Natal: Deus fora de si

No livro: “Encarnação, nascimento e infância de Jesus Cristo”, de Santo Afonso Maria de Ligório, encontramos a seguinte ideia sobre...


No livro: “Encarnação, nascimento e infância de Jesus Cristo”, de Santo Afonso Maria de Ligório, encontramos a seguinte ideia sobre o tema do natal (parte das palavras são minhas):

Deus ama tanto o homem que após o pecado deste e, sua expulsão do paraíso, Deus se entristeceu. Era como se a felicidade de Deus só fosse completa com a felicidade do homem. E agora? O que farei, pensou Deus, ao ver o homem expulso do paraíso. Que haja um redentor e traga de volta o homem ao meu convívio!

São Bernardo, contemplando esse mistério, julga ver uma contenda entre a Justiça e a Misericórdia de Deus. - Estou perdida, diz a Justiça, se Adão não for punido. Afinal, ele pecou e deve pagar por isso. - Estou perdida, diz por sua vez, a Misericórdia, se o homem não obtiver o perdão. Deus pôs fim a essa contenda no céu: - “Morra um inocente, disse Ele, e salve o homem da pena de morte, em que incorreu”.

Mas, na terra não havia esse inocente. Deus então, procurou no céu, entre todos os anjos alguém que se dispusesse a morrer para resgatar o homem. Mas, mesmo no céu, nenhum anjo se dispôs a tamanho sacrifício. Achavam que não valia a pena. Só encontrou o Verbo Eterno que disse ao Pai: - “Eis-me aqui, envia-me! E o Verbo continuou: - Meu Pai, uma pura criatura, um anjo, não poderia oferecer a vós, Majestade infinita, uma digna satisfação pela ofensa recebida do homem. E mesmo que vos quisésseis contentar com uma tal reparação, pensai que até esta hora nem os nossos benefícios, nem as nossas promessas e ameaças conseguiram convencer o homem a amar-nos. É que ele ainda não sabe a que ponto nós o amamos; se quisermos obrigá-lo a amar-vos infalivelmente, eis a mais bela ocasião que possamos ter: - Eu, vosso unigênito Filho, encarregar-me ei, de resgatar o homem perdido. Descerei à terra, tomarei um corpo humano, morrerei para pagar a pena que ele deve à Vossa Justiça; esta será assim, plenamente satisfeita e o homem se persuadirá do nosso amor para com ele.

Mas, pensa bem, meu Filho, disse o Pai Eterno. Indo à terra terás que levar uma vida cheia de trabalhos e dores; nascer numa gruta que serve de estábulo para animais; ser perseguido, preso e morrer abandonado entre malfeitores… Não importa, disse o Filho ao Pai. Envia-me. Estou disposto a tudo isso, se for para trazer o homem de volta e convencê-lo de nosso amor por ele.

Então o decreto do Pai foi lavrado no céu. Seu Filho se faria homem para ser o Redentor de todos os homens. Ao Anjo Gabriel coube a tarefa de anunciar essa decisão a uma simples e pobre mulher de Nazaré da Galileia. O nome da Virgem era Maria. E foi assim que tudo começou…

Pois é. Está aí uma bela reflexão sobre o Natal, esta festa que mostra-nos até onde Deus foi capaz de chegar para provar que nos ama. Saiu de si mesmo e, completamente fora de si, veio ao nosso encontro. Desceu do céu para nos ensinar os caminhos de volta ao céu. Esvaziou-se de sua grandeza para nos ensinar os caminhos da simplicidade. Saiu de si, para livrar o homem do egoísmo que mata a fraternidade. Veio em busca da ovelha perdida e faz uma festa ao encontrar-se com apenas uma dessas ovelhas.


Natal é festa de amor. Mas, não de um amor qualquer e sim um amor que tem as medidas de Deus: Infinito, verdadeiro e duradouro. Celebrar o natal é comprometer-se com esse amor. É entrar na dinâmica de Deus. Ele esqueceu-se de si mesmo por causa de nós. Nós devemos ir ao encontro do outro. Esse outro, às vezes mora conosco, debaixo do mesmo teto. Pense nisso!

Foto: https://pixabay.com/pt/illustrations/natal-%C3%A1rvore-de-natal-f%C3%A9rias-blue-2928142/

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