São Vicente e a teia de aranha
São Vicente de Paulo nasceu na França num lugarejo pobre com mais ou menos 50 casas de adobes cobertas de colmos (capins) em 1581, embora el...
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São Vicente de Paulo nasceu na França num lugarejo pobre com mais ou menos 50 casas de adobes cobertas de colmos (capins) em 1581, embora ele mesmo tenha dito ao depor no processo de beatificação de São Francisco de Sales que nasceu “perto de” 1580. Talvez, tenha agido assim, com a piedosa intenção de omitir que tenha se tornado padre muito jovem. Nasceu em Pouy, um recanto esquecido, entre areias e desertos pantanosos onde pessoas e animais costumavam habitar os mesmos casebres. Quatro rapazes e duas moças; eram muitas bocas a serem alimentadas... Por isso, na maioria das vezes, comiam papas de milho miúdo e bolachas de trigo escuro. Carne? – Só raramente comiam. Essa infância pobre iria marcar para sempre a vida daquele “filho de camponês” que, desde os seis anos passou a cuidar dos porcos...
Apesar da pobreza Vicente se destacava pela inteligência. Por isso chamou a atenção de uma pessoa importante de Dax, o Senhor Comet, que era “Juiz da Paróquia”. Pouy ficava a três léguas (18km) de Dax. Graças a ele Vicente entrou para o colégio franciscano e, aos 15 anos recebeu a tonsura (raspagem de parte do cabelo) e as ordens menores. Vocação para o sacerdócio? – Como saber isso de um menino “marchand de soupe”(mercador de sopa, pobretão...) que, à primeira vista, queria apenas fugir da miséria?
No colégio tornou-se um “monitor” de estudantes e tinha que se alojar na casa dos próprios alunos. Venceu as fases preparatórias para o sacerdócio e recebeu a ordenação em 1600 com vinte anos incompletos. Nessa primeira fase do seu sacerdócio o que não faltou foi adrenalina. Muitas vezes, se viu amarrado “na teia de aranha”- a aranha do mundo que a todos costuma prender com seus falsos encantos. Escalou os mais altos picos da nobreza e os porões do sofrimento. Viu de tudo e enfrentou diversos desafios começando pelo enfrentamento de si mesmo. Vivenciou noites escuras da fé, mas acabou alcançando a mais radiante luminosidade.
Em 1605 um triste acontecimento marcou sua vida. Ao voltar de Marselha trazendo um pagamento de difícil resgate foi capturado pelos piratas muçulmanos e juntamente com outros prisioneiros foi vendido como escravo no mercado de Tunis na Tunísia, norte da África. Em duas de suas cartas ( 24/07/1607 e 28/02/1608) ele conta essa experiência, embora não fosse muito dado a falar de si mesmo. Sua discrição ao falar desse incidente talvez se deva ao receio da Inquisição tendo em vista que ele foi comprado por um alquimista e acabou aprendendo muita coisa dessa ciência que antecedeu à química moderna. Os alquimistas eram perseguidos duramente pela inquisição naquele tempo. Como escravo ele pertenceu a esse “médico espagírico” (alquimista) e depois a um colono chamado Guillaume Gautier um antigo monge franciscano que deixou a vida religiosa (era um renegado) em “Nici” ou seja, Annecy. Vicente acabou convencendo esse renegado a voltar para sua antiga fé católica e regressar com ele para a França para ser finalmente absolvido. Assim Vicente retornou, finalmente à França.
O eclesiástico que o recebeu na França o convidou para ir com ele à Roma. Esse foi um tempo feliz na vida de São Vicente. Ele esteve, pessoalmente, com o Papa Paulo V que, segundo comentários, nunca assumidos por Vicente, o Papa o teria encarregado de uma missão confidencial na França. Seja como for, ao retornar ele foi recebido por Henrique IV que o nomeou Capelão da Rainha Margot. Passou a distribuir esmolas aos pobres e visitar hospitais. Na época conseguiu licenciar-se em Direito Canônico. Em 1610 assumiu a Abadia cisterciense de Saint-Leonard-de-Chaumes na Diocese de Saintes. Desde então, suas dificuldades materiais estavam superadas. Mas, outros caminhos a providência divina preparava para ele. Isso, no entanto, será assunto para um próximo texto.
Observação: As informações contidas nesse texto foram extraídas do Livro: A Igreja dos Tempos Clássicos, de Daniel-Rops, Editora Quadrante, SP - 2000 e do Livro: Obras Completas São Vicente de Paulo -Tomo I Correspondência, Editora O Lutador, Belo Horizonte - 2012.