Dona Zica (nome inventado) é uma pacata dona de casa, dessas tantas,
que se multiplicam, nos grotões de Minas. De fala calma e olhar tranquilo
confidenciou-me sua estratégia para livrar-se de um presente de grego, ou seja,
um potro indomado com o qual agraciaram o Zé do Mel, seu marido. O que
aconteceu foi o seguinte:
Zé do Mel que era azedo por natureza, muitas vezes, desafiou
a paciência de Dona Zica. Mas, as mulheres foram agraciadas por Deus para domar
os gênios mais terríveis de alguns homens. Naquelas alturas do campeonato ele
não estava bem de saúde. Como era de conhecimento público a sua paixão por
cavalos, seu sobrinho resolveu presenteá-lo com um potro cor de feijão
queimado. Ao receber aquele presente ele até melhorou um pouco. Quem piorou foi
Dona Zica. Aquele “filhote” de cavalo não servia para nada, além de consumir
parte da renda da família pois, o bicho comia tudo o que via pela frente. Por
pouco, não comeu a saia rodada de Dona Zica que estava enxugando no varal. Foi
depois disso que Dona Zica resolveu executar o seu plano. Conversou com sua filha
Albina, uma bonita mulata, para buscar, em segredo de sete chaves, um comprador
para o potro. E foi assim que apareceu por lá o Zé Toureiro, morador das
margens do Paraopeba manifestando grande interesse pelo animal. Conversa vai,
conversa vem e ele chegou a oferecer mil reais em troca do potro. Aquela
conversa aborreceu Zé do Mel que não queria dispor-se do animal. Para arremate
do assunto pediu o dobro do preço, pois, sabia que Toureiro não dispunha daquela
quantia e nem o animal valia tanto.
Dona Zica poderia ser contratada por qualquer empresário que
necessitasse de uma boa estrategista. Mais uma vez agiu em segredo contando com
Albina, sua filha e aliada para qualquer assunto de interesse da família. A
moça procurou Zé Toureiro e passou-lhe a metade do valor pedido por seu pai
para que ele pudesse adquirir o tal potro. Mas, tudo teria que ser feito
debaixo de sete chaves. E foi assim que aconteceu: No outro dia, bem cedo,
Toureiro apareceu para continuar a negociação. Dona Zica ouvia tudo, da
cozinha, fingindo nada saber. Ao fritar dos ovos Toureiro acabou pagando dois
mil pelo bicho. Aquele foi um negócio da China, na opinião de Zé do Mel. Assim,
que Toureiro se foi ele trouxe o montante do dinheiro e colocou sobre a mesa da
cozinha dizendo: - Viu, mulher, quando a gente quer a gente consegue. Vendi o
potro pelo dobro do preço! Dona Zica rasgou de elogio à sua pessoa: Você é
matreiro Zé. Nunca vi um homem esperto como você! Agora vou depositar o
dinheiro e mais tarde você compra o que quiser com ele. Desse jeito Dona Zica
dispôs-se do cavalo, teve o seu dinheiro de volta, não contrariou o marido e
ainda garantiu a felicidade de Zé Toureiro. Ô mulher danada sô! Zé do Mel, hoje
encontra-se junto de Deus e nunca soube o que, de fato, aconteceu. Morreu
convencido de ter feito um bom negócio. Apenas, se lamentava de ter passado Zé
Toureiro para trás. Bobinho, não?
Dona Zica não é só uma dona de casa, é uma estrategista digna de chefiar qualquer ministério da diplomacia! Enquanto o Zé do Mel achava que estava enganando o Zé Toureiro, quem realmente conduzia o xadrez da situação era ela, movendo as peças com a delicadeza de quem dobra lençol de elástico.
ResponderExcluirZé do Mel morreu acreditando que tinha passado a perna no Toureiro, quando na verdade foi ele quem dançou. Mas dançou feliz, o que já é uma vitória. No fim, o cavalo foi embora, o marido se achou o espertão da roça e Zé Toureiro saiu satisfeito. Só quem não percebeu nada foi o próprio potro, que provavelmente ainda deve estar comendo saias alheias por aí.
Ô Dona Zica, se todas as guerras do mundo tivessem uma Zica no comando, o mundo já estava em paz, bem alimentado e com a roupa lavada e passada.
Que legal... Comendo saias por ai... Obrigado
ExcluirPadre kkk deste texto! O senhor Zé do mel com certeza não era nada doce, e com certeza ranzinza ou seja cabeça dura, tinha mesmo que ser ludibriado pela dona Zica. É assim que deve acontecer quando for difícil o convencimento de um problema, procurar uma saida inteligente.
ResponderExcluirtirando o que não os une e sim o que os separa. Digo também que foi feliz na escolha da música, é o chamado capricho para terminar muito bem o agradável texto.
Muitíssimo obrigado. Dona Zica deve falar alto em cada um de nós...
ResponderExcluirAgora fiquei pensativo será que tenho uma Dona Zica em casa também? Kkkkkk
ResponderExcluirDona Zita é bem resolvida. É isto aí inteligência e capacidade de resolver problemas. Kkk
ResponderExcluirAo ler o texto me identifiquei muito com a Dona Zica, tem muitos Zé do Mel por aí kkkk
ResponderExcluirBem pertinho de nôs kkkk
Excelente exemplo de dona de casa bem sucedida.
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