Senhor Bom Jesus

A primeira imagem que me vem à cabeça, ao falar do Senhor Bom Jesus é a estampa de um santinho que era distribuído em Congonhas. Naquele tempo, eu pensava que “Congonhas do Campo” tinha distância do planeta Marte... Eu mesmo só conheci a Cidade depois de padre.  Tudo parecia muito longe para minha realidade de menino pobre, embora, alguns romeiros fossem à cavalo para visitar a Basílica. Hoje, patrimônio Cultural da Humanidade, o Santuário Senhor Bom Jesus ainda continua irradiando fé e devoção pelas estradas de Minas. O esplendor do Santuário Senhor Bom Jesus de Matosinhos é acompanhado, no seu conjunto, pela Basílica, os profetas do Aleijadinho, as Capelas dos Passos, a Capela do Santíssimo e a Sala dos Milagres.

Tudo começou com a devoção de um português pelos idos de 1700, quando, para pagar uma promessa, desejou edificar uma igreja ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Matosinhos é uma Cidade Portuguesa. A Capela-mor ficou pronta em 1765 e a imagem do Senhor Bom Jesus foi importada de Portugal. A partir de então, criou-se grande devoção ao Senhor Bom Jesus.

Hoje essa devoção é muito popular no Brasil e a festa costuma ser celebrada em datas diferentes. Desde o Séc. XIII, os frades franciscanos divulgam o culto do Bom Jesus. Mais tarde, os Jesuítas começam a celebrar a festa do Bom Jesus em primeiro de janeiro, dia da circuncisão. O mais antigo Santuário do Bom Jesus no Brasil é o de Bom Jesus de Iguape, em Iguape, no Estado de São Paulo e representa Bom Jesus da cana verde, pois a imagem é representada com um caniço verde nas mãos.

A grande devoção popular no período colonial segundo o professor Riolando Azzi foi a devoção ao Bom Jesus, destacando-se no culto quatro etapas da paixão de Cristo:

A, Flagelação no pretório de Pilatos (a imagem do Sr. Bom Jesus é representada amarrada a uma coluna. Esse é o caso do Bom Jesus da cana verde)
B, Os últimos passos de Jesus (Senhor Dos Passos). A imagem representa Jesus com a Cruz nas costas. Essa imagem é usada  durante a “procissão do encontro” na semana santa.
C, Senhor do Bonfim. Jesus é representado na Cruz.
D, Senhor Morto. A imagem mostra Jesus no esquife. Essa imagem também é muito usada entre nós na “procissão do enterro” da sexta-feira da paixão.

Os santuários dedicados ao Bom Jesus se espalharam muito no Brasil no período colonial. Alguns mais conhecidos são: Bom Jesus de Pirapora, Bom Jesus da Lapa, Bom Jesus de Tremembé, Bom Jesus de Congonhas, Senhor do Bonfim...

A partir do Sec. XIX, os bispos brasileiros, com a colaboração de institutos religiosos vindos da Europa, decidiram substituir, aos poucos, o culto do Bom Jesus, pela devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Também esse culto celebrava a morte de Jesus na cruz, onde o seu coração fora transpassado pela lança. Mas, acentuava que a melhor forma de homenageá-lo era mediante a recepção dos sacramentos, verdadeira fonte da graça divina. Esse foi o desejo expresso do Coração de Jesus em sua aparição a Santa Margarida Maria de  Alacoque no Séc. XVII. Assim, a Igreja incentivou a participação nas missas e recepção da Sagrada Comunhão nas primeiras sextas-feiras.

Na Diocese de Divinópolis temos duas Paróquias dedicadas ao Senhor Bom Jesus (Divinópolis e Pedra do Indaiá) e duas dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus (Itaúna e Conceição do Pará). Em toda a Diocese temos inúmeras capelas dedicadas ao Bom Jesus, ao Sagrado Coração de Jesus e uma dedicada ao Coração Eucarístico de Jesus, na Cidade de Cláudio.

Na Paróquia Santo Antônio, em Pará de Minas, temos uma Capela dedicada ao Senhor Bom Jesus. Ela está situada na Comunidade de Bom Jesus do Pará, povoado que fica entre Pará de Minas e São José da Varginha. A imagem do padroeiro representa o Senhor Morto e a festa do padroeiro acontece em 14 de setembro, dia da Exaltação da Santa Cruz. Nesse ano de 2017, a Capela passa por reformas que deverá ser concluída para a festa do padroeiro.

Que o Senhor Bom Jesus nos abençoe e nos dê coragem de imitá-lo no seu grande amor por nós! Que o nosso coração seja, de fato, semelhante ao dele, incapaz de guardar ódio ou rancores. O amor por ele nós já temos desde o surgimento do Brasil. Amém.

Obs: Esse texto foi escrito tendo como base as anotações pessoais e as informações contidas no Dicionário da Religiosidade Popular de Frei Chico.