Docilidade
É muito comum presenciar certos comportamentos em minha vida. Às vezes, uma pessoa me pede um conselho e se diz disposta a mudar de vid...
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É muito comum presenciar certos comportamentos em minha vida. Às vezes, uma pessoa me pede um conselho e se diz disposta a mudar de vida. Então, após ouvir tal pessoa, tento traçar, juntamente com ela, um planejamento de vida que, quase sempre, está baseado numa disciplina de oração à luz da Palavra de Deus. Feito os acordos combinamos uma data para o retorno da pessoa. Olhe que não foi uma ou duas vezes que isso aconteceu. Aquela pessoa nunca me procura mais para continuarmos a conversa ou orientação espiritual. A que se deve isso? Penso que isso acontece, basicamente por duas coisas: Primeiro, a falta de perseverança e de disciplina na organização da vida, inclusive da vida de oração. Segundo, penso que por falta de docilidade. Mas, o que vem a ser essa docilidade? Vou dar alguns exemplos:
No livro dos Reis (2Rs 5, 9-27) aparece um personagem curioso. Trata-se de Naamãn, general do exército da Síria. Atacado por uma lepra, ele veio de longe, para encontrar-se com o Profeta Eliseu em busca de cura. Ao notar-se que ele se aproximava Eliseu nem sequer foi recebê-lo. Simplesmente ordenou que ele se banhasse sete vezes no Jordão. Diante disso Naamãn teve ímpetos de retornar, pois esperava uma atenção especial do profeta. Afinal ele era uma autoridade e andava muito cheio de si. Seus servos, no entanto, o convenceram a obedecer a ordem do profeta. Então ele banhou-se no rio e foi curado da lepra. Bastou-lhe um gesto de docilidade para que o milagre acontecesse.
Os dez leprosos que tiveram com Jesus (Lc 17,11-14) foram curados no caminho, enquanto obedeciam a ordem de irem ao sacerdote. Paulo aceitou ser puxado pela mão pelos que o conduziram até Ananias após sua queda e conversão na estrada de Damasco. Pedro foi dócil à ordem de Jesus para lançar as redes novamente, mesmo depois de uma noite toda de pesca infrutífera. E olhe que Pedro era um pescador experiente!
Ser dócil à vontade de Deus é despojar-se de si mesmo e das próprias convicções em razão de um chamado maior. Deus não quer pouca coisa de nós. Ele quer tudo. Ele me quer por inteiro e não aos pedaços. Mas, será que ando disposto a ceder uma parte do meu tempo, do meu dinheiro, do meu conforto para Deus? Sou capaz de ser dócil aos seus apelos? Peçamos a Deus a graça de ser como o barro nas mãos do oleiro. Que Ele dê em nós a forma que ele quiser. Assim como Maria, digamos: Eis aqui, o servo do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra…
De nada adianta buscar o sacramento da confissão se não estamos dispostos a ouvir as orientações do conselheiro espiritual. Ele não existe apenas para legitimar nossos comportamentos ou endossar nossas opiniões. Também não adianta esconder nada de um diretor espiritual. Seria como se a gente fosse ao médico com uma dor de cabeça e disser que a dor está no pé. No mínimo, ele vai prescrever um medicamento errado ou não vai acertar no diagnóstico. É preciso que haja uma relação de cumplicidade e de confiança entre conselheiro e aconselhado. Caso contrário, estaríamos apenas perdendo nosso tempo.