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sábado, 5 de julho de 2025

O envio dos setenta e dois

 


O Evangelho nos diz que Jesus escolheu setenta e dois discípulos (Lc 10 1- 9) e os enviou dois a dois com as seguintes recomendações:

Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, não cumprimenteis ninguém pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Comei e bebei do que vos servirem. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: O Reino de Deus está próximo de vós!

Jesus já havia chamado os doze apóstolos. Eles formam a base de uma grande construção. A essa construção podemos chamar de Reino de Deus. O Reino de Deus não é uma realidade que começa após a nossa morte. Ele começa aqui e agora toda vez que o bem triunfa sobre o mal, que o perdão supere o ódio e a paz supere as guerras.

Jesus, o enviado do Pai, também chama e envia colaboradores para a missão. Ele diz em outra passagem que “a messe é grande mas que os trabalhadores são poucos”. Messe é colheita e uma colheita necessita de muitos braços. Ela demanda trabalhos no tempo certo pois, o fruto pode passar da hora e a fome pode apertar. Então, é preciso um verdadeiro trabalho em mutirão. Por isso, na missão de construir o Reino de Deus, existem lugares para todos e não, apenas, para um grupinho.

Setenta e dois foram os escolhidos. Mas, esse número, na Bíblia é muito rico de significado. São seis vezes doze e doze é considerado um número perfeito. Doze foram as tribos de Israel, o número dos apóstolos, os meses do ano e as horas do dia... Doze é um número completo. Isso quer dizer que Jesus conta com um número completo de missionários para a tarefa. E essa tarefa demanda certa urgência pois, o fruto pode passar de hora. Por isso, o missionário não deve se distrair com coisas menores, “não cumprimenteis ninguém pelo caminho”, e nem ficar preso às suas tocas ou seguranças pessoais conforme passagem bíblica anterior a de hoje (Lc 9, 57 – 62).

Jesus enviou-os dois a dois para que um pudesse ajudar o outro. Ao que parece, Jesus não gosta muito de missionários que fazem “carreira solo”. Naquele tempo, para que um testemunho fosse considerado válido necessitava-se de duas pessoas. Dois é o princípio da pluralidade e garantida de sinodalidade pois, com uma só andorinha não se faz verão.

Uma vez enviados, eles deveriam ir em todos os lugares e cidades; entrar nas casas e ambientes diversos com a proposta do Evangelho que poderia ser aceita ou não. O Evangelho não deve ser imposição mas proposição. Os setenta e dois receberam a incumbência de pregar no aconchego dos lares e nas praças públicas agindo como ovelhas e não como lobos. Ovelhas não se organizam em matilhas para o ataque. Sendo ovelhas, imitariam o próprio Cristo, Cordeiro de Deus que ofereceu a si mesmo pela nossa salvação.

Jesus não prometeu aos seus missionários uma carreira de sucesso e holofotes. Pelo contrário, preveniu-os para as rejeições e até mesmo perseguições. Afirmou-lhes, que em alguns lugares, não seriam bem recebidos, assim como ele também não foi bem recebido, pelos samaritanos daquele tempo e dos tempos atuais. É bom prestar atenção nesse aspecto. Jesus foi rejeitado pelos seus conterrâneos, pelas autoridades, pelos samaritanos e costuma ser rejeitado, ainda hoje, por muita gente. Quem se dispõe a segui-lo também deve estar preparado para isso, afinal, o discípulo não é maior que o mestre! Ao serem rejeitados deveriam sacudir a poeira dos sapatos. Com esse gesto talvez, provocassem uma reflexão naqueles que os rejeitaram.

Jesus incumbiu os setenta e dois de tarefas muito nobres. Pediu-lhes, que curassem os enfermos. Isso nos faz pensar se, ainda hoje, cumprimos bem esse papel. Vivemos numa sociedade doente, principalmente, de enfermidade psicológica. Há muitos desamparados e abandonados em nosso tempo. O consumo de medicamentos para doenças de fundo emocional é grande. Nosso tempo é marcado pela cultura urbana e a cidade é um lugar de aglomeração de pessoas mas, apesar disso, as pessoas continuam solitárias e tristes. Nunca tivemos tantas possibilidades de comunicação como nos dias atuais. Talvez, precisemos usar melhor esses meios para ajudar as pessoas. Que Deus nos ajude nesse sentido; que ele nos ajude a ser missionários de nosso tempo e não de um tempo que não existe mais!

Imagem: Imagem de Geoff Gill por Pixabay

2 comentários:

  1. Termino de ler e me vem a vontade de rezar esta frase:
    SENHOR FAZEI-'ME INSTRUMENTO DE SUA PAZ.
    É que Jesus nos fortaleça para não distrairmos com os valores do mundo, que estão na contramão dos reais valores de Deus.
    Cumprimento pela escolha das músicas do padre Zezinho, que tem sempre ricas e belas mensagens.

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