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sexta-feira, 6 de julho de 2018

Jesus e a “gentalha”

O Programa de TV mexicano, chamado “Chaves” mostra um personagem que ao ver seus interesses contrariados ataca o menino pobre chamando-o de “gentalha”. Gentalha nesse caso é todo aquele que não pertence ao clube dos ricos, à “sociedade de bem”, ou à irmandade dos puros... É a ralé, a gentinha do povo.

Ao que parece, era assim que os fariseus, no tempo de Jesus, consideravam diversos grupos como os cobradores de impostos, por exemplo. Então, podemos imaginar o tamanho do escândalo provocado por Jesus ao chamar Mateus que era um cobrador de impostos para segui-lo. Deve ter causado arrepio aos puritanos o fato de Jesus ter ido, em seguida, tomar refeições na casa de Mateus. Os fiscais da boa conduta não deixaram barato e levantaram uma porção de questionamentos. Como é que pode? Logo ele que se diz profeta agora se mistura com essa gentalha...  De acordo com a lógica desses fariseus era melhor manter-se afastado da ralé para servir a Deus. Os servidores ideais formavam um clube de iluminados, uma elite devota...

Infelizmente, ainda hoje, podemos perceber esse farisaísmo na sociedade. Alguns preferem o “zelo pelo culto” ao risco de se enlamear-se nas estradas. Esquecem o que disse o Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma pela oclusão e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (Evangelii Gaudium, 49). Aliás, para os fariseus de hoje, nem mesmo o Papa Francisco é modelo ideal de Papa. Como entender um Papa que se mistura aos imigrantes, moradores de rua e crianças abandonadas? Melhor seria que ele ficasse no palácio e reduzisse seus trabalhos em fiscalizar as boas condutas... Ainda defendem bispos com caras de príncipes e fregueses de aeroportos.

Jesus não chama seus seguidores pelas suas virtudes. Os apóstolos eram pessoas com virtudes e limites. O critério para o chamado é de Deus. Ninguém melhor do que ele conhece suas criaturas. Os chamados, cada um, a seu modo, contribuíram com o crescimento do Reino de Deus. O Apóstolo Paulo confessou, diversas vezes, suas fraquezas. No  entanto, quanto bem ele fez à evangelização! De acordo com os critérios humanos talvez ele nunca fosse chamado, até porque era adversário da Igreja. Mas, Jesus chama quem ele quer sem pedir licença a ninguém. Mateus, mesmo sendo considerado “gentalha” deixou-nos uma imensa contribuição com o seu Evangelho.

A postura de Jesus deve ser o modelo para a nossa. Ele veio, principalmente, para os últimos da fila. Quanto mais próxima aos excluídos mais perto de Jesus a Igreja estará. Quanto mais seletiva e elitizada mais distante estará do seu exemplo. Misturar-se com a “gentalha” ainda hoje tem um preço. É sempre mais agradável ficar ao lado da “gente de bem”, que nos aplaude  e nos aprova, sobretudo , quando nos portamos como reprodutores de um modelo de sociedade onde uns tem de tudo e a grande maioria das pessoas devem se contentar com as migalhas que caem das mesas de alguns. Deus me livre dessa hipocrisia! 

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