“... ofereci o queixo aos que me queriam arrancar a barba e não desviei o rosto dos insultos e escarros...”
O texto é profundo e faz a gente pensar muito. O que significa oferecer o queixo aos inimigos? Quem seria esse “Servo Sofredor”? Que mensagem o texto quer nos passar?
Estamos diante de um texto do segundo Isaías (Is 40-55), escrito nos tempos do Exílio da Babilônia (Séc VI a C). No exílio, envolto em sofrimento, o povo questiona as razões desse “aparente” abandono de Deus. A passagem bíblica em questão pertence a uma seção maior que vai do Capítulo 49 a 55 e tem como tema central a restauração de Jerusalém, cidade-esposa de Javé. O exílio não foi resultado do abandono de Deus, pois Ele é fiel. Então, só pode ser resultado da infidelidade do povo. Uma vez exilado o povo terá que aprender com a dor. A missão do Servo Sofredor é mostrar que apesar da dor, dos insultos e cusparadas ele confia em Deus e sabe que Deus não o decepcionará.
Quanto à figura do Servo Sofredor, ela comportou ao longo da história diversas interpretações: Alguns pensam ser ele um sujeito de fato, que permaneceu fiel mesmo sob as mais diversas humilhações. Outros pensam que esse Servo, na verdade, é o povo de Deus em provação nos tempos do exílio. Há também aqueles que veem nessa figura do Servo, uma imagem antecipada de Jesus que, mesmo inocente, suportou as humilhações, sem trair seu propósito de obediência ao Pai.
Uma coisa é certa: - o Servo esquece-se de si mesmo e permanece indiferente aos insultos porque está focado só em Deus. Em vez de oferecer resistência ele parece colaborar com quem o maltrata: Ofereci o queixo a quem me arrancava à barba... Arrancar a barba, na Bíblia, era um gesto de terrível humilhação. Entre os judeus e de maneira geral no oriente, sempre atribuíram grande importância à barba. Arrancar um fio da barba correspondia ao peso de uma palavra dada, durante uma negociação. O Servo tem o rosto duro como as pedras! O rosto é por onde mostramos nossas emoções. Ter o rosto pedrado é não esboçar emoções de dor ou sofrimento.
O texto não fala de outros rostos como, por exemplo, o rosto de quem arrancava a barba do Servo. Talvez ele esboçasse sadismo ou também estivesse pedrado. Quem desfigurou o rosto de Jesus, certamente, expressava muito ódio no próprio rosto. Que expressões estariam nos rostos de quem torturou, estuprou e matou? Prefiro nem imaginar a fisionomia do mal encarnado!
O comportamento do Servo Sofredor chamado Jesus, me incomoda demais! Incomoda-me sua atitude não violenta diante do mal. Por muito menos eu teria reagido. Pedro não fez, exatamente, isso ao cortar a orelha do soldado? Assim como aconteceu com São Pedro, sei que tenho muito que aprender.
Para agir de forma violenta não precisamos fazer cursos. Basta ver o que acontece em torno de nós. Nossa sociedade está se tornando cada vez mais intolerante. Por muito pouco se agride e por menos ainda se mata. A mansidão do Servo Sofredor chama nossa atenção. Talvez fizesse muito bem a todos nós contemplarmos mais o comportamento dele. Ele oferece o queixo não porque seja bobo, mas porque não usa as mesmas armas. Confia em Deus e sabe que Deus não irá desampará-lo. Ainda que lhe deem uma cruz ele sabe que ela poderá ser transformada, pois pelo amor tudo pode ser transformado. Imitar o Servo Sofredor é convite desafiador.
Pense nisso!
Imagem de StockSnap por Pixabay
Profundo padre,bom dia, ótimo final de semana para o senhor.
ResponderExcluirGostei demais.Parabens padre.
ResponderExcluirDiante deste exemplo e de todo o resto do mundo, sabemos então que precisamos ser fortes e verdadeiros a cada instante e a cada situação. Realmente a verdadeira fé e amor em Deus é para poucos. Que pena o mundo mostra isso.
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