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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Diário de Bordo


Aproveitei três dias de janeiro para visitar a Cidade do Rio. Com essa visita tinha alguns objetivos que foram alcançados, graças a Deus. Queria visitar Pe Ivan, um grande amigo e conhecer um pouco a realidade de seu trabalho na Comunidade do Jacarezinho. Desejava também conhecer o local onde a Umbanda foi fundada, embora não haja muito consenso sobre isso, entre os praticantes daquela fé.  Pe. Ivan estava completando seu primeiro aniversário sacerdotal, no dia 21 de janeiro de 2019. Como leciono Cultura Religiosa na Faculdade procuro conhecer, na medida do possível, diversas religiões diferentes da minha. Daí o meu interesse em conhecer melhor a Umbanda.

Pe. Ivan é natural de Carioca, uma Comunidade próxima a Pará de Minas. Ele fez sua primeira comunhão, quando eu atendia a Paróquia de São Pedro. Sempre o admirei pela sua simplicidade, inteligência e companheirismo. Assim, que foi ordenado sacerdote pediu ao Superior dos Salesianos para trabalhar no Jacarezinho, uma Comunidade carente do Rio de Janeiro. Hoje ele dirige o Colégio Salesiano, cuida do Oratório e ajuda na Paróquia.

Uma visita ao Rio de Janeiro pode nos encantar por diversos ângulos. Não há como ignorar suas belezas naturais, e admirar a cultura local. Mas, dessa vez, meu interesse não era ir a Copacabana, ao Cristo Redentor ou assistir alguma peça teatral. Quis visitar uma Comunidade mais distante do grande centro, ou seja, a Comunidade do Jacarezinho, um agrupamento humano com aproximadamente cem mil habitantes margeando o Rio Jacaré ( no censo de 2010 já contava com quase 40 mil!).

Confesso que voltei encantando com muita coisa que presenciei ali. Há muita vida no Jacarezinho! Naturalmente ninguém pode negar os problemas. E eles existem lá ou em qualquer lugar do mundo. Mas, a Comunidade vibra ao cair da tarde. As ruelas ficam lotadas de moradores parecendo mais uma cidade do interior. O calor estava sufocante. No asfalto chegava aos 60 graus segundo o jornalismo local.  A arquitetura do Jacarezinho se parece a um mosaico cheio de retalhos coloridos. As casinhas se amontoam e mal permitem uma passagem tímida do vento que sopra quente naquele local. Como nas outras comunidades, o índice de violência também é alto no local. Mais não foi para ver isso que quis ir à Comunidade. Apesar dos problemas, vi muita fé e solidariedade entre as pessoas. Encontrei com um grupo de jovens em missão ( e plenamente suados!) no meio de grande número de usuários de drogas próximo à linha férrea. Tive a oportunidade de presidir uma missa na Paróquia onde fui tratado como um velho amigo. As pessoas mais pobres costumam ser mais solidárias, pois todas partilham das mesmas dificuldades. Circulei um pouco na Comunidade, fui às padarias, mercadinhos e vi os amaranhados de fios elétricos e telefônicos, subindo pelos postes quase tampando a luz do dia.

Tirei um dia para ir a Cachoeiras de Macacu, região metropolitana do Rio, mais precisamente, à Tenda Espírita Nossa Sra. Da Piedade. Nessa visita contei com a preciosa companhia de Leonardo Cunha dos Santos, filho de Dona Lygia Maria Marinho. Dona Lygia é filha de Zilméia de Moraes que por sua vez, é filha de Zélio Fernandino de Moraes, considerado o “instrumento” a partir do qual a Umbanda foi fundada, em 1908, por orientação de um “Espírito” que se intitulava “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Leonardo, portanto, é o bisneto de Zélio. A Tenda Espírita Nossa Sra. Da Piedade é o mais antigo centro de Umbanda em funcionamento. Em mais de um século sustenta os preceitos de humildade, amor e caridade. Ela fica incrustada entre serras e árvores frondosas. Ao seu lado corre uma cachoeira de água fria e transparente.

Ao longo da viagem Leonardo narrou-me toda a história que teve início naquele local e falou-me das lembranças que tinha de seu bisavô. A Umbanda fundada por ele, sob orientações espirituais tem como marca, entre outras coisas, a simplicidade e a sobriedade. Não se permite atabaques nos cultos e também não há sacrifícios de animais. Naquela tarde, apesar do cansaço e do calor estafante do Rio, tivemos um encontro de irmãos marcado pelo respeito e desejo de construção de um novo mundo de mais entendimento e de paz.

A viagem ao Rio, apesar de curta, me tornou uma pessoa melhor. Pude ver que meu trabalho junto aos mais pobres faz sentindo. Aprendi com os Salesianos que trabalham no Jacarezinho que, de fato, devemos estar mais próximos aos empobrecidos. Na conversa com Leonardo aprendi muita coisa que não sabia. Vi que temos caminhos diferentes, mas nosso objetivo é o mesmo: construir um mundo melhor onde o amor seja realidade e não um mero discurso. 
Que Deus abençoe a todos nós!

Penúltima foto: Tenda Espírita Nossa Sra. da Piedade

Última foto: Dona Lygia Maria, eu e Leonardo Cunha

Missa de aniversário sacerdotal de Pe. Ivan

Vista da Comunidade do Jacarezinho.

4 comentários:

  1. Sua visita a comunidade foi um presente Pe. Gabriel. O texto ficou ótimo. Forte abraço: Pe. Ivan.

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  2. Parabéns pelo trabalho, aprendi um pouco mais sobre o Rio de Janeiro que lindo.

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  3. Que lindo. Que beleza poder viver isso. Parabéns pelo trabalho.
    Às vezes o mais simples nos encanta mais que o majestoso...

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  4. Parabéns pelo trabalho e obrigada por dividir conosco suas experiências.

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