Mitologia Africana: Ogum

Ogum, filho de Odudua, era rei de Ifé (1). Sempre foi um grande conquistador. Era guerreiro e valente. Por isso, acabou assumindo o t...

Ogum, filho de Odudua, era rei de Ifé (1). Sempre foi um grande conquistador. Era guerreiro e valente. Por isso, acabou assumindo o trono do pai quando esse perdeu, momentaneamente, a visão.  Sua natureza guerreira fez dele um grande conquistador e, nesse empreendimento, era sempre bem sucedido. Vencia os reinos vizinhos, escravizava os prisioneiros e enchia seu palácio em Ifé, com os despojos da guerra. Casou-se com Ojá e com ela teve um filho chamado Oxóssi. Depois teve ainda três mulheres: Iansã (bela e fascinante), Oxum (vaidosa e sensual), Obá (vigorosa e guerreira).


Durante uma de suas batalhas conquistou, de uma só vez, uma cidade(Irê) formada por sete aldeias. Isso lhe rendeu o título de Ogum mejêjê lodê Irê (Ogum das sete partes de Irê). Noutra ocasião matou o rei de Onirê e o substituiu no trono por seu próprio filho. Mas, reteve para si o título de rei. Por isso também é saudado com o título de Ogum Onirê(Ogum, rei de Irê). Apesar de sua valentia a ele foi autorizado usar apenas uma pequena coroa na cabeça (2). Por isso é também conhecido com o título de Ogum Alakorô (Ogum, dono da pequena coroa).

Depois de instalar o seu filho no trono definitivamente, Ogum fez o que mais gostava: Partiu para uma guerra prolongada. Ao retornar da mesma chegou ao reino do filho num dia cerimonial. Na referida cerimônia todos deveriam permanecer em silêncio. Ogum não sabia disso e acabou se irritando com os servos do palácio que não respondiam suas perguntas. Por isso, matou uma meia dúzia deles. Terminada a cerimônia foi recebido, solenemente, pelo filho. Só então pode se fartar da comida que mais gostava: Cães, caramujos, vinho de palma, feijão regado ao azeite de dendê. Mas, envergonhado do que fizera Ogum  quis sair de cena definitivamente. Baixou sua espada e desapareceu sob a terra. Tornou-se um Orixá. Antes de sumir no abismo da terra pronunciou algumas palavras que ainda hoje só podem ser usadas pelos seus filhos em contexto de guerra e diante dos inimigos.

A afinidade de Ogum com a metalurgia fez dele o patrono dos ferreiros, marceneiros, açougueiros, etc. Seu espaço sagrado é marcado por uma bigorna e alguns objetos (sete) de ferro, tipo alicate, marreta...

No sincretismo religioso, Ogum foi identificado com diversos santos católicos:
Na Bahia foi identificado com Santo Antônio, pois esse também chegou a assumir comando militar no Brasil Império (3). No Rio de Janeiro foi associado a São Jorge, um valente guerreiro cuja farda nos lembra a de um soldado. Em Cuba foi associado a São Pedro e São João Batista e no Haiti com outros santos como São Tiago Menor e São José.

O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas. É o arquétipo das pessoas que lutam sem desanimar na conquista de seus ideais. Representam aquelas que não se abatem fácil diante das dificuldades e aquelas cuja mudança de humor podem variar rapidamente. Talvez, o que chamaríamos hoje de pessoas bipolares.

As louvações ( Oríkì) destinadas a Ogum, normalmente, realçam sua valentia:

Ogum que, tendo água em casa, lava-se com sangue. Os prazeres de Ogum são os combates e as lutas. Ogum come cachorro e bebe vinho de palma. Ogum, o violento guerreiro, vencedor de demandas...

Na mitologia africana ( dos povos Iorubás) Ogum é um Orixá muito importante. Depois de Exu, ele é o segundo invocado em qualquer cerimônia. Na memória dos escravos que chegaram ao Brasil, Ogum jamais foi apagado. 


1, Ifé: Antiga Cidade Iorubá localizada na África, atual Nigéria.

2, Por razões desconhecidas Ogum nunca teve o direito de usar uma coroa (Adé), feita com pequenas contas de vidro e ornada por franjas de miçangas, dissimulando o rosto, emblema de realeza para os Iorubás. Usava apenas um simples diadema ( Àkòró). Isso explica sua saudação: Ogum Onirê, Ogum Alakorô.

3, http://ggpadre.blogspot.com/2016/08/santo-antonio-militar.html

Obras consultadas para esse artigo:
Verger, Pierre-Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª edição. Salvador, BA, Corrupio, 1997. Pp. 14.

__________________ . Orixás, deuses Iorubás, na África e no Novo Mundo. 5ª Edição, Salvador, Corrupio. 1997. PP 86.

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