Os deuses a serviço do diabo
Pois é. O improvável aconteceu mesmo. No universo indiano o que não faltam são deuses. Eles são imortais embora, muitas vezes, impotent...
https://ggpadre.blogspot.com/2018/12/os-deuses-servico-do-diabo.html
Pois é. O improvável aconteceu mesmo. No universo indiano o
que não faltam são deuses. Eles são imortais embora, muitas vezes, impotentes.
Por uma concessão de Brama que, naquelas alturas tinha mais poder do que Indra,
o diabo Havana conseguiu muitos privilégios, inclusive o poder de não ser
exterminado pelos deuses ou diabos. Por incrível que pareça, os próprios deuses
o serviam. Agni, o deus do fogo aquecia os fogões de sua cozinha; Vayu, o deus
dos ventos, varria-lhe os pátios de
Lanca, a Ilha de Havana; Varuna, senhor das águas, fornecia vinhos para sua
corte. O sol alumiava a sala de Havana e a lua os seus jardins. Viswakarman, o
deus “arquiteto do universo” permanecia de braços cruzados. Havana abusava de
seu poder e tentava a todos. Devorava a
comida dos sacrifícios nos altares e brincava na fumaça dos incensos.
Literalmente, o diabo estava solto, naquele tempo! Hoje ele fica solto só de
vez em quando, pelo que parece.
Morava em Kosala, norte da Índia, um rei muito piedoso e justo que se chamava
Dasaratha. Era o rei de Ayodhya. Já estava um pouco idoso para realizar seu
grande desejo de ser pai. Somava sessenta mil anos de idade e, naquele tempo,
não havia Viagra... Sem saber o que fazer procurou o Sacerdote Vasishtha, quase
sempre sobra para os sacerdotes, e
pediu-lhe que intercedesse junto aos deuses para que ele pudesse ser pai. Logo
em seguida o cocheiro do rei transmitiu essa notícia às três esposas que o rei possuía:
Kaushalya, Sumitra e Kaikeyi, a mais
jovem delas. A partir de então, cada uma das esposas fazia de tudo para ajudar
o rei a realizar o sonho de ser pai.
Lá no céu, Indra ouviu as preces do sacerdote Vasishtha e
quis ajudá-lo embora já estivesse velho e sem forças. Então recorreu ao
poderoso Narayana, o Senhor Vishnu. Os dois deuses beberam uns tragos de soma,
uma bebida indiana e se alegraram. Mas, Vishnu, disse que não poderia ajudá-lo
para não comprar inimizade com Brama. Mas, como Narayana era muito sábio
estudou bem a sentença antes aplicada a Havana, por Brama e constatou que ele,
o diabo poderia ser vencido. Na verdade ele não poderia ser morto pelos deuses,
mas poderia ser morto por um homem. Foi então que Indra, de comum acordo com
ele decretou que ele nasceria na terra acompanhado de sua esposa Lakshmi que
também seria transformada numa mortal e teria o nome de Sita. Narayana, por sua
vez seria chamado de Rama e seria um príncipe humano para derrotar o diabo
Havana. Depois dessa decisão o Rei Dasaratha teve quatro filhos: O filho de
Kaushalya foi Rama, os filhos de Sumitra foram Lakshman e Shatrughna e o filho
de Kaikeyi foi Bharata.
O que foi dito acima é parte de um clássico indiano chamado
Ramyana. A narrativa trata da formação do povo indiano com suas lutas, lendas e
sonhos. Começou a ser escrito cerca de 200ª.C e terminou 200d.C. É um conjunto
de histórias dentro da mesma história que acaba revelando princípios morais e
questões religiosas presentes, ainda hoje no imaginário indiana. O Príncipe
Rama é modelo de virtude e boa conduta. Mesmo lutando contra as forças
demoníacas ele vence e consegue arrebatar o seu grande amor, Sita, do poder de
Havana o diabo que a havia sequestrado. Na história o que se trava é uma luta
do bem e do mal, coisa própria do interior de cada ser humano. Isso faz com que
o Ramayana (Caminho de Rama) seja, profundamente, atual. Quem não luta contra
os próprios demônios que querem nos roubar de nós mesmos? A princesa Sita
transforma-se num horizonte idealizado que nos atrai e ao mesmo tempo foge de
nós. Para se chegar até ele temos que vencer os próprios abismos. A odisseia de
Rama fala muito da história de cada um de nós!