Mitologia Africana: Ogum
Ogum, filho de Odudua, era rei de Ifé (1). Sempre foi um grande conquistador. Era guerreiro e valente. Por isso, acabou assumindo o t...
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Durante uma de suas batalhas
conquistou, de uma só vez, uma cidade(Irê) formada por sete aldeias. Isso lhe rendeu
o título de Ogum mejêjê lodê Irê (Ogum das sete partes de Irê). Noutra ocasião
matou o rei de Onirê e o substituiu no trono por seu próprio filho. Mas, reteve
para si o título de rei. Por isso também é saudado com o título de Ogum Onirê(Ogum,
rei de Irê). Apesar de sua valentia a ele foi autorizado usar apenas uma
pequena coroa na cabeça (2). Por isso é também conhecido com o título de Ogum
Alakorô (Ogum, dono da pequena coroa).
Depois de instalar o seu filho no
trono definitivamente, Ogum fez o que mais gostava: Partiu para uma guerra
prolongada. Ao retornar da mesma chegou ao reino do filho num dia cerimonial.
Na referida cerimônia todos deveriam permanecer em silêncio. Ogum não sabia
disso e acabou se irritando com os servos do palácio que não respondiam suas
perguntas. Por isso, matou uma meia dúzia deles. Terminada a cerimônia foi
recebido, solenemente, pelo filho. Só então pode se fartar da comida que mais
gostava: Cães, caramujos, vinho de palma, feijão regado ao azeite de dendê. Mas,
envergonhado do que fizera Ogum quis
sair de cena definitivamente. Baixou sua espada e desapareceu sob a terra.
Tornou-se um Orixá. Antes de sumir no abismo da terra pronunciou algumas
palavras que ainda hoje só podem ser usadas pelos seus filhos em contexto de
guerra e diante dos inimigos.
A afinidade de Ogum com a
metalurgia fez dele o patrono dos ferreiros, marceneiros, açougueiros, etc. Seu
espaço sagrado é marcado por uma bigorna e alguns objetos (sete) de ferro, tipo
alicate, marreta...
No sincretismo religioso, Ogum foi
identificado com diversos santos católicos:
Na Bahia foi identificado com
Santo Antônio, pois esse também chegou a assumir comando militar no Brasil Império
(3). No Rio de Janeiro foi associado a São Jorge, um valente guerreiro cuja
farda nos lembra a de um soldado. Em Cuba foi associado a São Pedro e São João
Batista e no Haiti com outros santos como São Tiago Menor e São José.
O arquétipo de Ogum é o das
pessoas violentas, briguentas e impulsivas. É o arquétipo das pessoas que lutam
sem desanimar na conquista de seus ideais. Representam aquelas que não se
abatem fácil diante das dificuldades e aquelas cuja mudança de humor podem variar
rapidamente. Talvez, o que chamaríamos hoje de pessoas bipolares.
As louvações ( Oríkì) destinadas
a Ogum, normalmente, realçam sua valentia:
Ogum que, tendo água em casa,
lava-se com sangue. Os prazeres de Ogum são os combates e as lutas. Ogum come
cachorro e bebe vinho de palma. Ogum, o violento guerreiro, vencedor de
demandas...
Na mitologia africana ( dos povos
Iorubás) Ogum é um Orixá muito importante. Depois de Exu, ele é o segundo invocado
em qualquer cerimônia. Na memória dos escravos que chegaram ao Brasil, Ogum
jamais foi apagado.
1, Ifé: Antiga Cidade Iorubá
localizada na África, atual Nigéria.
2, Por razões desconhecidas Ogum
nunca teve o direito de usar uma coroa (Adé), feita com pequenas contas de
vidro e ornada por franjas de miçangas, dissimulando o rosto, emblema de
realeza para os Iorubás. Usava apenas um simples diadema ( Àkòró). Isso explica
sua saudação: Ogum Onirê, Ogum Alakorô.
3, http://ggpadre.blogspot.com/2016/08/santo-antonio-militar.html
Obras consultadas
para esse artigo:
Verger, Pierre-Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª
edição. Salvador, BA, Corrupio, 1997. Pp. 14.
__________________ . Orixás, deuses Iorubás, na África e no
Novo Mundo. 5ª Edição, Salvador, Corrupio. 1997. PP 86.