Conto de Guimarães Rosa cita Pará de Minas
O nome do Conto é “Minha Gente”. Ele é o quinto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Como em boa parte da escrita de Guimarães é a mulher...
O nome do Conto é “Minha Gente”.
Ele é o quinto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Como em boa parte da
escrita de Guimarães é a mulher que acaba guiando a trama, mesmo quando isso
não parece tão evidente. Esse conto faz muitas menções ao jogo de xadrez e isso
pode dificultar a leitura de quem não manja nada do jogo. Mas quem comanda
mesmo o jogo é Maria Irma. Ela ajeita tudo de acordo com seus interesses como
uma grande jogadora.
No conto, um narrador-personagem,
cujo nome não aparece, guia nossa atenção e fala de suas experiências. Pequenas
outras histórias vão se integrando ao conto como pequenos riachos a desaguar no
rio principal. O narrador está de visita à fazenda do seu tio Emílio que anda
muito empenhado em ganhar as eleições. Esquecendo as recomendações da infância que
o desaconselhava a namorar com as primas o narrador faz uma declaração de amor
à prima Maria Irma. Mas, ela não aceitou isso e desconversou sobre o assunto.
Só para despertar ciúmes nela ele fingiu que ia namorar uma moça da fazenda
vizinha. Seu tio ganhou as eleições quando ele já havia deixado a fazenda dele.
Na próxima visita Maria Irma apresentou-lhe Amanda. Ao que parece, o jogo já
estava armado por Maria Irma. Ele casou-se com Amanda e Maria Irma casou-se com
Ramiro Gouveia. Esse é um breve resumo do conto. Agora vamos aos detalhes.
Em sua viagem o narrador
encontra-se com Santana, inspetor escolar e especialista em jogo de xadrez. Ele
é meio fanático pela questão e chega a carregar um tabuleiro com as pedras. Em
suas andanças joga mesmo estando sobre o lombo dos cavalos. É um grande estrategista,
sabe guardar as posições de memória e consegue retomá-las, após dez anos de interrupção.
Assim, podia recomeçar um jogo de onde ele havia parado: Subvariante k da variante belga do sistema Sossegovitch-Spatogoroff do
contra-ataque semifrontal iuguslávo do peão do Bispo da Dama. Santana era ledor de Homero e seguidor de Alhókhin,
também, como um e outro cochilou... O homem, pelo jeito tinha mesmo uma
memória de elefante!
Depois de passar um tempo na
fazenda do tio Emílio e levar um fora de Maria Irma o narrador muda-se para a
fazenda das Três Barras. Lá o mundo era
bem diferente: Muitos vaqueiros, cantores; muitas violas; muitos passeios;
muito sofreu por causa do fora que levou. Nesse estado de sofrência recebeu
duas cartas. Uma falava da vitória do partido “João de Barro” e, portanto, da
vitória eleitoral do tio e a outra carta era de Santana. Nela Santana escreveu
o seguinte:
Caríssimo, - analisando a posição em que interrompemos aquela Zuckertort-Réti,
na viagem a cavalo, verifiquei que o jogo não estava perdido para mim. Ao
contrário! Junto o diagrama, porque não
confio muito na memória, desculpe. Mas, veja o avanço do cavalo preto a 5C, e,
em seguida, B3D, e o outro bispo batendo a grande diagonal, e... veja, oh
ajuizado moço Telêmaco, na quarta jogada, o tremendo ataque frontal dos peões
negros, contra o roque branco. Indefendível! Xeque-mate! Continuemos, por
correspondência. Escreva para Pará de Minas.
Seu Santana.
Ao ler aquela carta de Santana que, mesmo após muitos anos, retomou o jogo ciente que o ganharia, o narrador pensa
que no seu jogo de amor talvez, pudesse recuperar Maria Irma. Então, resolveu
voltar à fazenda do tio Emílio. Santana, extremamente, dedicado ao jogo, disposto
a jogar por correspondência, mesmo estando em Pará de Minas, serviu-lhe de
inspiração para que pudesse lutar mais pela mulher amada.
A distância entre a Fazenda Três
Barras e a Fazenda Saco-do-Sumidouro onde morava tio Emílio não era próxima.
Ainda assim, resolveu partir e chegando ao destino Maria Irmã o recebeu e não correspondeu
ao seu jogo de sedução. Ela apresentou-lhe Amada e deu um jeito de aproximar o casal. Os dois foram caminhar juntos
e, daí a pouco, começaram a namorar. No fim deu tudo certo. O narrador casa-se
com Amanda e Maria Irma com Ramiro Gouveia da Fazenda da Brejaúba do
Todo-fim-É-Bom. Viu? Quem ajeitou tudo como uma exímia jogadora foi mesmo Maria
Irma. Eu não sei se você concorda, mas no jogo do amor, quase sempre, é a mulher quem comanda...
Conto maravilhoso
ResponderExcluirE pensar que mulher não entende nada de jogo😃😃. Esperta Maria Irmã.
ResponderExcluirGostei demais!
ResponderExcluir..."O nome do Conto é “Minha Gente”. Ele é o quinto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Como em boa parte da escrita de Guimarães é a mulher que acaba guiando a trama, mesmo quando isso não parece tão evidente"...
Amém
ResponderExcluirParabéns
ResponderExcluirDeus seja Louvado
ResponderExcluir