São Marcos: Um conto de reza braba
Quando a gente começa a ler “São Marcos”, o sexto conto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa é preciso tomar cuidado para não deixar forma...
Quando a gente começa a ler “São Marcos”, o sexto conto do
livro Sagarana, de Guimarães Rosa é preciso tomar cuidado para não deixar formar
um nó na cabeça. O conto descreve o universo mágico e supersticioso do
sertanejo do interior de Minas Gerais, onde as histórias são ambientadas. Diante
do mistério Guimarães Rosa sempre coloca-se com humildade, não afirmando nem negando
coisa alguma. Em Grande Sertão Veredas, por exemplo, o leitor fica na dúvida se
Riobaldo conseguiu, ou não, fazer um pacto com o mal.
No conto São Marcos, um narrador (Izé) chegado, recentemente,
ao arraial do Calango Frito, afirma que, apesar de supersticioso, não acredita
em feitiços. Por isso, contra a opinião de muitos, ele zomba do negro João
Mangolô, que vive quase isolado num determinado lugar. Certa ocasião, quando
saiu para caçar resolveu passar nas proximidades da casa (cafua – taipa e colmo, picumã e pau-a-pique) de Mangolô e, apesar
das recomendações da Preta Sá Nhá Rita para que não mexesse com o tal, acabou “tirando
sarro” do negro. E assim o insultou:
Ô Mangolô! -Senh’ us’ Cristo, Sinhô! -Pensei que você
era uma cabiúna de queimada...
-Isso é graça de Sinhô...
-... com um balaio de rama de mocó, por cima!... -Ixe!
-Você deve conhecer os
mandamentos no negro... Não sabe?
“Primeiro: Todo negro é
cachaceiro...” -Oi, oi...
- “Segundo: Todo negro
é vagabundo.” -Virgem!
- “Terceiro: Todo negro
é feiticeiro...”
Aí, espetado em sua
dor-de-dentes, ele passou do riso bobo à carranca de ódio, resmungou, se
encolheu para dentro, como um caramujo à concléia, e ainda bateu com a porta. -Ô
Mangolô!: “Negro na festa, pau na testa!”
Após insultar o negro Mangolô, o narrador encontra-se com
Aurísio Manquitola que estava saindo da missa. Aurísio era um mameluco brancarano, cambota, anoso, asmático como um fole velho, e
com supersenso de cor e casta. Talvez, por isso, afirmou sobre Mangolô: Não gosto de urubu... Se gostasse, pegava de
anzol, e andava com uma penca debaixo do sovaco! ... Assim como o narrador, Aurísio não esconde
o tamanho de seu preconceito com relação ao negro Mangolô.
Sabendo que Aurísio também era supersticioso, num dado
momento da conversa, o narrador começa a pronunciar uma “reza braba” chamada
Oração de São Marcos só para ver a sua reação. Foi a tal oração que deu nome ao
referido conto.
“Em nome de São Marcos
e São Manços, e do Anjo-Mau, seu e meu companheiro...” e foi aí que Aurísio
Manquitola pulou para a beira da estrada, bem para longe de mim, se
persignando, e gritou: -Pára, creio-em-deu-padre! Isso é reza brava, e o senhor
não sabe com o que é que está bulindo! ... É melhor esquecer as palavras... Não
benze pólvora com tição de fogo! Não brinca de fazer cócega debaixo de saia de
mulher séria! ...
Aurísio Manquitola disse que tal oração não deveria ser dita
nem de brinquedo. Isso poderia trazer muito azar para a pessoa. Mas, o que é
isso diante de alguém que está sempre disposto a zombar da fé alheia? Apesar de
todas as recomendações dos amigos o narrador continuava a zombar daquilo que
entendia ser superstição de gente simples. Seguindo em frente descreve tudo o
que vê e fala das belezas da mata onde ia caçar. E quando menos esperava tudo escureceu para ele:
“E, pois, foi aí que a
coisa se deu, e foi de repente: como uma pancada preta, vertiginosa, mas
batendo de grau em grau – um ponto, um grão, um besouro, um anu, um urubu, um golpe
de noite... E escureceu tudo”.
Sem nenhuma explicação, o narrador ficou, completamente, cego
e perdido na floresta. Pensou em dar uns tiros para chamar a atenção. Mas,
certamente, ninguém iria ligar pois ele era caçador. Chegou a gritar pedindo
socorro, mas ninguém ouviu os seus gritos. Então, lembrou-se da oração de São
Marcos e a rezou. De repente, foi quase puxado por uma força invisível e quando
viu estava nas imediações da cafua de João Mangolô. Ao constatar isso pelo ronco
dos porcos que lhe chegavam aos ouvidos teve ímpeto de matar o feiticeiro.
Naquela hora sua cafua estava repleta de clientes. Ao perceber a presença do narrador
Mangolô ficou com medo e tentou fugir, mas ainda assim, foi agarrado pelo
narrador. Naquele instante recuperou a visão e cobrou uma explicação de
Mangolô:
- Conte direito o que
você fez, demônio! – gritei, aplicando-lhe um trompaço. – Pelo amor de Deus,
Sinhô...Foi brincadeira... Eu costurei o retrato, p’ra explicar o Sinhô... – E que
mais?! – Outro safanão, e Mangolô foi à parede e voltou de viagem, com
movimentos de rotação e translação ao redor do sol, do qual recebe luz e
calor. –Não quis matar, não quis
ofender... Amarrei só esta tirinha de pano preto nas vistas do retrato, p’ra
Sinhô passar uns tempos sem poder enxergar... Olho que deve ficar fechado, p’ra
não precisar de ver negro feio...
Mangolô assumiu que havia feito um feitiço contra o narrador,
afinal, já estava cansado de ser molestado por ele. Por isso, fez suas rezas e
cobriu a foto do narrador com uma fita preta. Desde então, ele perdeu
totalmente a visão.
A história acabou bem e o narrador fez as pazes com o feiticeiro.
Agora só pensava em como era bom poder enxergar. Então, percebeu que ao longe,
nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três qualidades de azul...
..."o sexto conto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa é preciso tomar cuidado para não deixar formar um nó na cabeça. O conto descreve o universo mágico e supersticioso do sertanejo do interior de Minas Gerais, onde as histórias são ambientadas"..
ResponderExcluirOlá. Como vai pas em Cristo padre meu sogro. Tem oitenta e seis anos ele e um artsasao em argila. Eu assisti oseu vídeo com um senhor lá de para de minas. Aí eu. Tive. Uma ideia de lhe falar. Será que. O senhor. Não gostaria. Será fazer uma matéria. Com. Ele ele e católico. Fervoroso. Obrigado aguardo resposta
ResponderExcluirParabéns
ResponderExcluirParabéns
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