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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Ars nos tempos de Vianney

São João Maria Vianney, patrono dos sacerdotes, viveu na França, nos tempos da Revolução Francesa.  Tal revolução, como as demais, quando passa, deixa para trás, um rastro de destruição e miséria. Em nome da liberdade, igualdade e fraternidade, muito sangue correu sob a lamina da guilhotina. Ordenado padre em 1815, Vianney foi nomeado auxiliar de Padre Balley, seu guia espiritual, que o acompanhou durante onze anos.  Com a morte de Padre Balley em dezembro de 1817 ele se viu sozinho na paróquia de Ecully, pela primeira vez. Durou pouco. Um mês depois foi transferido para Ars-em-Dombes.  Em Ars chegou como “Capelão” e tudo o que fizesse deveria ser ratificado pelo padre da paróquia vizinha em Misérieux.

No início do Séc. XIX, a região de Ars era considerada a “Sibéria” da Diocese de Lião. Tomada por charcos (água parada) e de clima insalubre, com mortalidade infantil e muitas outras doenças. As terras eram pouco férteis e a maioria da população vivia em estado de miséria. Grande parte dos padres rejeitava o trabalho nessa região. Ars tinha 230 habitantes e nem chegava a ser  paróquia, mas, uma espécie de anexo de Misérieux. Só se tornou paróquia em 1821.

Antes da Revolução Francesa, os cônegos de São Paulo de Lião possuíam 290 hectares de terras na região. O conde des Garets, tornou-se, na época de Vianney o dono de 130 hectares sobrando apenas 85 hectares para os restante da população. Alguns ficaram com apenas um lote de terra e sem condições de tirar dela o próprio sustento. As propriedades dos cônegos foram confiscadas deles e vendidas às pessoas estranhas ao lugar até porque os moradores locais não conseguiam comprar nada. Isso dividiu a pequena comunidade. Apenas alguns, tinham pequenas posses e a grande maioria trabalhava em trabalhos rudes. Antes da revolução todo o povo frequentava a pequena igreja da aldeia, um modesto edifício de 20 metros de comprimento por seis de largura, que mais parecia um celeiro, se não fosse a pequena torre quadrada. O mobiliário e objetos litúrgicos foram saqueados e até os sinos foram confiscados...

Durante a revolução alguns padres juramentados (que prestaram juramento de obediência à Constituição Civil do Clero) passaram por Ars. Mas, o povo desconfiava desses padres e afastava ainda mais da Igreja. Alguns padres refratários ( fieis ao papa), celebravam clandestinamente. A Família Vianney chegou a abrigar alguns desses padres. No relato de um deles (Padre Lecout) podemos perceber a situação de abandono do povo e, sobretudo, das crianças:

 “Ensinar o catecismo às crianças torna-se muito penoso em razão da estupidez e da incapacidade desses seres, cuja maior parte nada tem que os distinga dos animais a não ser o batismo”.

A situação dos jovens não era muito diferente. Podemos confirmar isso, pelo relato de um dos moradores da região:

“Em Ars, no dia 06 de agosto, festa de São Sixto, faz-se na aldeia os mesmos preparativos que nas cidades: música, jogos, nada faltava... as festas duram até meia noite. A praça onde se dança é cercada de celeiros, aos quais nas noites de festas, os jovens mais audaciosos procuram levar suas companheiras, nem sempre sem sucesso...”

Aos domingos, o grande centro de atração dos homens, jovens e velhos é a taberna. Ao que parece, havia umas quatro tabernas em Ars e algumas famílias foram levadas à ruína por causa disso.  Todo esse “cenário de perdição” será transformado, aos poucos, com a chegada do capelão. E ele chega à aldeia no dia 13 de fevereiro de 1818. Depois disso, Ars nunca mais foi a mesma. Até hoje atrai centenas de peregrinos que são guiados ao lugar para conhecer, de perto, a história do padre santo. Quem diria que essa aldeia, perdida no mapa, fosse receber cerca de 100 mil peregrinos em apenas um ano para se confessarem com aquele simples sacerdote de trajes simples e sapatos rotos? São coisas da fé. Deus escolheu os simples para confundir os sábios, os fracos para confundir os fortes. Pense nisso!

Obs: Informações extraídas do livro: A Vida do Cura D”Ars, de Marc Joulin. SP – Loyola, 1986

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