Quem já não passou por momentos de profunda secura espiritual em sua vida? Nem os grandes santos foram poupados disso. São Vicente de Paulo foi um desses que experimentou durante um bom tempo (alguns falam de quatro anos!) uma grande noite espiritual. Motivos para ele não faltavam. Teve uma infância muito sofrida, chegou a ser acusado de roubo, foi capturado e vendido como escravo... Apesar de tudo isso conseguiu marcar o mundo com seus exemplos.
São Vicente de Paulo teve que suportar durante muitos meses uma falsa acusação de roubo. Por dois domingos chegou a ser acusado no púlpito, publicamente. Em Paris, em 1608 foi excluído da sociedade gascã e foi descartado socialmente como uma companhia pouco recomendável. Quanto a isso ele nunca se defendeu. Apenas dizia: Não cabe a nós prestar esclarecimentos; se eles nos atribuem o que não fizemos. Não cabe a nós defender-nos. Deus está vendo... que nós deixemos para Ele o discernimento das coisas.Ele saberá muito bem, no tempo oportuno, fazer conhecer a verdade. Mais tarde o verdadeiro ladrão apareceu e assumiu o seu erro (01).
Há um fato em sua biografia, no entanto, que não esconde a crise de fé pela qual passou.
Em seu tempo havia um teólogo brilhante, doutor pela Universidade de Sorbone (Provavelmente, Nicolas Coeffeteau) que possuía uma inteligência rara (2). Por causa disso, foi convidado a trabalhar no palácio da Rainha Margô (Margarida de Valois) onde, em contato com a vida palaciana acabou perdendo a fé. Ciente disso, São Vicente de Paulo, durante uma prece, ofereceu-se para sofrer em seu lugar. Ao que parece, tal oferta foi aceita por Deus (Princípio da reversibilidade dos méritos), pois a partir de então, o teólogo recuperou sua fé enquanto Vicente viu a sua própria fé entrar em crise. E Agora, o que fazer? – Uma ideia lhe veio à mente: - Devo trabalhar mais ainda junto aos pobres e me identificar cada vez melhor com Cristo! Chegou a escrever num papel a Oração do Credo e colocá-la no bolso. Nas horas de crise levava a mão, ligeiramente, sobre a oração. Tinha consciência de que aquilo era uma provação e que mais cedo ou mais tarde iria passar. Mas, não deixou de ser um momento de grande provação em sua vida. Totalmente compromissado com os pobres e com a ajuda de Padre Pierre de Bérulle, seu diretor espiritual, essa crise acabou sendo superada. O deserto nem sempre foi algo ruim. Na história do Povo de Deus foi um local de purificação. No deserto o povo teve grandes experiências de Deus e aprendeu a ser livre.
Atravessar uma noite escura da fé, não foi privilégio de São Vicente de Paulo. Outros santos também vivenciaram esse aparente abandono de Deus. No caso, de São Vicente, tal provação fez dele um grande apóstolo da caridade para com os mais pobres. Tornou-se um homem bem temperado por Deus e sem excessos. Numa de suas cartas à Luiza de Marilac se pode perceber esse equilíbrio: - “Descarregai vosso espírito de tudo o que vos faz pena, Deus vai cuidar. Não saberíeis afobar-vos nisso sem contristar, o Coração de Deus, porque ele vê que não o honrais suficientemente com a santa confiança. Confiai nele, eu vos suplico, e tereis o cumprimento daquilo que vosso espírito deseja”... (3)
Quase sempre reclamamos de Deus nas horas de provações e dificuldades. Mas, algumas pessoas, e esse é o caso de São Vicente de Paulo, descobriu, na escuridão, o próprio carisma. Descobriu os pobres a quem passou a chamar de “os nossos patrões”. Em seus escritos podemos descobrir muitas outras afirmações sobre os pobres. Elas nos ajudarão a entender melhor a mística vicentina. Cito, abaixo, algumas dessas afirmações:
A, Os pobres que não sabem para onde ir, nem o que fazer, que já sofrem e se multiplicam todos os dias, este é meu peso e minha dor.
B, Nós somos os padres dos pobres. Deus nos escolheu para eles. Lá está nossa riqueza. Tudo mais é acessório.
C, É muito mais fácil falar dos pobres do que acompanhá-los ou partilhar sua condição de vida...
D, O pobre é aquele que descobre para nós o primeiro Sofredor. Aquele que carrega o peso de todas as misérias do mundo.: Jesus Cristo, pobre e humilhado. Ele é o Sacramento de Cristo.
E, Não devo considerar um pobre aldeão ou uma pobre mulher conforme seu exterior, nem conformo o que parece pelo reflexo de seu espírito; tanto assim que muitas vezes não tem sequer a figura e o espírito de pessoas racionais, tão grosseiros e terrenos eles são. Virai a medalha, porém, e vereis pelas luzes da Fé que o Filho de Deus, que quis ser pobre, nos é representado por esses pobres.
F, Ser cristão e ver seu irmão afligido, sem chorar com ele, sem sentir-se doente com ele! Isso é não ter caridade; é ser cristão de rótulo; e não ter nada de humanidade; é ser pior que os animais.
G, Se alguém vier bater à vossa porta na hora da oração para que uma filha se apresse em visitar um pobre enfermo, urgente, que fará ela? Fará bem indo e deixando sua oração, ou melhor, continuando-a, porque Deus lhe esta ordenando isso. Estais vendo, pois, que a caridade está acima de todas as regras, e é preciso que todos se atenham a ela . É uma grande Dama. É preciso fazer o que ela manda. Neste caso é deixar Deus pó causa de Deus .
Olhando hoje, para o grande exemplo deixado por São Vicente de Paulo, cada um de nós pode fazer uma revisão de vida. Muita coisa, certamente, poderia ser mudada. À luz desse exemplo, podemos nascer de novo, conforme a orientação dada por Cristo a Nicodemos. Nascer de novo é uma tarefa sempre continuada para aqueles que desejam colocar a própria vida a serviço de Jesus.
1- Citação tirada de Renouard, Jean- Pierre. Orar 15 dias com São Vicente de Paulo. Aparecida, SP, Santuário, 2004 pp 42
2- Daniel-Rops Henri, 1901-1965 - A Igreja dos Tempos Clássicos (1). SP, Quadrante, 2000 – PP 16
3- Citação tirada de Renouard, Jean- Pierre. Orar 15 dias com São Vicente de Paulo. Aparecida, SP, Santuário, 2004 pp 33 (Todas as citações no final do texto foram copiadas desse livro ao longo do texto)
São Vicente de Paulo teve que suportar durante muitos meses uma falsa acusação de roubo. Por dois domingos chegou a ser acusado no púlpito, publicamente. Em Paris, em 1608 foi excluído da sociedade gascã e foi descartado socialmente como uma companhia pouco recomendável. Quanto a isso ele nunca se defendeu. Apenas dizia: Não cabe a nós prestar esclarecimentos; se eles nos atribuem o que não fizemos. Não cabe a nós defender-nos. Deus está vendo... que nós deixemos para Ele o discernimento das coisas.Ele saberá muito bem, no tempo oportuno, fazer conhecer a verdade. Mais tarde o verdadeiro ladrão apareceu e assumiu o seu erro (01).
Há um fato em sua biografia, no entanto, que não esconde a crise de fé pela qual passou.
Em seu tempo havia um teólogo brilhante, doutor pela Universidade de Sorbone (Provavelmente, Nicolas Coeffeteau) que possuía uma inteligência rara (2). Por causa disso, foi convidado a trabalhar no palácio da Rainha Margô (Margarida de Valois) onde, em contato com a vida palaciana acabou perdendo a fé. Ciente disso, São Vicente de Paulo, durante uma prece, ofereceu-se para sofrer em seu lugar. Ao que parece, tal oferta foi aceita por Deus (Princípio da reversibilidade dos méritos), pois a partir de então, o teólogo recuperou sua fé enquanto Vicente viu a sua própria fé entrar em crise. E Agora, o que fazer? – Uma ideia lhe veio à mente: - Devo trabalhar mais ainda junto aos pobres e me identificar cada vez melhor com Cristo! Chegou a escrever num papel a Oração do Credo e colocá-la no bolso. Nas horas de crise levava a mão, ligeiramente, sobre a oração. Tinha consciência de que aquilo era uma provação e que mais cedo ou mais tarde iria passar. Mas, não deixou de ser um momento de grande provação em sua vida. Totalmente compromissado com os pobres e com a ajuda de Padre Pierre de Bérulle, seu diretor espiritual, essa crise acabou sendo superada. O deserto nem sempre foi algo ruim. Na história do Povo de Deus foi um local de purificação. No deserto o povo teve grandes experiências de Deus e aprendeu a ser livre.
Atravessar uma noite escura da fé, não foi privilégio de São Vicente de Paulo. Outros santos também vivenciaram esse aparente abandono de Deus. No caso, de São Vicente, tal provação fez dele um grande apóstolo da caridade para com os mais pobres. Tornou-se um homem bem temperado por Deus e sem excessos. Numa de suas cartas à Luiza de Marilac se pode perceber esse equilíbrio: - “Descarregai vosso espírito de tudo o que vos faz pena, Deus vai cuidar. Não saberíeis afobar-vos nisso sem contristar, o Coração de Deus, porque ele vê que não o honrais suficientemente com a santa confiança. Confiai nele, eu vos suplico, e tereis o cumprimento daquilo que vosso espírito deseja”... (3)
Quase sempre reclamamos de Deus nas horas de provações e dificuldades. Mas, algumas pessoas, e esse é o caso de São Vicente de Paulo, descobriu, na escuridão, o próprio carisma. Descobriu os pobres a quem passou a chamar de “os nossos patrões”. Em seus escritos podemos descobrir muitas outras afirmações sobre os pobres. Elas nos ajudarão a entender melhor a mística vicentina. Cito, abaixo, algumas dessas afirmações:
A, Os pobres que não sabem para onde ir, nem o que fazer, que já sofrem e se multiplicam todos os dias, este é meu peso e minha dor.
B, Nós somos os padres dos pobres. Deus nos escolheu para eles. Lá está nossa riqueza. Tudo mais é acessório.
C, É muito mais fácil falar dos pobres do que acompanhá-los ou partilhar sua condição de vida...
D, O pobre é aquele que descobre para nós o primeiro Sofredor. Aquele que carrega o peso de todas as misérias do mundo.: Jesus Cristo, pobre e humilhado. Ele é o Sacramento de Cristo.
E, Não devo considerar um pobre aldeão ou uma pobre mulher conforme seu exterior, nem conformo o que parece pelo reflexo de seu espírito; tanto assim que muitas vezes não tem sequer a figura e o espírito de pessoas racionais, tão grosseiros e terrenos eles são. Virai a medalha, porém, e vereis pelas luzes da Fé que o Filho de Deus, que quis ser pobre, nos é representado por esses pobres.
F, Ser cristão e ver seu irmão afligido, sem chorar com ele, sem sentir-se doente com ele! Isso é não ter caridade; é ser cristão de rótulo; e não ter nada de humanidade; é ser pior que os animais.
G, Se alguém vier bater à vossa porta na hora da oração para que uma filha se apresse em visitar um pobre enfermo, urgente, que fará ela? Fará bem indo e deixando sua oração, ou melhor, continuando-a, porque Deus lhe esta ordenando isso. Estais vendo, pois, que a caridade está acima de todas as regras, e é preciso que todos se atenham a ela . É uma grande Dama. É preciso fazer o que ela manda. Neste caso é deixar Deus pó causa de Deus .
Olhando hoje, para o grande exemplo deixado por São Vicente de Paulo, cada um de nós pode fazer uma revisão de vida. Muita coisa, certamente, poderia ser mudada. À luz desse exemplo, podemos nascer de novo, conforme a orientação dada por Cristo a Nicodemos. Nascer de novo é uma tarefa sempre continuada para aqueles que desejam colocar a própria vida a serviço de Jesus.
1- Citação tirada de Renouard, Jean- Pierre. Orar 15 dias com São Vicente de Paulo. Aparecida, SP, Santuário, 2004 pp 42
2- Daniel-Rops Henri, 1901-1965 - A Igreja dos Tempos Clássicos (1). SP, Quadrante, 2000 – PP 16
3- Citação tirada de Renouard, Jean- Pierre. Orar 15 dias com São Vicente de Paulo. Aparecida, SP, Santuário, 2004 pp 33 (Todas as citações no final do texto foram copiadas desse livro ao longo do texto)
Excelente!
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