Maior do que a fé é o poder do amor

 

Os meus irmãos do Congado cantam uma música muito bonita de cuja letra vou me valer no inicio desse artigo: “Tremeu a terra, tremeu a cruz; tremeu o mundo inteiro, só não tremeu Jesus...”

Ninguém de bom senso é capaz de negar a importância e o poder da fé na vida das pessoas. No Evangelho (Mt 17,14-20) Jesus foi categórico ao afirmar que esse poder é capaz de remover montanhas! De fato, a pessoa de fé consegue remover muitos obstáculos ao longo da vida. Pessoalmente, conheço gente que foi salva só por esse poder. Mas, se a fé é capaz de remover montanhas o amor é capaz de coisas ainda maiores. Lembro-me, de uma lenda indiana onde o “deus-macaco”, Hanuman transportou uma montanha inteira voando abraçado com ela, uma longa distancia levando ervas medicinais para curar o amigo Rama, à beira da morte, ferido num combate de guerra. O que o levou a fazer isso? A fé ou o amor? Penso, que as duas coisas. A fé o fez acreditar nessa possibilidade, humanamente, absurda, mas, o que o motivou a isso foi  seu grande amor a Rama, considerado avatar do deus Vishnu (1) Mas, voltemos à nossa reflexão:

No Evangelho citado, um pai de família aproximou-se de Jesus lhe pedindo a cura para o filho que sofria ataques de epilepsia e muitas vezes, caia no fogo ou na água. Desesperado ele confessou já ter levado o filho aos discípulos sem obter sucesso na cura. Jesus então fez um desabafo: “Ó gente sem fé e perversa! Até quando deverei ficar convosco? Até quando vos suportarei?”  Em seguida curou o menino e disse que a fé dos discípulos era pequena, talvez menor do que uma semente de mostarda: “Se vós tiverdes fé do tamanho de uma semente de mostarda, direis a esta montanha: Vai daqui para lá e ela irá. E nada vos será impossível”.

O poder da fé é algo impressionante e pode desafiar nossas certezas! Aliás, a própria fé é uma forma de certeza antecipada daquilo que ainda não se tem. “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem” (Hb 11, 1). Sendo uma virtude tão importante só pode ser mesmo um dom de Deus. Mas, São Paulo em 1 Cor 13,2 nos afirma o seguinte: “Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor eu nada seria...” e mais adiante ele completa: “O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá...” Agora, portanto, permanecem essas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém é o amor... (1 Cor 13, 13).

Quando falamos de amor temos que entender bem o que estamos falando. No caso, estou me referindo ao amor ensinado por Cristo, ou seja, o amor que nos leva a entregar a própria vida pela salvação do outro. Cristo foi quem nos ensinou o que é o verdadeiro  amor. Ele mesmo é o amor de Deus encarnado. Por isso, ainda que tudo trema, conforme diz a música dos congadeiros, Jesus permanece firme. A fé um dia deixará de existir e tudo mais passará. O amor, no entanto, jamais passará, pois o outro nome dele é Deus. Deus é amor, conforme nos diz São João: “Quem não ama não conhece Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4, 8).

A palavra amor é uma das palavras mais pronunciadas no mundo. Mas, a compreensão dela nem sempre vai na direção ensinada por Jesus. O amor cristão gera um movimento centrífugo que nos arremete para fora de nós mesmos em direção ao próximo. O contrário disso é o egocentrismo, quando tudo passa girar em torno de mim mesmo.  Quando observamos os ensinamentos de Jesus e cultivamos a fé somos fortalecidos na graça de Deus. Ainda que a terra trema sob nossos pés seguimos em frente sem cambalear. Pense nisso!

1 - http://ggpadre.blogspot.com/2019/01/hanuman-exemplo-de-amor-e-fidelidade.html

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay