Na época de São Vicente, a Igreja Católica, na França, passava por muitas provações: Heresias, fanatismos, perseguição... Diversas igrejas foram fechadas ou, simplesmente, abandonadas. Nos séculos XV e XVI, as guerras de religião tinham semeado ruínas em toda parte. A demora para colocar em prática as orientações do Concílio de Trento (1545 – 1563), foi a causa da supressão de todas as casas de formação do clero fundadas na Idade Média. Muitos jovens procuravam o sacerdócio apenas em busca de uma ascensão social. Outros se tornaram profundamente relaxados com seus deveres e até mesmo com o cuidado para com os templos. Podemos constatar isso em um relato daquela época:
“As igrejas que tinham escapado do furor do huguenotes, diz o biógrafo do padre Bourdoise, principalmente as rurais , estavam cobertas de palha, arruinadas, sem livros e paramentos e muitas sem sacrário. As sagradas hóstias eram conservadas em cibórios de cobre, sem tampa, de modo que ficam cobertas de vermes e eram comidas pelos ratos”(1)
Grande parte do clero (padres e bispos), naquele tempo, estava carregada de vícios e frequentemente, descuidava das obrigações próprias do ministério. Alguns padres como São Carlos Borromeu, que chegou a fundar dois ou três seminários em Milão, tentaram em vão, criar as casas para a formação para o clero. Mas, a divina providência sabe a hora certa de tudo acontecer. Para isso contou com a sabedoria e santidade de São Vicente.
Ao ver a situação deplorável do clero, São Vicente acabou criando um “projeto de formação” crescente. Primeiro criou, com aprovação dos bispos, os retiros espirituais que antecipavam a recepção das ordens sacras. Para garantir o sucesso desses retiros não poupou esforços. Convidava os melhores pregadores que durante quinze dias preparavam os novos candidatos ao sacerdócio. Essa iniciativa foi muito bem vista e cresceu, rapidamente, para quase todas as dioceses da França. Em 21 de fevereiro de 1631 o arcebispo de Paris publicou uma portaria mandando que todos os clérigos que quisessem receber ordens sacras se apresentassem quinze dias antes para serem instruídos e examinados, gratuitamente, sobre as obrigações e funções dessas ordens.
O sucesso desses retiros foi tão grande que provocou um comentário de Padre Lambert, superior dos missionários de Richelieu, encaminhado a São Vicente de Paulo em 1642:
“ O povo que assiste aos ofícios, durante o retiro, não pode reter as lágrimas de ternura, observando a ordem, a decência, a devoção dos ordinandos; e diz que lhe parece estar vendo, não homens, mas anjos no paraíso”(2)
O segundo passo no sentido da formção do clero e também dos fiéis foi a criação das “Conferências das terças-feiras”. Elas tiveram início em julho 1633. A essas alturas os retiros haviam se multiplicado. Muitos chegavam a participar de três retiros anuais ou até mais. As conferências semanais foi um caminho encontrado por São Vicente para manter acessa a chama da fé brotada durante os retiros.
“Todos os membros das Conferências deviam considerar-se ligados em Jesus Cristo por um novo laço de amor, amar-se mutuamente, visitar uns aos outros, consolar e ajudar os seus irmãos para que se tornassem dignos da ordem sacerdotal”(3)
As conferências aconteciam, inicialmente, na Casa São Lázaro, toda terça-feira na parte da tarde. A assembleia começava com uma invocação ao Espírito Santo; a seguir, tratava-se do assunto indicado na conferência anterior. Cada um tomava parte na discussão, depois o diretor resumia os debates, dava os conselhos que julgava úteis, e terminava a reunião por algumas palavras simples a afetuosas. São Vicente, falava sempre por último e com o coração abrasado meditava com os confrades trechos da Sagrada Escritura.
Os Seminários para formação sacerdotal só aparecem após essa trajetória espiritual com o clero. Muitos bispos haviam tentado criar os seminários, mas eles acabavam não indo para frente. São Vicente teve a ideia de separar os estudantes de humanidades dos estudantes de teologia. Esse foi um achado! O modelo deu tão certo que continua até hoje. Em 1642 ele resolveu colocar os teólogos no Colégio de Bons-Efants e colocou os meninos em uma casa, comprada na vizinhança de São Lázaro, à qual deu o nome de São Carlos. Assim, acabou fundando ao mesmo tempo o “Seminário Menor” e o “Seminário Maior”. Esse foi o primeiro seminário Lazarista, ou seja, conduzido pelos padres de São Vicente. A experiência cresceu e com o tempo os Padres Lazaristas abriram diversos seminários para formação do clero.
Em Minas Gerais, mais precisamente, no antigo Colégio do Caraça(foto em destaque), diversos sacerdotes foram formados pelos Padres Lazaristas. A Igreja de Minas e do Brasil também foram abençoadas com a pedagogia de formação desses padres. Peçamos a São Vicente de Paulo que abençoe as nossas casas de formação atuais. O mundo continua precisando de padres, sobretudo, de santos sacerdotes...
1-Castro, Jerônimo Pedreira, padre. São Vicente de Paulo e a Magnificência de sua obra. Petrópolis, RJ – 1957 –pp 192
2--------- Idem. PP 197.
3--------Ibidem PP 204
Imagem de Robert Cheaib por Pixabay
Isso faz a gente perceber que quanto menor se é diante dos honens, maior é diante de Deus.
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