Mitologia Africana: Iansã

Oiá, senhora dos ventos e das tempestades, era esposa de Ogum, e o ajudava em sua forja. Fazia vento para avivar as brasas do ferreiro....


Oiá, senhora dos ventos e das tempestades, era esposa de Ogum, e o ajudava em sua forja. Fazia vento para avivar as brasas do ferreiro. Em recompensa pela valiosa ajuda, Ogum a presenteou com uma varinha mágica. Quando usada na guerra, tal varinha tinha o poder de dividir um homem em sete e a mulher em nove partes.  Acontece que um dia, o feitiço virou-se contra o feiticeiro. Oiá traiu o marido com Xangô. Ela não resistiu aos encantos de Xangô e acabou se deitando com ele. Isso provocou uma luta sangrenta entre Xangô e Ogum. Durante a luta Oiá tocou Ogum com sua vara mágica e ele se dividiu em sete partes. Passou a ser chamado de Ogum Mejê. Mas, antes disso, Ogum também usou a vara contra Oiá e ela também se dividiu em nove partes. Passou a ser chamada de Iansã, ou Iyámesan, a mãe que se transformou em nove. Seu nome também pode apontar para sua beleza. Por isso, às vezes é chamada de Senhora do entardecer ou senhora  do crepúsculo.

O número nove, ligado à Oiá, está na origem do nome Iansã, referência que pode ser encontrada no antigo Daomé (atual Benin), onde o culto a Oiá,  acontece em Porto Novo sob o nome de Avesan ou abesan. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimesan (com nove cabeças), alusão aos supostos nove braços do delta do Rio Odô Oiá, o Rio Níger. Oiá representa a mulher forte e capaz de se transformar num búfalo quando precisa lutar pelos seus filhos.

Conta-se, que certa vez, Ogum caçava na floresta quando viu um grande búfalo. Ficou de espreita para abater a fera. Mas, de repente, de sob a pele do búfalo saiu uma linda mulher. Era Oiá. Sem perceber que estava sendo observada ela escondeu a pele num formigueiro e foi para o mercado. Assim que Oiá ganhou distancia, Ogum roubou a pele e a escondeu em sua casa. Logo após, se encaminhou para o mercado e fez propostas de casamento para Oiá, ao que ela não aceitou. Percebendo, mais tarde, que seu segredo havia sido descoberto acabou aceitando casar-se com Ogum para ter sua pele de volta. Exigiu, no entanto, que ele guardasse aquele segredo. Certo dia, ogum após ingerir boa dose de bebida alcoólica, Ogum revelou o segredo para suas outras mulheres. Enciumadas da beleza de Oiá, as outras mulheres começaram com implicâncias. Iansã, já não suportando tais implicâncias encontrou sua pele de búfalo e após vesti-la, partiu para cima das outras mulheres de Ogum. Não ficou sequer, uma mulher viva nem para contar a história! Seus nove filhos, no entanto, foram poupados. Depois dessa carnificina Iansã desapareceu. Mas, antes de desaparecer deixou seu par de chifres para os filhos. Em caso de perigo, bastaria que os filhos batessem um chifre no outro para que Iansã viesse socorrê-los. Como boa mãe, Iansã é capaz se erguer da sepultura para defender os seus filhos em caso de perigo.

Uma faculdade de Oiá é seu poder sobre o reino dos mortos. Mas, isso aconteceu graças às suas virtudes. A história se deu da maneira seguinte:

Certa vez, houve uma festa e todas as divindades foram convidadas. Omulu-Obaluaê chegou para a festa, vestindo, como sempre, sua roupa de palha. Nenhuma mulher quis dançar com ele. Somente Oiá, atirou-se corajosamente, para dançar com o Senhor da Terra. Tanto girava na dança que acabou provocando uma ventania. Nisso, as palhas que cobriam Omulu voaram pelos ares. Então, se descobriu que sob as palhas havia um belíssimo homem. Agradecido a Oiá por ter dividido com ele o prazer da dança, Obaluaê dividiu com ela o seu reino. Fez dela  a rainha dos espíritos dos mortos.  Por isso, passou a ser chamada de Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos.

No sincretismo religioso brasileiro, Oiá e vista como Santa Bárbara e em Cuba como Nuestra Señora de La Candelaria. Seus símbolos são os chifres do búfalo e alfanje (espada). Seu arquétipo é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Sua ligação com os raios e tempestades se deve ao fato de ela ter provado uma poção mágica destinada a Xangô. Depois disso, ela também passou a cuspir fogo pelas ventas...

Confesso que conheço muitas filhas de Iansã... Valha-me Deus!


Obras consultadas para esse artigo:


Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. SP. Cia das Letras, 2001

Verger, Pierre-Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª edição. Salvador, BA, Corrupio, 1997. Pp. 14.
__________________ . Orixás, deuses Iorubás, na África e no Novo Mundo. 5ª Edição, Salvador, Corrupio. 1997. PP 86.


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