Ogum e Hefesto: artistas da metalurgia

Estamos tão acostumados com certas realidades passamos a não observá-las. A cadeira onde me assento parece que sempre existiu... A cane...


Estamos tão acostumados com certas realidades passamos a não observá-las. A cadeira onde me assento parece que sempre existiu... A caneta com a qual escrevo esconde anos de pesquisas e tecnologia!  Você já pensou o que seria de nós sem o ferro, por exemplo? É ele que sustenta minha cadeira, a mesa, o fogão, a janela de minha casa... Apesar dessa quase onipresença ele nos é tão familiar que parece ter sempre existido. Mas, não foi bem assim que aconteceu. Vou falar de dois mitos que nos remetem à origem do uso desse metal tão precioso! O primeiro mito, fala de Ogum, um Orixá, do Candomblé e o segundo de Hefesto  um deus da mitologia grega.

Ogum, certa ocasião, consultou Ifá. Queria saber como se tornaria rei em sua aldeia. Após a consulta foi instruído a fazer um ebó e também o sacrifício de um animal.

Tempos depois, os amigos de Ogum tornaram-se reis de suas aldeias, mas a situação de Ogum permanecia a mesma. Preocupado, ele foi novamente consultar Ifá e o advinho recomendou-lhe que refizesse um novo ebó. Dessa vez,  deveria sacrificar um cão sobre sua cabeça e espalhar o sangue sobre seu corpo. A carne deveria ser cozida e consumida por todo seu egbé.  Depois deveria esperar a próxima chuva e procurar um local onde houvesse ocorrido uma erosão. Ali deveria apanhar da areia negra e fina e colocá-la no fogo para queimar.

Ansioso pelo sucesso, Ogum fez o ebó e, para sua surpresa, ao queimar aquela areia, ela se transformou na quente massa que se solidificou em ferro. O ferro era a mais dura substância que ele conhecia, mas era maleável enquanto estava quente. Ogum passou a modelar a massa quente. Forjou primeiro uma tenaz, um alicate para retirar o ferro quente do fogo. Assim, era mais fácil manejar a pasta incandescente. Depois  forjou uma faca e um facão. Satisfeito, passou a produzir toda espécie de objetos de ferro e a ensinar seu manuseio. Veio fartura e abundancia para todos. Dali em diante Ogum Alagbedé, o ferreiro, mudou. Prosperou muito e, desde então,   passou a ser saudado como Aquele que Transforma a Terra em Dinheiro.

A segunda estória ligada ao ferro chega até nós graças à mitologia grega.  Ela nos fala de Hefesto (Hephaistos), o ferreiro do céu. Hefesto era filho de Hera e Zeus e foi um dos doze deuses do Olimpo.  Por ter nascido com um defeito nas pernas andava mancando. Além de coxo era possuidor de rara feiura. Por isso, foi rejeitado pela mãe e atirado no abismo ao lado do Monte Olimpo. Acontece que ele foi amparado por Tétis e Eurínome, que o criaram com amor abrigando-o numa caverna vulcânica das imediações. Nesse local, durante nove anos, ele aprendeu todos os segredos da metalurgia. Sabia dominar o fogo e amolecer os metais. Por isso, suas peças eram muito refinadas e possuíam alto valor. Seu talento profissional encobriu sua feiura e ele acabou se casando com uma das deusas mais lindas do Olimpo: Afrodite. Foi ele quem fez as flechas de Apolo, as armas de Aquiles e o tridente de Poseidon. No casamento, como era de se esperar,  não foi muito bem sucedido. Mas, isso já seria tema para outra crônica...

Na terceira parte de nossa conversa queremos descobrir o elo entre esses dois mitos. Tanto no primeiro quanto no segundo temos histórias ligadas à metalurgia. Com essa arte o homem compensou muitas deficiências. É verdade que, em certas situações, não fomos privilegiados pela natureza. Não temos as unhas do leopardo, os dentes do leão nem a velocidade de outros animais. Mas, para compensar essa “deficiência” podemos fazer as facas, alicates, e automóveis... Isso só foi possível graças ao domínio da metalurgia. Por causa do ferro aumentamos nossas colheitas, forjamos nossas armas e conquistamos o universo.

O outro nome (romano) de Hefesto é Vulcano. Isso lembra-nos a energia do fogo. Imagine o potencial destrutivo de um vulcão?  É com a energia do fogo que fabricamos as mais finas peças de metais. O homem criado do barro (cheio de fraquezas) compensa sua deficiência com arte e criatividade. Consegue superar a si mesmo, nem que tenha que fazer como Prometeu que, roubou o fogo do céu para conquistar a terra...

Fontes consultadas para essa crônica:

BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia – História dos Deuses e Heróis. RJ, Edidouro, 2003

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo, Cia das Letras, 2001.


Significado de algumas palavras:

Ogum: Ogum ou Ogulê (em iorubá: Ògún) é, na mitologia iorubá, o orixá ferreiro, senhor do ferro, da guerra, da agricultura e da tecnologia. O próprio Ogum forjava suas ferramentas, tanto para a caça, como para a agricultura e para a guerra. 

Orixá : A palavra Orixá significa Ori=cabeça, Xá=Rei, senhor. Senhor da Cabeça.

Hefesto: (cujo nome parece radicar em duas raizes gregas que significam: alumiar e lareira) personifica o fogo, tanto o fogo que explode no céu (o saracoteio que lhe é atribuído, na Antiguidade,  representava o ziguezague do relâmpago) como aquele que é produzido pelos vulcões.

Ifá:Deus dos oráculos e da adivinhação. Senhor do destino. Ifá Bàbá Ní Awo “Pai que tem o segredo”. Ele também é chamado de “Deus das Nozes de Palma” e tem o título de Gbangba.

Ebó: sacrifício ou oferenda. Termo que designa, genericamente, oferendas e sacrifícios. Usa-se também trabalho, despacho, feitiço para a limpeza do corpo espiritual, livramento de eguns e abertura de caminhos.

Egbé: sociedade, comunidade de pessoas com o mesmo propósito

Alagbedé: ferreiro

Hera: Hera, cujo nome deriva de uma raiz   sânscrita que significa céu, representa, na  antiguidade, o tipo divinizado da mulher, esposa e mãe. Era uma das filhas de Cronos e de Reia, nascida na ilha de Samos, mas engolida por seu pai, como todos os seus irmãos, no momento do seu nascimento.

Zeus: Zeus, cujo nome evoca a raiz sânscrita dyaus: o dia (latim dias) – é o deus do céu luminoso e de todos os fenômenos atmosféricos (nuvens,  chuvas, ventos e tempestades). Ele vê tudo, conhece tudo, tanto o presente como o futuro. É bom, justo e sábio.

Tétis: A mais jovem das Titénides e, a este título, divindade primordial segundo a Teogonia de Hesíodo, representa a terra sólida que se uniu com o seu irmão Oceano, o mais velho dos Titãs, deus do elemento líquido.

Eurínome: Personagem da mitologia grega,filha de Oceano e Tétis. Eurínome e Zeus são pais de Agláia,Tália e Eufrosina,que são denominadas de ¨as Graças¨.

Apolo: Apolo é um dos dois filhos gêmeos de Zeus e de Leto (que Hesíodo apresenta como uma divindade da noite). A sua irmã Ártemis é a deusa da lua, enquanto ele é o senhor do sol (na Antiguidade, distinguia-se o deus do sol, do próprio deus sol, Hélios, o astro solar).

Afrodite: Deusa grega da beleza e do amor. Seu culto originou-se em Chipre e estendeu-se por toda a Grécia. Era chamada de Vênus pelos romanos. Teve vários filhos, dos quais se destacam: Eros, Fobos, Deimos, Príapo, Himeneu , Enéias, e outros.

Poseidon: Deus do mar na mitologia grega,correspondendo à Netuno na romana.Era filho de Cronos e Réia e irmão de Hera,Deméter,Hades e Héstia. Também era conhecido como o deus dos terremotos e dos cavalos. Teve várias esposas e muitos filhos,dos quais  citamos: Crisaor,Pégaso,Belerodonte,Nicteu,Pélias, Lico e Polifemo.

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