. Eu não preciso gostar da religião do outro, afirma. Mas, devo respeitar a todos. Isso é um princípio fundamental para uma boa convivência humana.