Deus indigente
Vivemos atualmente, numa confusão de valores. As pessoas valem pelo que tem e não pelo que são. Para ter mais, então se matam e se m...
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Na roda do consumo é preciso criar necessidades, tarefa da publicidade, e criar também, o produto para satisfação das necessidades criadas. Tudo deve ser alinhado com compra e venda. Até mesmo as festas religiosas correm o risco de servir apenas para “aquecer o mercado”. No Natal, por exemplo, há tempos que a figura do Papai Noel fala mais alto que a figura do Menino Jesus. Para muitos, o natal é uma festa sem nascimentos. Quando muito é festa de bebedeiras, troca de caixas, e carne assada. A musiqueta, então... Prefiro nem comentar.
No natal somos convidados a olhar para o presépio e, bastaria um olhar atento, para que pudéssemos mudar de vida. Quanta simplicidade, meu Deus! Deus que é o Senhor de tudo, criador do céu e da terra tornou-se criança que chora e treme de frio sobre as palhas! Quanto desapego nos olhinhos daquele que tudo fez e que pôs em movimento todo o universo e agora está ali, mendigando pelo nosso amor?
A tentação da riqueza é uma grande inimiga da alma humana, de acordo com Santo Afonso de Ligório. Para vencer essa tentação, segundo ele, Cristo se fez padecente. O desapego deve ser o antídoto contra nossa ambição desmedida! A ganância pelos bens materiais, cega o homem de tal forma, que ele passa a não perceber nada que esteja acima desse horizonte. Por isso, corre o risco de atravessar o natal sem celebrá-lo.
Antes da vinda de Cristo o mundo estava envolvido nas trevas do erro e do pecado. Mas, com Ele a luz brilhou sobre o mundo. Sobre os que andavam nas trevas e no vale das sombras brilhou uma grande luz... Jesus ilumina todos os homens com sua vida e exemplo. Veio até nós, inteiramente pobre, para ensinar-nos o caminho do desapego. Nasceu numa gruta que servia de abrigo aos animais. No céu não conhecia a pobreza, mas na terra a escolheu por companheira. Ainda na infância teve que empreender uma fuga apressada para o Egito. Viveu anonimamente em Nazaré onde nunca passou de Filho do carpinteiro. Ao iniciar a vida pública afirmou: O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. Após a morte na cruz foi sepultado em túmulo emprestado...
Os filhos dos príncipes deste mundo nascem em berços de ouro cercados de cuidados, mas o Filho do dono do mundo nasceu num estábulo entre animais! Como pode, afirmava São Gregório de Nissa, ao Rei dos reis que enche o céu e a terra, não encontrar onde repousar os seus membros vindo ao mundo, senão nessa pobre manjedoura?
Sobre a fuga para o Egito, São Boaventura interroga: Onde achavam alimento? Onde pernoitavam? Onde hospedavam? Mas de que eles podiam nutri-se a não ser de um duro pedaço de pão? Onde se deitavam no deserto senão sobre a terra nua, ao relento ou debaixo duma árvore? Ah! Se alguém encontrasse de caminho esses três nobres exilados, por quem os poderia tomar senão por três pobres mendigos?
Há na terra, sem dúvidas, príncipes compassivos, que gostam de ajudar os pobres. Mas, quem, para ajudar os pobres quis se tornar semelhantes a eles como Jesus? Cristo abraçou nossa pobreza humana para que pudéssemos partilhar de suas riquezas divinas. Imitemos São Paulo, portanto, que chegou a dizer: Para ganhar Cristo considero tudo o mais como lixo!
Imagem de Leonardo Espina por Pixabay
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