Nossa realidade é marcada pela “cultura da indiferença”. Visitando a Ilha de Lampedusa, ao sul da Itália, onde diversos imigrantes morreram naufragados, o Papa Francisco disse que “a humanidade perdeu a capacidade de chorar”. Quando falamos tanto em globalização econômica, o Papa falou da “globalização da indiferença”. A dor do outro não me toca mais. Infelizmente, isso é uma dura realidade.
Os santos podem nos ensinar a vencer essa cultura da indiferença. Todos eles fizeram de suas vidas um dedicado serviço ao próximo. Que o diga Santa Tereza de Calcutá e São Vicente de Paulo!
Os biógrafos de São Vicente falam de sua personalidade com certa riqueza de detalhes. Afirmam que o santo tinha uma “caridade matizada de delicadeza.” Por isso, era alguém bem humorado e incapaz de gestos de grosseria até mesmo quando não concordava com o outro. Quando respondeu a um frade franciscano – que insistia em candidatar-se a um bispado - que seria triste por demais privar a Ordem de elemento tão ilustre... não restou àquele frade senão saborear o comentário de Vicente... A ironia do Santo não causava sofrimento em ninguém. Sempre foi comedido e carinhoso com aqueles de cujas teses discordava. Talvez, São Vicente tenha herdado a virtude de seu confessor, São Francisco de Sales, um mestre de mansidão. Antes mesmo de conhecê-lo, em 1618, Vicente já havia lido a “Introdução à Vida Devota” que era um livro muito conhecido naquele tempo. Ao depor no processo de beatificação de São Francisco de Sales, afirmou que ao ouvi-lo, parecia ouvir o próprio Cristo...
O primeiro biógrafo de São Vicente de Paulo, Abelly, conta-nos que “ele não podia ouvir falar de uma desgraça humana sem que imediatamente se lhe pintassem nos rosto a dor e a compaixão!” No mais marginal dos seres humanos, Vicente respeitava a dignidade do homem, porque reconhece aí uma semelhança com Deus. Não conhecia a indiferença com relação à dor do próximo.
Monsieur Vincent não escreveu nenhuma obra sistemática de teologia. Deixou isso, aos seus intérpretes. Mas, vivenciou em profundidade o amor ao próximo. Sua espiritualidade era equilibrada e sem excessos. Sua atuação é inspirada em dois mestres: Padre Bérulle com sua ardente mística e São Francisco de Sales com seu profundo humanismo. Não concordava com o Jansenismo(1) nem com o laxismo. Soube colocar, acima de tudo, a vontade de Deus no amor às pessoas.
São Vicente de Paulo foi uma das personalidades mais notáveis na França daquele tempo. Era inteligente e dinâmico. Sabia resolver com senso prático todos os problemas de seu tempo. Era realista e tinha os pés no chão. Toda forma de pieguice lhe causava repugnância. “Amor de cavalo e de burro” era como ele chamava qualquer sentimento desmedido. Até certo ponto, imitava Descartes (2), seu contemporâneo, quando afirmava: “Deus não nos pede nada que seja contrário à razão.” Sobre o sentimento da pressa dizia: “Quem se apressa, recua nas coisas de Deus.” Afirmava que nós não devemos querer andar mais que a divina providência... E que “as obras de Deus não se fazem quando nós desejamos, mas quando agrada a Deus”.
Que São Vicente dê a todos nós a graça da paciência e do tempero certo nas nossas decisões. Deus sabe a melhor hora para tudo acontecer. Ao contrário de nós, que temos curta existência, Deus tem toda a eternidade e, por isso, não precisa se preocupar com calendários...
1- Conjunto de princípios estabelecidos por Cornélio Jansênio 1585-1638, bispo de Ipres condenado como herege pela Igreja Católica, que enfatizam a predestinação, negam o livre-arbítrio e sustentam ser a natureza humana por si só incapaz do bem.
2 - Descartes (1596-1650) foi um filósofo e matemático francês. Criador do pensamento cartesiano, sistema filosófico que deu origem à Filosofia Moderna. Autor da obra “O Discurso sobre o Método”, um tratado filosófico e matemático publicado na França em 1637. Uma das mais famosas frases do seu Discurso é “Penso, logo existo”.
Fonte consultada:
Daniel-Rops Henri, 1901-1965 - A Igreja dos Tempos Clássicos (1). SP, Quadrante, 2000 – PP 19 -24
Os santos podem nos ensinar a vencer essa cultura da indiferença. Todos eles fizeram de suas vidas um dedicado serviço ao próximo. Que o diga Santa Tereza de Calcutá e São Vicente de Paulo!
Os biógrafos de São Vicente falam de sua personalidade com certa riqueza de detalhes. Afirmam que o santo tinha uma “caridade matizada de delicadeza.” Por isso, era alguém bem humorado e incapaz de gestos de grosseria até mesmo quando não concordava com o outro. Quando respondeu a um frade franciscano – que insistia em candidatar-se a um bispado - que seria triste por demais privar a Ordem de elemento tão ilustre... não restou àquele frade senão saborear o comentário de Vicente... A ironia do Santo não causava sofrimento em ninguém. Sempre foi comedido e carinhoso com aqueles de cujas teses discordava. Talvez, São Vicente tenha herdado a virtude de seu confessor, São Francisco de Sales, um mestre de mansidão. Antes mesmo de conhecê-lo, em 1618, Vicente já havia lido a “Introdução à Vida Devota” que era um livro muito conhecido naquele tempo. Ao depor no processo de beatificação de São Francisco de Sales, afirmou que ao ouvi-lo, parecia ouvir o próprio Cristo...
O primeiro biógrafo de São Vicente de Paulo, Abelly, conta-nos que “ele não podia ouvir falar de uma desgraça humana sem que imediatamente se lhe pintassem nos rosto a dor e a compaixão!” No mais marginal dos seres humanos, Vicente respeitava a dignidade do homem, porque reconhece aí uma semelhança com Deus. Não conhecia a indiferença com relação à dor do próximo.
Monsieur Vincent não escreveu nenhuma obra sistemática de teologia. Deixou isso, aos seus intérpretes. Mas, vivenciou em profundidade o amor ao próximo. Sua espiritualidade era equilibrada e sem excessos. Sua atuação é inspirada em dois mestres: Padre Bérulle com sua ardente mística e São Francisco de Sales com seu profundo humanismo. Não concordava com o Jansenismo(1) nem com o laxismo. Soube colocar, acima de tudo, a vontade de Deus no amor às pessoas.
São Vicente de Paulo foi uma das personalidades mais notáveis na França daquele tempo. Era inteligente e dinâmico. Sabia resolver com senso prático todos os problemas de seu tempo. Era realista e tinha os pés no chão. Toda forma de pieguice lhe causava repugnância. “Amor de cavalo e de burro” era como ele chamava qualquer sentimento desmedido. Até certo ponto, imitava Descartes (2), seu contemporâneo, quando afirmava: “Deus não nos pede nada que seja contrário à razão.” Sobre o sentimento da pressa dizia: “Quem se apressa, recua nas coisas de Deus.” Afirmava que nós não devemos querer andar mais que a divina providência... E que “as obras de Deus não se fazem quando nós desejamos, mas quando agrada a Deus”.
Que São Vicente dê a todos nós a graça da paciência e do tempero certo nas nossas decisões. Deus sabe a melhor hora para tudo acontecer. Ao contrário de nós, que temos curta existência, Deus tem toda a eternidade e, por isso, não precisa se preocupar com calendários...
1- Conjunto de princípios estabelecidos por Cornélio Jansênio 1585-1638, bispo de Ipres condenado como herege pela Igreja Católica, que enfatizam a predestinação, negam o livre-arbítrio e sustentam ser a natureza humana por si só incapaz do bem.
2 - Descartes (1596-1650) foi um filósofo e matemático francês. Criador do pensamento cartesiano, sistema filosófico que deu origem à Filosofia Moderna. Autor da obra “O Discurso sobre o Método”, um tratado filosófico e matemático publicado na França em 1637. Uma das mais famosas frases do seu Discurso é “Penso, logo existo”.
Fonte consultada:
Daniel-Rops Henri, 1901-1965 - A Igreja dos Tempos Clássicos (1). SP, Quadrante, 2000 – PP 19 -24
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