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domingo, 4 de novembro de 2018

Mineiro não perde o trem


A frase que intitula esse artigo é uma frase clichê para falar da pontualidade dos mineiros. Ela não é de todo mentira. Lembro-me bem, de certa ocasião em que eu, ainda criança, fui esperar o ônibus que nos levava à cidade, junto com meu pai. Para chegar ao ponto do ônibus a gente fazia outra “viagem” a pé. Para não corrermos o risco de perder “aquele trem” levantamos mais cedo que de costume e rumamos em direção ao ponto. Ao chegar lá vimos o ônibus passando na direção contrária. Ele ainda estava vindo e nós só o tomaríamos na volta... Esperamos uma eternidade. Mas, perder a condução? – Nem pensar!

Entre as histórias de minha infância lembro-me também de outra que fala da pontualidade mineira e do medo que os mineiros tem de perder a condução. Tratava-se de uma senhora, já na casa dos setenta, que se maquiava toda um dia antes da viagem para não se atrasar nos preparativos. Nos embalos do colchão a maquiagem a borrava bastante. Mas, era melhor ir assim mesmo, pois, caso contrário, poderia não ir. Quem tinha hora marcada, ainda que fosse ao dia seguinte, não poderia perder tempo com embondos!

Pensando bem, todos nós temos a hora marcada. Refiro-me à nossa morte. É bem verdade que não sabemos nem a hora nem o dia. Por isso é bom andarmos prevenidos. “Quando a barba do vizinho está pegando fogo, temos que colocar a própria barba de molho”.  A morte não bate apenas na porta do vizinho. Um dia ela baterá à minha também. E agora José? Será que estamos vivendo bem a nossa vida? Tenho feito as melhores escolhas? O que significa escolher bem, aos olhos de Deus?

No meu imaginário infantil aprendi que a morte era representada por uma mulher banguela (que covardia fizeram comigo!) e com uma foice na mão. Então, posso afirmar, com segurança, que já me deparei com ela diversas vezes. Não era incomum, naquele tempo encontrar uma mulher banguela buscando lenha... Confesso que já corri demais para me escapar da morte! Algumas vezes, ela já sorriu (sem dentes) para mim...

No filme “O sétimo selo” de Igmar Bergman, a morte é representada por um homem de capa preta com uma serra na mão. Um cavaleiro medieval tenta enganá-la, num jogo de dados para não entregar-lhe o prêmio, ao final do jogo. O prêmio era sua própria vida. Mas, essa jogadora é implacável. Ela sempre vence! Um dia quando o cavaleiro estava numa árvore para se esconder da morte ele viu que alguém serrava o tronco da mesma... Não teve como escapar!

No Cristianismo a morte é o encontro com Deus que é misericórdia e bondade. Ela não é algo aterrorizante. Morrer é ir ao encontro do Pai, um verdadeiro “oceano de amor”. Nosso Deus é o Deus da vida e a vida ultrapassa as fronteiras do mundo material. Após a morte Deus nos assumirá com tudo aquilo que semeamos de bom nesse mundo. Morrer não é acabar com tudo. É ir para junto de Deus. Deus não irá salvar apenas um grupinho de eleitos. Todos são chamados ao banquete. O Reino de Deus, muitas vezes foi comparado a um banquete. Banquete é lugar de festa e de alegria. Um dia todos nós nos encontraremos na casa do Pai. Essa ideia de ir à casa do pai é maravilhosa. É claro que pensamos nesse tema a partir de uma ótica de fé. Ainda bem. É bem melhor pensar a morte como um abraço de Deus ou apenas como um abismo sem sentido.

Um comentário:

  1. A vida é feita de desafios e diante da morte com o olhar do espírito cristão, somos que vencedores. Lindo texto padre, Deus o abençoe.

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