Para rezar não é preciso "plantar bananeira"

O que mais existem por aí, são aconselhamentos. Eles recheiam a programação vespertina da TV e as “revistas de consultórios”. Li, numa ...

O que mais existem por aí, são aconselhamentos. Eles recheiam a programação vespertina da TV e as “revistas de consultórios”. Li, numa dessas “raridades” algumas dicas sobre a oração. Vale dizer que, na publicação os termos “rezar, orar e meditar” se confundiam. Achei o tema curioso. O texto faltava pouco mandar a pessoa “plantar bananeiras” para bem rezar. Após ler aquilo pensei que eu mesmo não passaria no teste, em razão dos contorcionismos sugeridos. Depois dos cinquenta, então, a coisa complica mais ainda! Junto esse fato com um pedido que recebi, por telefone, há poucos dias. A pessoa, do outro lado da linha, pedia-me sugestões para rezar mil ave-marias. Admiti para ela que eu mesmo nunca havia rezado desse jeito. Pela minha enorme deficiência em matemática, provavelmente, me perderia antes da primeira metade. Para me consolar vale o que disse Santa Terezinha, a propósito da reza do terço:

“... Sozinha (envergonho-me de confessá-lo), a recitação do terço custa-me mais do que servir-me de um instrumento de penitência... Sinto que o rezo tão mal! Esforço-me em vão por meditar os mistérios do rosário, não consigo fixar o meu espírito... Fiquei durante muito tempo desolada com essa falta de devoção que me espantava, pois amo tanto a Santíssima Virgem que me deveria ser fácil recitar em sua honra orações que lhe são agradáveis. Agora, desconsolo-me menos, penso que a Rainha dos Céus, sendo minha Mãe, deve ver a minha boa vontade e contentar-se com isso”. (História de uma Alma – Manuscrito B, folha 25).

Corremos o risco de procurar mil e uma maneiras de rezar como se a oração fosse algo, totalmente, desprendido da realidade. Para São Vicente de Paulo, a oração não pode colocar a realidade entre parêntese. É preciso estar com um olho no peixe e o outro no gato, ou seja, equilibrar a vida espiritual com o exercício da caridade. Aos seus confrades expunha o que foi chamado “método do Juiz”. Certa vez, um juiz lhe disse:

Mas, sabeis padre, como faço minha oração? Eu prevejo o que devo fazer durante o dia e daí decorrem os meus propósitos: Eu irei ao Palácio da Justiça; tenho tal causa para defender; encontrarei, talvez, alguma pessoa recomendada por alguém de condição que pensará em corromper-me; com a graça de Deus ficarei bem alerta. Pode ser que alguém me faça um presente que muito me agradaria; Oh! Não aceitarei . Se não concordar com alguma proposição, explicarei o motivo delicada e cordialmente. Bem! 

Que vos parece, minhas filhas (falando às Filhas da Caridade) esse modelo de oração? Vós podeis fazer vossa oração dessa maneira, que é a melhor; pois não é preciso se preocupar para ter pensamentos elevados, êxtases e arrebatamentos, que são mais prejudiciais do que úteis, mas só para vos tornar perfeitas e verdadeiramente boas Filhas da Caridade. Vossas resoluções, portanto, devem ser assim: “Vou servir os pobres; preparar-me- ei para ir de maneira modestamente alegre, para os consolar e edificar; falar-lhes - ei como se fossem meus senhores”(Orar 15 Dias com S. Vicente de Paulo – Jean- Pierre Renouard, p. 81).

Numa época, em que se buscam tantas receitas prontas para tudo, no que diz respeito à oração, talvez, fosse interessante, prestar atenção nos exemplos dos santos que marcaram a história. Além disso, precisamos resgatar o silêncio e a sobriedade. Às vezes, agitamos demais o ambiente de oração. Uma coisa é certa. Estamos ficando cada vez mais barulhentos e, infelizmente, vazios...

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