Aproveitei três dias de janeiro
para visitar a Cidade do Rio. Com essa visita tinha alguns objetivos que foram
alcançados, graças a Deus. Queria visitar Pe Ivan, um grande amigo e conhecer
um pouco a realidade de seu trabalho na Comunidade do Jacarezinho. Desejava também
conhecer o local onde a Umbanda foi fundada, embora não haja muito consenso
sobre isso, entre os praticantes daquela fé. Pe. Ivan estava completando seu primeiro
aniversário sacerdotal, no dia 21 de janeiro de 2019. Como leciono Cultura
Religiosa na Faculdade procuro conhecer, na medida do possível, diversas
religiões diferentes da minha. Daí o meu interesse em conhecer melhor a
Umbanda.
Pe. Ivan é natural de Carioca,
uma Comunidade próxima a Pará de Minas. Ele fez sua primeira comunhão, quando
eu atendia a Paróquia de São Pedro. Sempre o admirei pela sua simplicidade,
inteligência e companheirismo. Assim, que foi ordenado sacerdote pediu ao
Superior dos Salesianos para trabalhar no Jacarezinho, uma Comunidade carente
do Rio de Janeiro. Hoje ele dirige o Colégio Salesiano, cuida do Oratório e
ajuda na Paróquia.
Uma visita ao Rio de Janeiro pode
nos encantar por diversos ângulos. Não há como ignorar suas belezas naturais, e
admirar a cultura local. Mas, dessa vez, meu interesse não era ir a Copacabana,
ao Cristo Redentor ou assistir alguma peça teatral. Quis visitar uma Comunidade
mais distante do grande centro, ou seja, a Comunidade do Jacarezinho, um
agrupamento humano com aproximadamente cem mil habitantes margeando o Rio
Jacaré ( no censo de 2010 já contava com quase 40 mil!).
Confesso que voltei encantando
com muita coisa que presenciei ali. Há muita vida no Jacarezinho! Naturalmente
ninguém pode negar os problemas. E eles existem lá ou em qualquer lugar do
mundo. Mas, a Comunidade vibra ao cair da tarde. As ruelas ficam lotadas de
moradores parecendo mais uma cidade do interior. O calor estava sufocante. No
asfalto chegava aos 60 graus segundo o jornalismo local. A arquitetura do Jacarezinho se parece a um
mosaico cheio de retalhos coloridos. As casinhas se amontoam e mal permitem uma
passagem tímida do vento que sopra quente naquele local. Como nas outras
comunidades, o índice de violência também é alto no local. Mais não foi para
ver isso que quis ir à Comunidade. Apesar dos problemas, vi muita fé e
solidariedade entre as pessoas. Encontrei com um grupo de jovens em missão ( e
plenamente suados!) no meio de grande número de usuários de drogas próximo à
linha férrea. Tive a oportunidade de presidir uma missa na Paróquia onde fui
tratado como um velho amigo. As pessoas mais pobres costumam ser mais solidárias,
pois todas partilham das mesmas dificuldades. Circulei um pouco na Comunidade,
fui às padarias, mercadinhos e vi os amaranhados de fios elétricos e telefônicos,
subindo pelos postes quase tampando a luz do dia.
Tirei um dia para ir a Cachoeiras
de Macacu, região metropolitana do Rio, mais precisamente, à Tenda Espírita
Nossa Sra. Da Piedade. Nessa visita contei com a preciosa companhia de Leonardo
Cunha dos Santos, filho de Dona Lygia Maria Marinho. Dona Lygia é filha de
Zilméia de Moraes que por sua vez, é filha de Zélio Fernandino de Moraes,
considerado o “instrumento” a partir do qual a Umbanda foi fundada, em 1908, por
orientação de um “Espírito” que se intitulava “Caboclo das Sete Encruzilhadas”.
Leonardo, portanto, é o bisneto de Zélio. A Tenda Espírita Nossa Sra. Da Piedade
é o mais antigo centro de Umbanda em funcionamento. Em mais de um século
sustenta os preceitos de humildade, amor e caridade. Ela fica incrustada entre
serras e árvores frondosas. Ao seu lado corre uma cachoeira de água fria e
transparente.
Ao longo da viagem Leonardo
narrou-me toda a história que teve início naquele local e falou-me das
lembranças que tinha de seu bisavô. A Umbanda fundada por ele, sob orientações
espirituais tem como marca, entre outras coisas, a simplicidade e a sobriedade.
Não se permite atabaques nos cultos e também não há sacrifícios de animais. Naquela
tarde, apesar do cansaço e do calor estafante do Rio, tivemos um encontro de
irmãos marcado pelo respeito e desejo de construção de um novo mundo de mais
entendimento e de paz.
A viagem ao Rio, apesar de curta,
me tornou uma pessoa melhor. Pude ver que meu trabalho junto aos mais pobres faz
sentindo. Aprendi com os Salesianos que trabalham no Jacarezinho que, de fato,
devemos estar mais próximos aos empobrecidos. Na conversa com Leonardo aprendi muita
coisa que não sabia. Vi que temos caminhos diferentes, mas nosso objetivo é o
mesmo: construir um mundo melhor onde o amor seja realidade e não um mero
discurso.
Que Deus abençoe a todos nós!
Penúltima foto: Tenda Espírita Nossa Sra. da Piedade
Última foto: Dona Lygia Maria, eu e Leonardo Cunha
Missa de aniversário sacerdotal de Pe. Ivan
Vista da Comunidade do Jacarezinho.
Penúltima foto: Tenda Espírita Nossa Sra. da Piedade
Última foto: Dona Lygia Maria, eu e Leonardo Cunha
Missa de aniversário sacerdotal de Pe. Ivan
Vista da Comunidade do Jacarezinho.
Sua visita a comunidade foi um presente Pe. Gabriel. O texto ficou ótimo. Forte abraço: Pe. Ivan.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho, aprendi um pouco mais sobre o Rio de Janeiro que lindo.
ResponderExcluirQue lindo. Que beleza poder viver isso. Parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirÀs vezes o mais simples nos encanta mais que o majestoso...
Parabéns pelo trabalho e obrigada por dividir conosco suas experiências.
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