Evangelização: Sucesso e fracasso

Adaptando um conselho de Jesus aos seus discípulos, acho que poderia dizer: - Olha moçada, devagar com o andor que o santo é de barro... Prudência e caldo de galinha gorda, não fazem mal a ninguém. O “gorda” foi um acréscimo, proposital, que fiz ao provérbio, até porque, galinha magra não dá bom caldo, e no tempo de Jesus não havia colesterol...

No Evangelho de São Lucas (Lc 9,1-6), orientando os discípulos sobre o trabalho missionário, Jesus alertou-os, quanto à possibilidade do fracasso. Essa palavra tem sido abolida do nosso vocabulário atual. Hoje, todo mundo quer ser vencedor! Existem milhões de cursos por aí, ensinando a arte de ser vencedor:  Deve-se  sorrir o tempo todo, ser otimista 24 horas por dia, nunca mostrar que vai ao banheiro ou briga com a sogra, além de acreditar-se  que é um super herói... Os outros? – Ora, os outros... Os outros que se danem! O centro do mundo é você! E você tem que acreditar em si mesmo. Até a alta do dólar depende do seu otimismo pessoal.  

Nessa “neura” por sucesso, nunca estamos preparados para as derrotas. Não sabemos mais conviver com frustrações, rugas e bicos de papagaios... A limitação e a morte, simplesmente, não existem... E o que é pior, parece que esse quadro tende a se agravar. O que me leva a essa conclusão? A maneira como, boa parte, de nossas crianças tem sido educada.

Faz parte de nosso tempo, os pais delegarem a educação dos filhos aos avós, às creches, ou babás.  Alegam mil razões para isso. Alguns só convivem com os mesmos, pelas redes sociais. O vovô que já criou tantos filhos, agora só quer curtir o netinho. Nessa lógica, acaba fazendo tudo o que ele quer e, sem perceber, forma um pequeno ditador. O neto sabe como manipular o vovô para conseguir o que deseja. E ai de quem lhe diz um não! Já vi criança fazer birra, homérica, na fila da comunhão, porque também quer comungar, mesmo sem estar preparada para isso.  Sem saber o que fazer, algumas avós já me procuraram na sacristia, após a missa, pedindo uma “hóstia” para o netinho porque ele estava chorando... E assim, a criança vai aprendendo a nunca ser contrariada. Hoje quer um brinquedo, amanhã um celular, depois uma moto... e por aí se vai.

Jesus, na passagem Bíblica mencionada, alertou seus discípulos, dizendo-lhes, que nem sempre, teriam sucesso na tarefa de anunciar o Evangelho. Disse-lhes, também que não deveriam brigar por causa disso, pois o Evangelho é proposta e não imposição. Ninguém deve pregar a fé empunhando espadas. Uma única vez, que Pedro fez isso, cortando a orelha de um soldado, acabou sendo repreendido por Jesus. Deus não tem a mesma pressa nossa em converter as pessoas. Por isso, é melhor andar devagar com o andor. Na pressa podemos arrancar o trigo com o joio...

A cruz de Cristo, humanamente falando, aponta para um fracasso e não para  o sucesso. A vitória sobre a Cruz é uma ação de Deus, pois sendo amor em estado puro foi capaz de superar a morte e a brutalidade da cruz. Jesus, portanto, não foi um modelo de sucesso como estamos acostumados a pensar. Foi um modelo de obediência amorosa ao projeto do Pai. Esse “projeto de Deus”, nunca será entendido se pensarmos que tudo só depende de nós e das nossas escolhas. O que Deus entende por sucesso e fracasso parece ser bem diferente do nosso entendimento sobre as mesmas realidades. Deus é aquele que vence perdendo. E Jesus nos ensina que, às vezes, é preciso perder para ganhar...

Pense nisso!