Transfiguração: uma antecipação da realidade celeste

  No mais alto do calvário, morreu nosso Bom Jesus. Quis dar o último suspiro, nos braços da Santa Cruz... Quis dar o último suspiro nos bra...

 


No mais alto do calvário, morreu nosso Bom Jesus. Quis dar o último suspiro, nos braços da Santa Cruz... Quis dar o último suspiro nos braços da Santa Cruz...

O trecho acima faz parte de uma música, muito antiga, de devoção para com a Cruz de Cristo. O povo entende bem o que canta, pois o que não lhe faltam são cruzes: Desemprego, doenças familiares, filhos envolvidos com coisas erradas, casamentos que não deram certo... e por aí se vai. É certo que a cruz faz parte de nossas vidas. Quem ainda não passou por verdadeiras provações? Ser cristão é compreender que a primeira vítima da Cruz foi o próprio Cristo. Para nos salvar ele “quis dar o último suspiro nos braços da Santa Cruz”. Entender isso pode até ser fácil, mas quando ela se torna uma realidade para nós, nem sempre entendemos. Nossa condição humana tem dificuldades de enxergar a dor como uma medida pedagógica e não crescemos com as experiências dolorosas enfrentadas.

Os discípulos de Jesus não eram diferentes de nós. Eles também tiveram dificuldades em entender os caminhos de Deus. Talvez, tiveram até mais dificuldades do que nós em vista da expectativa messiânica que nutriam. Afinal, era comum esperar um messias forte e poderoso e não um messias fraco e sem poder. Como eles poderiam entender que os caminhos de Deus para a salvação da humanidade passavam pela crucificação de Jesus? Até nós, hoje em dia, temos dificuldades para entender isso. Naquele dia em que Cristo chamou Pedro de Satanás foi, exatamente, por causa dessa questão: Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens (Mt 16,23)!

O que seriam as “coisas de Deus” e as “coisas dos homens”?  As de Deus estão envoltas em mistério e o que sabemos nos foi revelado por Jesus. As dos homens não são difíceis de saber quais são. Nossos objetivos, quase sempre, são interesseiros e egoístas. Facilmente, nos embriagamos pela fama, pelo poder e pelo dinheiro. Para subir ao pódio fazemos qualquer negócio e, maquiavelicamente, afirmamos que "os fins justificam os meios". Nessa perspectiva, para se chegar a um determinado fim fazemos qualquer negócio. Vale até “passar a perna” no pai ou na mãe, para conseguir o que se pretende. Nesse jogo não há meio termo: Ou se escolhe a Deus e esquece um pouco de si mesmo ou se faz o contrário. Jesus nos ensina que os caminhos de Deus passam pela entrega amorosa ao outro. A cruz  é o completo esvaziamento de si.

No momento da transfiguração(Mc 9,2-10) os discípulos ainda não estavam, suficientemente, preparados para enfrentar a cruz. Tanto assim, que Pedro tentou dissuadir Jesus dessa possibilidade. Mas, esse momento, inevitavelmente, chegaria. Por isso, Jesus resolveu “dar-lhe uma colher de chá”, ou seja, permitiu que três deles – Pedro, Tiago e João – contemplassem sua glória, de forma antecipada. Foi um levantar da cortina para que eles pudessem ver a mesa do banquete a que teriam direito, um aperitivo só para que eles provassem, de forma antecipada, as delícias da festa. Mas, antes da festa anunciada teriam que subir outros montes e descer outras planícies nem sempre agradáveis...

Como seria bom se, em cada missa que participássemos, pudéssemos ter um pouquinho dessa experiência mística que os apóstolos tiveram no Monte Tabor! Tanto lá, quanto aqui, Jesus se transfigura. Transfigura na luminosidade gloriosa e na simplicidade do pão. A celebração da missa deveria encher de sentido o nosso dia e  nossa semana. Afinal, é o mesmo Cristo, que por diferentes formas se nos revela. A experiência dos apóstolos foi tão grandiosa que Pedro nem sabia o que dizer. Existem momentos em nossas vidas que nos marcam para sempre. Oxalá esses momentos fossem mais intensos em cada eucaristia que celebramos...

Imagem de Holger Schué por Pixabay 

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