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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares/ Reprodução 
Há uma data no Brasil que não pode ser esquecida. Trata-se do dia 20 de novembro. Nesse dia relembramos a morte de Zumbi dos Palmares, que aconteceu em 1695. Ele foi um dos principais líderes do Quilombo de Palmares, em Alagoas, uma área usada pelos escravos para fugir da opressão. Nesse dia celebramos também o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data deveria ser lembranda com ações afirmativas que  questionassem o racismo, os preconceitos e discriminações.  As escolas poderiam aproveitar a ocasião para muitos debates e trabalhos com os alunos.  Nos meios de comunicação nem sempre isso é possível. Basta ver como os negros são, tradicionalmente, representados nas telenovelas brasileiras!

Para falar de Zumbi é preciso considerar muitos aspectos ligados à História do Brasil e ao sistema colonizador que se implantou por aqui. Os escravos africanos forçados a deixarem o seu país chegaram por aqui como força de trabalho. Nada mais importava que seus músculos sadios para movimentar as lavouras e mineração. Ninguém perguntou pela sua cultura, língua, religião ou coisa parecida. Aliás, esses componentes deveriam ser negados para o bom andamento do sistema.
Em 1680, Zumbi assumiu a liderança do Quilombo de Palmares, antes liderado por seu tio. Fortaleceu a segurança do Quilombo de maneira geral. Ele sabia que, apesar de um tratado de paz assinado, anteriormente, com os representantes de Portugal, acabaria por ter novos problemas. Foi o que acabou acontecendo. O tratado de paz foi assinado em 1678. Em 1694, um grupo de soldados comandados por Domingos Jorge Velho, investiu contra o Quilombo. Mas, foram rechaçados. Ainda naquele mês (janeiro) tentaram mais uma vez invadir Macacos a capital de Palmares na Serra da Barriga. O governo português estava mesmo disposto a destruir o Quilombo. Para isso organizou um exército de 11 mil homens. Nunca se viu isso na história durante o período colonial! O comando desse exército ficou para um grande dono de terras, Fernando Bernardo Vieira de Melo, ajudado por Sebastião Dia Mineli e o bandeirante Domingo Jorge Velho. Com auxílio de canhões, outras armas e munições Palmares acabou sendo vencido.

Na noite de 06 de fevereiro de 1694, os canhões de Portugal cuspiram fogo sobre os quilombolas destruindo aquele reduto de resistência. Zumbi escapou com vida. Tinha 39 anos. Era coxo em razão das inúmeras batalhas combatidas.  Sua cabeça foi colocada a prêmio pelo governo. Foi delatado por um de seus companheiros que havia sido preso, Antônio Soares, que acabou revelando, sob tortura, o paradeiro do amigo.  Ele sabia o esconderijo de Zumbi. Por isso, o procurou na Serra, ironicamente, chamada de “Serra dos dois Irmãos”  e o apunhalou na chegada.  Os invasores que estavam escondidos abriram fogo e assassinaram todos os companheiros de Zumbi. Zumbi ainda lutou bravamente, mesmo estando ferido, até cair morto nas mãos assassinas dos bandeirantes paulistas na manhã do dia 20 de novembro de 1695. Seu corpo foi levado para a Cidade de Porto Calvo e apresentado aos oficiais da cãmara. Depois de lavrado o auto do reconhecimento sua cabeça foi decepada e enviada para Recife. Ali ela ficou sob sol e chuva anos a fio para servir de exemplo contra futuras rebeliões.

Como podemos constatar pela existência dos Quilombos, a escravidão não foi pacificamente aceita por suas vítimas. Muitos só não lutaram porque não havia a menores condições para isso. Infelizmente, optaram pelo suicídio ou, simplesmente, adoeceram. Entraram em “banzo”, uma espécie de depressão própria daqueles que foram arrancados, violentamente,  de seus familiares. Celebrar o dia 20 de novembro é recordar que o Brasil tem uma dívida histórica com os negros. Foram milhões que derramaram o sangue para a “mãe gentil” e, muitos ainda são esquecidos, ocupam sub-empregos ou estão desempregados. Está comprovado que a violência e a falta de escolaridade atingem mais os negros do que os brancos. Precisamos de novos Zumbis, que ergam a voz em defesa de um grupo que, ainda hoje, sofre as conseqüências de um passado que não escolheram.
E viva São Benedito!

Observação: Para escrever esse texto consultei o Livro: Zumbi dos Palmares, de Marcos Antônio Cardoso e Maria de Lourdes Siqueira. Maza edições, Belo Horizonte, 1995.


2 comentários:

  1. Passdos mais de trezentos anos de sua morte, a luta continua. A invisibilidade do negro em muitos setores da nossa sociedade ė real e preocupante.precisamos de novos Zumbis para lutar em favor desse povo tão sofrido. Belo texto, parabéns padre.

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  2. Muito bom relembrar nossa verdadeira história que tem muita pouca enfáse em nossa sociedade atual. Eu pessoalmente fico muito indignado com a injustiça que é o Brasil hoje. Precisamos de muitos quilombolas de palmares hoje. Um abraço Pe.Gabriel

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