O fio da meada

Minha mãe tinha o hábito de fiar e mandar tecer colchas com linhas de algodão. Uma parte do processo era a tintura dos fios. Para isso, deveriam sair do novelo e formar uma meada. Diversas meadas seriam tingidas com variadas cores que dariam um toque de beleza, na pobreza de nossas vidas. Após a pintura das meadas, elas se desfaziam novamente, quando as linhas deveriam formar os novelos que seriam encaminhados às tecedeiras locais. Essa era a parte mais cara do trabalho e muitas vezes arrancavam queixas na família. O processo de enovelamento exigia paciência e testava o nível de estresse de cada um. De vez em quando se perdia o fio da meada. Era um transtorno! Pior era quando a meada de linha se embaraçava. Isso tirava qualquer um do eixo. Movida mais pela necessidade do que pelo hábito, minha mãe retomava sempre essa função, às vezes, até tarde da noite...

Hoje quero usar essa imagem da tecedeira para falar de Deus. Ele é um verdadeiro “tecelão”, que ao pensar nossa história, nunca perde o fio da meada! A história humana é um tecido multicor formado por diversas linhas. Elas são as participações individuais que entram nesse processo de textura do que chamamos “Reino de Deus”. O Reino é tecido pela nossa humanidade com suas fraquezas. No entanto, Deus quis assim. Por isso, conta com todos nós. Cada um se assemelha a uma linha que se junta à outra para dar colorido à obra divina. Essa colcha teve início em Adão e terminará um dia com o juízo final. A primeira linha usada por Deus arrebentou-se logo no início dos movimentos do tear. Adão pecou. Mas, Deus não tem o hábito de deixar uma obra inacabada. Por isso, reforçou essa linha com o perdão, amarrou-a de novo e deu continuidade ao trabalho.

Ao longo da história o Reino de Deus avançou ou recuou. A força do reino se compara ao poder  da semente. Na sua aparente fraqueza esconde um vigor capaz de arrebentar a terra seca e mostrar a beleza das folhas. É a força do amor. O amor muda o mundo porque pode mudar o homem por dentro. Por isso, ele tem mais poder do que as armas. Possui uma “fraqueza” que engana. Gandhi, um líder indiano pacifista, jamais pegou em armas. No entanto, fez a Inglaterra mudar sua política imperialista com relação à Índia. Era pequeno e franzinho. Apesar disso, chamou a atenção do mundo todo para sua causa. Semelhante a Gandhi, foi Tereza de Calcutá, também na índia, e Dom Hélder Câmara, no Brasil. Gandhi, não era cristão. Mas, Deus não constrói o seu Reino apenas com os cristãos. Ele  conta com quem quiser para confeccionar esse  nobre tecido.

O anti-reino, também pode nascer e crescer na história. Ele rasga o tecido bonito que Deus constrói em parceria conosco. O nazismo, a bomba atômica, e outras desgraças mostraram-nos de forma antecipada a feiúra do inferno. O tecido bonito que Deus estava produzindo em parceria com a humanidade rasgou-se momentaneamente. Mas, Deus sempre vem ao nosso encontro. Sua ação se parece a um curso d’água que calmamente vai contornando todos os obstáculos. “Deus é fiel”. Ele jamais trai seu pacto de amor conosco. Ele nos criou livres e nunca ultrapassa esse “território sagrado” de nossa liberdade. Nós é que nem sempre sabemos usar o privilégio de ser livres. Fazemos bobagens e buscamos sofrimentos para nós e para os outros. Ao ver isso, é claro que Deus sofre. Sofre como o pai do filho pródigo que vê o filho fazer besteiras e, por respeito à sua liberdade, não o obriga a voltar para casa. Deus torce pelo nosso bem e quer nos ver ao seu lado. Por isso, quando o filho pródigo tomou a decisão de voltar para casa, o Pai mandou fazer uma festa. Bastou-lhe um pequeno gesto de conversão para que o Pai emendasse o fio da meada e reatasse a amizade com o filho. Deus é um tecelão especialista em emendar os fios. Por isso, nossa história, apesar dos pecados, é história de salvação. Você não está precisando voltar para Deus para encontrar novamente o fio da meada de sua existência, um sentido para sua vida? A hora é agora e esse é o tempo para isso. Só depende de você.

Imagem de skeeze por Pixabay