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sábado, 13 de janeiro de 2018

Um saco de ventos

Todos se lembram quando nossa ex-presidenta (era assim, que ela gostava de ser tratada), Dilma disse que, no Brasil, poderíamos aproveitar melhor a energia eólica. O termo “estocar ventos,” usado por ela, caiu no gosto popular e acabou virando piada. Aliás, no quesito de expressões curiosas, Dilma sempre se destacou. Mas, não é sobre Dilma que quero falar nesse texto e sim sobre as ilusões que o mundo nos vende. Para entrar no tema central vou me valer de uma história da mitologia grega. Trata-se do retorno de Odisseu, guerreiro grego, à sua pátria após a conquista de Tróia.

Após vencer os guerreiros de Tróia, Odisseu, organizou sua tripulação para retornar à sua pátria. Ele mal sabia que uma nova “odisséia” estava por começar. Em seu retorno teve que fazer parada em algumas ilhas. Desembarcou na ilha dos comedores de lotos, depois na ilha dos ciclopes e em seguida na ilha de Éolo, o deus dos ventos. Zeus havia confiado o domínio dos ventos  a esse monarca. Antes, mesmo do discurso de Dilma, alguém já havia sonhado com a possibilidade de estocar os ventos... Nessa ilha, Odisseu foi muito bem recebido. Em sua partida Éolo fez-lhe uma grande gentileza: - Fechou num saco, com uma corda de prata, todos os ventos maus, que poderiam causar-lhe transtornos na viagem de volta para sua casa. A primeira parte da viagem foi uma maravilha. Todos os ventos favoreciam a embarcação. Odisseu permaneceu acordado nove dias. Quando estavam próximos a Ítaca, sua ilha, algo terrível aconteceu. Vencido pelo cansaço, Odisseu dormiu. Um soldado que o acompanhava não conteve sua curiosidade e ambição. Pensou que naquele saco houvesse tesouros. Odisseu não havia contato para ninguém o que havia no saco. O soldado, então, desamarrou o pacote e os maus ventos saíram arremessando o barco para longe do destino. Sua curiosidade custou caro, pois, tiveram em seguida, grandes dificuldades para retornarem ao caminho.

Deixando de lado a mitologia e os discursos da ex-presidenta, vamos ao que interessa. Em nosso mundo o que não faltam são vendedores de ilusão. Os jovens, talvez, sejam as maiores vítimas desses vendedores de vento. Nosso tempo está cheio de promessas: - Enriquecimento fácil, sucesso pessoal, fama, corpo perfeito, retorno dos cabelos, sucesso no amor, prosperidade... e por aí se vai. Muitos gastam o pouco dinheiro que recebem apostando nas loterias. Outros vão para o exterior pensando que lá vão coletar ouro de superfície... Há, também, aqueles que se martirizam em busca do corpo perfeito ou da eterna juventude. Saem das clinicas ou casas lotéricas abraçados com um saco de ventos. No fundo o que se busca é a felicidade. Mas, cada um fala que ela está em um lugar. Num mundo de aparências, o que vale é o que se vê; num mundo de culto ao sucesso, o que importa é o pódio; num mundo onde você vale o quanto pesa o que importa é ter dinheiro. Mas, será que é por aí?  Quantos grandes empresários hoje estão presos porque se agarraram demais aos ventos? Quantas pessoas tiveram os rostos deformados por excesso de bisturi? Quantas mortes já causaram os medicamentos para deixar o homem, sexualmente, mais potente? Essas estatísticas são escondidas pelos comerciantes dos ventos.

Sonhar é um direito de todos. Isso faz bem e não é proibido. Mas, é preciso tomar cuidado com os vendedores de ilusões. Muitos jovens se embarcaram numa viagem, sem volta, acreditando que o mundo das drogas, por exemplo, pudesse ser um atalho para a fama e o enriquecimento. O soldado de Odisseu, não conteve sua ambição e, por causa dela, quase arruinou a tripulação. Infelizmente, essa cena, ainda se repete. Muitas famílias naufragaram porque os filhos dormiram abraçados com sacos de ventos. Precisamos desconfiar sempre das promessas sedutoras que o mundo nos faz. “A esmola quando é muita, o santo desconfia”. É bom lembrar-se disso!

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