E eu que já comprei um redentor!

 

Todo mundo paga mico nessa vida, então, também tenho direito a uma cota desse negócio. O que vou lhe dizer agora é a confissão pública de um mico que paguei. Mais do que um mico, um macaco adulto, a bem da verdade.

Para alivio do meu desespero o bombeiro hidráulico chegou na hora marcada para consertar um vazamento no meu banheiro. Ciente que ele viria às dez, o meu coração começou a palpitar às oito, feito a raposa do Pequeno Príncipe. Procurei ser gentil com ele e, por pouco, não lhe estendi um tapete vermelho para pisar. Só quem já enfrentou um vazamento no banheiro sabe o desconforto que isso gera. Ainda bem que moro só, e meu banheiro não é tão frequentado como numa casa de família!

Ao ver o “profissional” subindo as escadas com sua caixa de ferramentas me senti resgatado feito uma virgem desamparada numa ilha deserta. Após os primeiros diagnósticos do problema, com cara de poucos amigos, ele virou-se para mim e disse: - É, o problema é no redentor! - Danou-se, pensei com meus botões, esse tipo de problema deve ser insolúvel. Naquele instante, minha formação religiosa dirigiu meu pensamento em outras direções. Jamais pensei que um problema no banheiro pudesse ser causado por algo de tão nobre missão. - Você poderia me comprar a peça enquanto vou arrumando o resto?  - Sim, respondi, prontamente, e lá fui para a loja com cara de paisagem, assim como alguém que já desvendava os segredos de um projeto hidráulico.

Diante do balcão o moço não entendeu o meu pedido e chamou um vendedor mais experiente para resolver a questão. Após algumas indagações, o novo atendente encaminhou-se ao balcão e pegou um peça. – Aqui está o “retentor” que o senhor precisa! Só então, percebi a fria na qual havia entrado. Tudo por culpa de um “profissional” que trocara o “t” pelo “d”.  Fingi naturalidade e sai da loja com a cara mais corada que um pimentão vermelho. Ainda bem que, até hoje, não me encontrei com o atendente daquela loja.

Esses bombeiros!

Imagem de Andre Mouton por Pixabay