São Benedito, sua casa cheira...

“... São Benedito, sua casa cheira, cheira cravo e rosa, flor de laranjeira...” Esse é o trecho de uma música, muito linda, dedicada a São Benedito. Não consigo cantá-lo, sem imaginar a beleza dos aromas...

O cheiro do cravo dispensa comentários. O “Cravo da Índia”, ou cravinho, é muito usado na culinária brasileira para diversas finalidades. Seu uso medicinal é indicado no combate às dores, infecções e aumento do apetite sexual. Pode ainda ser usado para incrementar o quentão (bebida para as noites frias), e também para espantar traças e deixar as roupas cheirosas nas gavetas.

Sobre o perfume das rosas poderíamos escrever um texto inteiro. Perfume de rosa indica coisa boa. Pessoas que conquistaram alto grau de santidade costumam exalar um perfume semelhante ao das rosas, já em vida e, sobretudo, após a morte. Tais pessoas são chamadas de “miroblitas” (Myron, em grego = óleo perfumado). Assim, aconteceu com Santa Terezinha, a “Santa das Rosas”, Padre Pio e tantos outros. Exalar santidade deveria ser um desejo de todos nós, pois fomos enviados para espalhar o bom perfume de cristo ao mundo.

A flor de laranjeira exala uma fragrância suave e benfazeja. Ela também tem uso medicinal. É indicada contra o nervosismo, a ansiedade e indigestão. É um calmante natural e ajuda a equilibrar a ansiedade. As noivas também gostam de usá-las em buquês. Além de bonitas transmitem paz e serenidade.

A “Casa de São Benedito”, a Igreja a ele dedicada deverá ser uma casa de saúde. Onde aromas e sabores se misturam. Esse Santo Negro, tão querido de nosso povo, é mais do que o patrono da boa cozinha. É mestre de caridade e de virtude. As diversas narrativas sobre São Benedito falam que ninguém passava fome quando ele estivesse por perto. Os pobres se amontoavam nas portas de seu convento para suplicar um pedaço de pão. Ele dava comida, atenção e abençoava a todos. De sua casa, ninguém saia da maneira como havia entrado. O perfume de sua santidade exalava longe. E exalou tão longe que chegou ao Brasil.

No Brasil, as histórias do santo, foram recriadas à nossa maneira. Frei Chico, em seu Dicionário da Religiosidade Popular, nos conta uma narrativa sobre São Benedito, bastante curiosa, de Araçuai – MG.

A lenda nos diz que a Princesa Isabel teve um filho de duas cores: Era preto, da cintura para baixo e branco, da cintura para cima. Com vergonha da aparência do filho, andava com ele sempre coberto da cintura para cima. Aí, então, fez uma promessa a São Benedito. Caso, o filho embranquecesse, ela libertaria os negros da escravidão. Não é que São Benedito a atendeu! Aos poucos, o filho da Princesa Isabel, foi se tornando branco. Aí ela não teve escolha senão libertar os escravos... Essa narrativa popular, analisada do ponto de vista psicológico, poderia ser muito rica... Ao mesmo tempo em que reconhece o gesto da princesa, reconhece também, que a escravidão não foi abolida por bondade... Se houve bondade, nesse caso, foi de São Benedito, que em vida, conheceu de perto, os horrores da escravidão.

São Benedito nasceu em San Fratello, perto de Messina, sul da Itália, e morreu em Palermo em 04 de abril de 1589. Sua beatificação aconteceu em 1743 e a canonização em 25 de março de 1907 com Pio VII.

No Brasil a devoção a São Benedito, chegou bem cedo, trazida pelos portugueses e espalhou por todo o território. O povo negro o escolheu como patrono e defensor. O Santo Negro que carrega o Menino Jesus transmite uma mensagem a todos: O Deus Menino não exclui ninguém de sua presença! Representado com o Menino nos braços, São Benedito parece inebriado por essa presença de luz. E o menino Jesus, sentido o perfume de rosas e flor de laranjeiras,  dorme calmamente em seus braços.  

Olhando para as imagem eu não sei de qual dos dois tenho mais inveja...


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Imagem de Hans Braxmeier por Pixabay