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segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Mulher com cheiro de peixe

Dificilmente alguém não aprecie um peixe frito com arroz. Se tiver umas gotinhas de limão fica melhor ainda. Mas, nem todos suportam o cheiro do peixe no momento de prepará-lo. Agora imagine você, o que significa carregar esse cheiro eternamente no corpo. Pois é. A mãe de Vyassa, autor lendário de “O Mahabharata” um clássico indiano, era assim. Por causa de uma fatalidade nunca deixava de exalar o cheiro de peixe. Mas vamos devagar com a história...

Certa vez, havia um rei que queria muito ser pai. Um dia, durante uma caçada acabou dormindo no meio da mata.  De tanto pensar na esposa acabou ejaculando durante o sono. Ao acordar viu seu esperma sobre as folhas e não perdeu tempo. Pediu a um falcão que voasse o mais depressa possível e levasse “o material” para ser inoculado em sua esposa. Assim ganharia tempo para realizar o seu sonho de ser pai. Durante a viagem o falcão foi atacado por outro falcão mais forte do que ele. Nesse instante, o esperma do rei caiu num rio profundo e foi parar no ventre de um grande peixe. Depois de certo tempo, nasceu das profundezas do rio uma linda mulher que foi chamada Satyavati.

Satyavati apesar de, extremamente, linda, não conseguia arranjar namorado, pois carregava consigo, um eterno cheiro de peixe. Esse mau cheiro espantava todos os seus pretendentes. Não era pra menos! Certo dia, apareceu por ali um eremita errante e interessou-se pela pobre moça. Ele também estava carente e necessitava de alguém. Então, disse à moça: - Tu me agradas. Façamos amor aqui, agora mesmo, e de teu horrível cheiro eu farei o mais precioso perfume... A jovem assustou-se com aquela proposta inesperada. Considerou tudo, rapidamente,  e disse que não iria conseguir ter relações com ele à luz do dia. O eremita resolveu o problema. Transformou o dia em intenso nevoeiro. Assim, ela não precisava ter vergonha de ficar com ele. Ao terminar a relação Satyavati perdeu o cheiro de peixe e ganhou um suave odor que atraia todos. O filho da relação que aconteceu durante esse nevoeiro foi chamado Vyassa. Ele é o autor lendário  de “O Mahabharata”.

Sobre esse mito de origem os pensadores quebram a cabeça. É claro que sob uma história, aparentemente, inocente, se escondem grandes verdades sobre o homem. Esse nascimento, de alguma forma lembra-nos o nascimento de Vênus, a deusa do amor que também surgiu das profundezas do oceano. Há quem diga que o amor já nasce carregado de mistérios. Tais mistérios são, sempre, incompreendidos pela razão. Santo Agostinho dizia que “o coração tem razões que a própria razão desconhece...”. Simplificando, imensamente, a questão afirmamos: O amor é cego!

A palavra “amor” tem diversos sentidos. Pode significar caridade, doação, filiação, ou sexo. Nesse caso, deixa de ser ágape ou filia para ser Eros. Parece que o amor para ser perfeito precisa vir das alturas e se unir com  o que vem de baixo. Talvez, por isso mesmo Deus não se envergonhou de nossa pobre condição e quis nascer em nosso meio.

Há no amor uma dimensão de mistério. Afinal, quem consegue explicar, racionalmente, nossas escolhas e preferências? Por isso, o amor não vive sem o nevoeiro. Vyassa é o resultado desse encontro de algo que vem do alto e algo que vem, das profundezas do rio...

O amor é capaz de amansar e transformar os corações. Só ele faz o homem enxergar o mundo cor de rosa e em forma de coração. No encontro amoroso até cheiro de peixe se transforma em perfumes. Se em nosso mundo sobra mau cheiro, talvez seja falta do amor. Aliás, nós os cristãos devemos por missão, levar ao mundo inteiro o “suave odor de Cristo”...

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